Volta do uso de máscaras em escolas do Ceará: saiba o que dizem especialistas e gestores da educação

Recomendação do retorno das máscaras no ambiente escolar é defendida por profissionais e pesquisadores de saúde

A desobrigação do uso de máscaras em ambientes fechados no Ceará nem completou 2 meses e já retornou como recomendação. Num cenário de aumento de doenças respiratórias em crianças e adolescentes, especialistas avaliam que a medida deve ser, sim, adotada nas escolas.

Em decreto estadual publicado neste sábado (11), o Governo do Estado cita, especificamente, as instituições de ensino. "Recomenda-se à população o uso de máscaras de proteção nas escolas, em ambientes fechados e em ambientes abertos com aglomeração", diz o documento.

A reportagem contatou, ontem (10), as Secretarias de Educação do Ceará (Seduc) e de Fortaleza (SME) para saber qual será a orientação às instituições públicas. As Pastas informaram que aguardavam a publicação dos decretos estadual e municipal para definir os próximos passos.

Já o Sindicato dos Estabelecimentos de Educação e Ensino da Livre Iniciativa do Ceará (Sinepe), que representa as escolas privadas, afirmou que a recomendação do uso de máscaras é uma das pautas de uma reunião de diretoria a ser feita na segunda-feira (13).

Apesar disso, a entidade confirmou que "antes mesmo da recomendação do Governo do Estado, algumas escolas já tinham saído na frente" e voltado a indicar a utilização da proteção facial. Pelo menos 4 instituições de Fortaleza associadas ao Sinepe emitiram comunicados internos com a orientação.

Covid e outras doenças exigem máscaras

Para Michelle Pinheiro, infectologista pediátrica do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), com a alta de casos de síndromes gripais, “recomendar nunca é demais”. “Se o filho está na faixa etária que aceita máscara, você pode conversar com ele e mandá-lo de máscara”, diz.

A médica lembra que essa é uma forma de proteção coletiva não apenas contra o coronavírus, mas outros vários vírus respiratórios, principalmente em ambientes fechados e com muitas pessoas, como as salas de aula.

Se houver uma pessoa infectada por um vírus respiratório ou numa fase pré-sintomática, ela pode disseminar aos outros de maneira mais fácil, porque não tem uma corrente de ar. É a maior preocupação de todo ambiente fechado.
Michelle Pinheiro
Infectologista pediátrica

Voltar a reforçar outras medidas preventivas – como higienização das mãos, evitar aglomerações e não entrar em contato com outras pessoas em caso de sintomas gripais – também é fundamental, além das máscaras e de vacinação, como cita Michelle.

“Estamos na 3ª dose da vacina da Covid pros adolescentes, que é super importante para aumentar a imunidade; e quem não vacinou as crianças, faça isso. Além de garantir a vacinação anual da gripe. A melhor forma é prevenir”, destaca.

“É preciso usar máscaras de qualidade”

A epidemiologista Lígia Kerr, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), é categórica ao afirmar que “alunos, professores, funcionários e demais profissionais já deveriam estar usando máscaras – e de boa qualidade, como PFF2 e N95".

“Existem máscaras assim para crianças também. Ao mesmo tempo que podem melhorar a proteção, elas têm o inconveniente de serem mais caras e de mais difícil acesso. Mas vale lembrar que toda máscara é melhor do que estar sem máscara”, frisa.

A pesquisadora alerta ainda para a alta transmissibilidade da variante Ômicron, que, atualmente, é a que domina os testes positivos para a Covid. As sub variantes dela, aliás, se mostram ainda mais transmissíveis – pondo, principalmente, as crianças em risco.

A carga viral da Ômicron é mais elevada e faz as crianças se tornarem mais suscetíveis. Acrescente-se a isto o fato de que elas são parte do grupo que menos está vacinado com as duas doses contra a Covid.
Lígia Kerr
Epidemiologista

Lígia explica que “as variantes que estão circulando e produzindo um aumento na positividade dos exames passam pela nossa imunidade causada pela vacina ou pela própria doença”, e os efeitos disso ainda seguem sendo estudados.

Assim, o ideal é não apenas utilizar máscaras preferencialmente PFF2 e N95 em ambientes fechados, como as salas de aula, mas garantir a imunização completa contra a Covid e outras doenças imunopreveníveis.

“Precisamos levar nossas crianças e adolescentes para tomar o esquema completo preconizado para a faixa etária deles. E logo deveremos ter a Coronavac, vacina muito segura e efetiva, no grupo das crianças, disponível na rede pública”, projeta.

Reforço a importância do uso das máscaras e também da vacinação completa para os professores e demais profissionais da área de educação, incluindo aqueles que colaboram no ambiente escolar e que não são professores.
Lígia Kerr
Epidemiologista

Cenário da Covid no Ceará

A quantidade de testes de Covid com resultado positivo no Ceará tem aumentado, nas últimas semanas, atingindo a maior porcentagem desde a grave 3ª onda, em janeiro, como mostra o monitoramento do Integra SUS, plataforma da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

Em janeiro, a chegada da variante Ômicron fez a positividade de testes chegar a incríveis 47%: dos mais de 446 mil exames com resultado definido, quase 210 mil deram positivo. Em fevereiro, a taxa caiu para 36%, com 54.903 casos confirmados.

Em março, 2.605 dos 47,7 mil testes de Covid feitos deram resultado positivo, uma taxa de 5,5%. O índice se manteve em abril, que registrou 25,5 mil testes, dos quais 1.140 positivos.

Já em maio, a taxa de positividade voltou a subir, atingindo 8,5%: de 21 mil exames feitos, 1.789 diagnosticaram a doença. Neste mês, até o dia 10, já foram realizados 6.765 testes de Covid, e 1.337 deram positivo: uma taxa de quase 20%.