A umidade e as aglomerações motivadas pelo período de chuvas favorecem a disseminação de doenças de fácil transmissão, dentre elas a chamada “virose da mosca” - nome popular para um conjunto de gastroenterites agudas. Se pegar a infecção uma vez já enfraquece o organismo, sucessivas vezes acendem um sinal de alerta.
O Diário do Nordeste conversou com médicos para explicar por que uma pessoa pode ter a enfermidade várias vezes e quais são as principais formas de prevenção. Os cuidados devem ser redobrados com crianças e idosos, populações mais vulneráveis ao agravamento da desidratação provocada pela virose.
De janeiro ao dia 11 de março deste ano, o Ceará já notificou oficialmente 46.756 casos de doença diarreica aguda (DDA), outro nome da doença. O dado é da Planilha de Notificação Semanal da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O número é semelhante ao mesmo período de 2022, quando houve 47.267 ocorrências até 12 de março.
O médico Francisco José, infectologista do Hospital São José (HSJ), explica que “virose da mosca” é um termo popularizado que inclui doenças causadas por diferentes vírus (como enterovírus, norovírus, astrovírus e outros) e que se manifestam com quadros associados ao trato gastrointestinal.
Ainda segundo ele, é possível apresentar novos quadros justamente por causa da diversidade de agentes causadores.
Cidades, das 184 no Ceará já registraram casos da virose da mosca. Apenas Arneiroz e Mucambo aparecem com registros zerados, até a última atualização.
O gastroenterologista Diego Baima também destaca que "virose da mosca" não é um termo médico oficial e reitera que é uma expressão popular que se refere “a uma série de doenças virais que podem ser transmitidas por moscas ou outros insetos”.
“Cada uma dessas doenças tem sintomas e gravidades diferentes, e podem afetar diferentes partes do corpo, causando sintomas de dores no corpo, febre, fraqueza, enjoos, diarreia, entre outros”.
Transmissão e possibilidade de recorrência
Nesse período, a umidade da chuva também facilita a reprodução dos insetos - não apenas moscas - capazes de contaminar alimentos e água ao transportarem os microrganismos causadores. Porém, isso também pode acontecer através das mãos da própria pessoa.
Esse tipo de virose é contagiosa e os médicos ressaltam que mesmo se uma pessoa infectada não estiver mais apresentando sintomas, ela ainda pode transmitir o vírus por um período adicional de alguns dias.
O gastroenterologista Diego Baima destaca também que a prevenção “é a chave para evitar a infecção por essas doenças, e as medidas preventivas incluem evitar áreas com muitos insetos, usar roupas protetoras, repelentes de insetos e eliminar os criadouros de mosquitos”.
Questionado sobre se é possível uma pessoa apresentar quadros sucessivos da doença em pouco tempo e como isso enfraquece o organismo, Diego esclarece que é a situação pode ocorrer, principalmente, “quando uma pessoa é infectada por diferentes cepas do mesmo vírus. Isso acontece porque cada cepa viral apresenta características únicas que podem desafiar o sistema imunológico da pessoa e torná-la suscetível a uma nova infecção”.
O médico destaca que, quando o organismo é infectado pelo vírus, o sistema imunológico começa a tentar combatê-lo, tentando impedir que se espalhe pelo corpo.
“Uma pessoa infectada por uma cepa específica pode estar protegida contra essa cepa em particular, mas ainda pode ser vulnerável a outras cepas virais”, completa.
Quando a pessoa é infectada por outra cepa do mesmo vírus, o sistema imunológico, detalha o médico, “terá que produzir novos resistentes para combater essa nova cepa. Isso pode ser um desafio para o sistema imunológico, especialmente se uma pessoa já estiver enfraquecida pela infecção anterior”.
Sintomas
Entre os sintomas mais comuns da virose da mosca, estão:
- náuseas
- vômitos
- febre
- diarreia
- dor abdominal
Outro sintoma grave é a desidratação, cujos sinais de alerta incluem sede, boca seca, sonolência ou cansaço excessivo, pele seca, dor de cabeça, prisão de ventre, tonturas e diminuição da produção de urina.
Os sintomas geralmente aparecem entre 1 e 3 dias após a exposição ao vírus e podem durar de 3 a 7 dias.
Como tratar?
Os médicos alertam que o paciente deve se manter bem hidratado e não tomar medicamentos por iniciativa própria, principalmente antibióticos.
“O uso de antibióticos de forma inadequada pode acarretar piora do quadro clínico, pois o próprio uso deles pode acarretar vômitos e diarreia”.
Ao primeiro sinal de manifestação dos sintomas, o paciente deve procurar o posto de saúde ou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima de casa.
O gastroenterologista Diego Baima destaca que é “importante entender que a virose da mosca é causada por um vírus e, portanto, os antibióticos não são eficazes no tratamento da doença. Os antibióticos são usados para tratar bactérias bacterianas e não costumam ter efeito sobre vírus”.
Ele também chama atenção para as consequências negativas da automedicação que “pode levar a efeitos adversos, como reações alérgicas e intoxicação. Isso pode ser particularmente inadequado para pessoas com condições de saúde prévias, como doenças cardíacas, doenças renais ou diabetes”.
O tratamento adequado para a virose da mosca, explica, “envolve hidratação adequada e medicamentos para aliviar os sintomas, como febre e dores musculares”.
Prevenção
Minimizar os riscos de infecção pela virose da mosca significa replicar ações já aprendidas durante a pandemia da Covid-19, outra doença prevenível a partir das mesmas medidas:
- Lavar bem as mãos e os alimentos, como frutas e verduras
- Utilizar álcool em gel
- Manter o ambiente limpo para proteger os alimentos de moscas, baratas e outros vetores, mantendo sacos de lixo bem fechados
Para prevenir a transmissão da virose da mosca, o gastroenterologista Diego Baima diz que é importante adotar medidas de higiene adequadas, como lavar as mãos, “especialmente depois de estar em locais públicos ou após tossir ou espirrar. Além disso, quando estiver com alguém doente em casa, é recomendável evitar compartilhar objetos pessoais”.