A vacinação infantil (5 a 11 anos) contra a Covid-19, no Ceará, teve início em 15 de janeiro deste ano. Transcorridos 81 dias, o Estado avança, na maior parte, uniformemente neste processo. No entanto, algumas cidades despontam como exceção.
Enquanto 172 dos 184 municípios já ultrapassaram o índice de 80% da primeira dose (D1) aplicada neste público, 9 cidades não alcançaram nem a metade do público-alvo.
Este patamar é bem abaixo da média estadual. Conforme dados do Vacinômetro, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, o percentual médio da aplicação do imunizante no público infantil é de 67,93%.
A pediatra Vanuza Chagas explica que "a baixa cobertura vacinal deixa em risco a população" e dificulta a obtenção da chamada imunidade de rebanho. A especialista alerta que, para qualquer que seja a doença, a ausência de vacina pode elevar o "óbitos e as sequelas definitivas".
"Margem de segurança"
O Conselho das Secretárias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems) avalia que, de modo geral, o Estado tem "uma porcentagem de vacinados que nos coloca numa margem de segurança no controle da doença".
Sobre os baixos índices nas cidades acima, o órgão diz "orientar e contribuir com os municípios no sentido de lançar estratégias diferentes para alcance e conscientização da população, de acordo com a realidade de cada um".
A vacinação funciona como estratégia coletiva de imunização, por isso prezamos sempre pelo avanço de forma equânime e neste sentido, pelo esforço e comprometimento de todos os gestores e suas equipes, temos uma porcentagem geral de vacinados que nos coloca numa margem de segurança no controle da doença.
Como estratégia para avançar neste processo de imunização, o Cosems informou ainda que mantém reuniões periódicas com a Sesa e Ministério Público e, quando identificados municípios com baixo percentual de cobertura vacinal, "são propostas ações para melhoria dessa cobertura, levando em consideração as justificativas apresentadas pelos municípios".
Dentre as ações municipais que vêm sendo praticadas, o órgão cita o "atendimento noturno, movimentos intersetoriais com ações nas escolas e nas creches, vacinação itinerante para descentralizar os pontos de atendimento", entre outras.
Resistência atrapalha evolução
Quatro das nove cidades com o menor índice de aplicação justificaram que o avançar no processo de imunização tem esbarrado na "resistência de muitos pais".
A assessoria de comunicação de Morrinhos foi além. Segundo nota enviada ao Diário do Nordeste, a "resistência tem sido não somente da população infantil, mas também nas demais faixas etárias".
Especificamente sobre o público infantil, a assessoria destacou que, por "necessitar da autorização dos pais, isso vem prejudicando esse avanço em relação aos adolescentes que comparecem ao posto para vacinação".
Temos muita resistência dos pais e responsáveis, considerando que não temos autorização para vacinar sem a permissão dos pais ou responsáveis, ficamos limitados em prosseguir a imunização das crianças.
Para superar essa "resistência", o Município diz estar utilizando estratégias tais quais "levantamento [das crianças aptas a serem cadastradas] junto as escolas, dias fixos de vacinação nas Unidades Básicas de Saúde e vacinação nos finais de semana, vacinação nas localidades mais distantes". Morrinhos tem, hoje, o segundo pior índice do Estado, atrás apenas de Paraipaba.
A prefeitura de Paraipaba informou que há "uma grande rejeição por parte dos pais das crianças", mas que está orientando a população "por meio das redes sociais, realizando eventos voltados para a vacinação pediátrica com atividades de recreação para o entretenimento infantil e promovendo campanhas de vacinação em creches e escolas (de ensino público e privado) de todo o município".
Em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), a Secretaria Municipal da Saúde também identificou "baixa procura e adesão dos pais e responsáveis em relação ao cadastro das crianças no Saúde Digital".
Para aumentar os índices, a Secretaria tem desenvolvido vários eixos estratégicos, entre eles, sensibilizar a população através dos principais canais de comunicação, parcerias intersetoriais com outras Secretarias, como Educação, que realiza uma ação de vacinação itinerante nas escolas públicas do município, além dos dois pontos fixos instalados na cidade.
Ao destacar a importância da imunização, a Pasta ressaltou que os "pais devem estar atentos e zelar pela saúde dos filhos, pois a vacina é uma das medidas mais efetivas na prevenção de doenças infectocontagiosas". A meta é de que mais de 36 mil crianças sejam vacinadas em Caucaia. Até agora, quase 16.800 crianças receberam o imunizante.
A pediatra Vanuza Chagas ressalta ser "preciso recuperar a confiança na vacinação. O trabalho nas escolas é muito importante. Os agentes de saúde também podem contribuir bastante nesse processo, levando informação e passando confiança".
Nessa pandemia vimos que as fakenews deixam as pessoas inseguras, com medo da vacina. Essas notícias falsam geram grandes proporções e causam problemas [no processo de imunização].
Dados divergentes
A Secretaria da Saúde de Pacajus disse estar investigando os números para identificar se a meta estipulada para o público infantil pela Sesa "é superestimada, podendo ser maior do que a realidade". Conforme o Município, foram vacinas 78% das crianças de 5 a 11 anos que estão cadastradas. No entanto, a Secretaria da Saúde não informou qual o universo total deste público.
O município segue intensificando a vacinação, garantindo ações de busca ativa nas escolas, solicitando o cartão vacinação na matrícula dos estudantes; ampliando a divulgação e, sobretudo, conscientizando a população sobre a importância de concluir o ciclo vacinal.
O Diário do Nordeste entrou em contato com todas as cidades citadas, no entanto, Jati, Catarina, São Luís do Curu, Barreira, e Itapajé não responderam aos questionamentos.