A tendência de chuvas abaixo da média no Ceará em 2024, projetada por especialistas desde o ano passado, pode não se confirmar. Com o El Niño mais fraco e o Oceano Atlântico com alta temperatura recorde, a previsão é de que os próximos dois meses da quadra chuvosa cearense (abril e maio) terminem com acumulado “dentro da normalidade”.
As informações são de Francisco Vasconcelos Júnior , doutor em Meteorologia e pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), dadas em entrevista ao Diário do Nordeste nessa terça-feira (2).
Anualmente, a Funceme divulga dois prognósticos sobre o período de chuvas: um referente aos meses de fevereiro a abril, e um segundo que se estende até maio, mês que encerra a quadra chuvosa no Ceará. Em 2024, porém, a previsão para maio ainda não foi informada.
Francisco adiantou, contudo, que as análises do órgão apontam probabilidade de chuvas “dentro da normalidade”: ou seja, os acumulados para abril e maio têm maior tendência de ficarem em torno da média histórica.
“A previsão de curto prazo, para o final da estação, os últimos 2 meses, é de termos ainda esses eventos de precipitação acontecendo, mas não como fevereiro, que foi bem acima da normalidade em todo o Estado. É continuar dentro da normalidade”, avalia.
O doutor em Meteorologia reconhece que “todos os grandes centros de pesquisa do País estavam indicando um alto risco de termos uma seca, mas as coisas mudaram muito rápido”.
Por que o cenário mudou?
Desde o último trimestre de 2023, a forte incidência do El Niño, que prejudica a incidência de chuvas no Ceará, provocou ondas de calor em todo o País e preocupou pesquisadores sobre os possíveis impactos à quadra chuvosa cearense.
Em janeiro deste ano, o prognóstico da Funceme apontou 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média no Ceará entre fevereiro e abril, contra 40% de chance de precipitações dentro da normalidade. Até agora, então, o cenário menos provável tem se desenhado.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), também projetou, no mês passado, que o trimestre março/abril/maio seria de chuvas abaixo da média histórica na maior parte do território cearense.
O pesquisador da Funceme explica que o El Niño, quarto maior do Ceará desde 1957, teve pico entre dezembro e o início de janeiro, e “tinha um risco muito alto de impacto sobre a estação chuvosa”. Mas o fenômeno tende a acabar neste mês, e teve os efeitos atenuados por outra condição: a temperatura do oceano.
O Atlântico Tropical está quente, muito quente. Esse foi o principal motivo para que, mesmo dentro do El Niño, tenha havido essas chuvas mais expressivas, com fevereiro acima da normalidade e março dentro da normalidade no Ceará, principalmente na região mais ao centro-norte.
Francisco observa que “esse evento do Atlântico aquecido nunca foi visto na história recente”, e gera “muita convergência de umidade, adentrando a região nordestina”. Em resumo: com águas mais aquecidas, há maior evaporação, formação de nuvens e chuvas.
Na porção mais costeira do Ceará, destaca Francisco, houve ainda a forte atividade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema indutor de chuvas no Ceará. Apesar disso, “na Região de Crateús e descendo pro Sertão dos Inhamuns, houve uma grande faixa com chuvas abaixo da média em março, bem diferente de fevereiro”.
Chuvas no Ceará até agora
Neste ano, a maior incidência de chuvas no Estado começou “mais tarde”. Em janeiro, mês da pré-estação, as precipitações ficaram 40,7% abaixo da média histórica: a normal é de 99,8 milímetros, mas choveu 59,2 mm.
O mês seguinte, por outro lado, bateu recordes: a normal meteorológica é de 121,3 mm, mas o Estado registrou acumulado médio de 230,5 mm nos 29 dias, 90% acima da média, conforme dados da Funceme.
Os números de março, reforça a fundação, ainda não estão consolidados. Mas até a tarde dessa terça-feira (2) o balanço mostrava chuvas acima da média: o acumulado “esperado” é de 206,5 mm, e o Estado registrou 234,9 mm – 13,7% acima da média.