Com a manutenção do cenário de alerta devido aos altos índices de infecções por Covid-19 no Ceará, uma série de medidas foi adotada com o objetivo de conter uma nova explosão de casos neste Carnaval. Mas, há realmente esta possibilidade? Os números apontam que sim e revelam ainda a necessidade de um cuidado especial sobretudo nas localidades que, tradicionalmente, mais recebem visitantes nesta época do ano.
O Diário do Nordeste mapeou o cenário epidemiológico de sete cidades cujo fluxo de turistas cresce no período de Carnaval e identificou que, apesar de a maioria delas apresentarem queda na média móvel de casos, ainda há um estado de atenção devido à oscilação entre aumento e estabilidade dos índices e, em alguns casos, como identificado em Paracuru, a curva da média de infecções voltou a ter tendência de alta.
- Fortaleza
- Beberibe
- Caucaia (Cumbuco)
- Aracati (Canoa Quebrada)
- Guaramiranga
- Jijoca de Jericoacoara
- Paracuru
Para conter este avanço do vírus SARS-Cov-2, o governador do Estado Camilo Santana (PT) cancelou o ponto facultativo no feriadão e determinou a suspensão de todos os eventos para evitar aglomerações. Mas, especialistas alertam ser primordial, também, a colaboração da sociedade.
O elo entre a aplicação das medidas sanitárias e seus respectivos cumprimentos é ponto nevrálgico para conter a disseminação desta doença que já matou mais de 25 mil cearenses.
No fim de dezembro e início de janeiro, até meados da primeira quinzena, o Ceará vivenciou um aumento vertiginoso das infecções, muito devido ao poder de transmissibilidade da variante Ômicron.
Na porção final do mês, algumas localidades começaram a experimentar estabilização. Fortaleza, Beberibe, Caucaia, Aracati e Guaramiranga tiveram redução da média móvel de casos a partir do dia 19 de janeiro.
Nestas cinco cidades, houve sensível aumento no fim de janeiro, mas, logo em seguida a curva apontou para baixo e esta tendência segue até então. Contudo, em todas elas, apesar da queda, a taxa de incidência por 100 mil habitantes segue com um número que inspira atenção.
A taxa de incidência é importante para estimar o risco de ocorrência de casos de Covid-19 na população desses municípios. O cálculo leva em conta o número de casos confirmados, dividido pelo número de habitantes e multiplicado por 100 mil.
A mais alta taxa de incidência ocorre em Guaramiranga, com 6.797,6 casos por 100 mil habitantes e, a mais baixa, em Caucaia (1.760,9). A taxa de incidência do Ceará, em 2022, é de 2.361,3. Em comparação com igual período do ano passado, ou seja, entre 1º de janeiro a 11 de fevereiro, a taxa atual de incidência do Estado é considerada bastante alta. Em 2021, a taxa era de 743,9.
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Em Fortaleza, o pico da média móvel deste ano aconteceu em 15 de janeiro, quando o índice, segundo o IntegraSus, foi de 3.323,57 casos confirmados. No dia 22 daquele mês, a média atingiu 3.011,42 e iniciou um período de queda, com um leve aumento no fim do mês, mas logo seguido de nova redução.
Atualmente, a média móvel é de 168,14 casos, o segundo menor índice deste ano na Capital cearense, atrás apenas para 1º de janeiro, quando a média era de 156,71 casos.
Em Jijoca de Jericoacoara, a redução da média móvel foi iniciada em 25 de janeiro e assim permanece. Este é o único município, dentre os sete, que não registrou morte em 2022. A assessoria de comunicação de Jijoca destacou que, durante o feriadão, o "Município continuará seguindo todas as recomendações do Estado em relação a prevenção a Covid-19".
Ainda segundo a nota enviada pela assessoria, todos os visitantes deverão "apresentar comprovante de vacinação da Covid-19 no momento do check-in nos meios de hospedagem em todo o Município".
Já em Paracuru, o cenário é outro. Após forte aumento da média móvel no início de janeiro - tal qual ocorrera em quase todas as cidades cearenses - a queda surgiu em 24 de janeiro, mas logo foi revertida em alta, no dia 27 de janeiro.
Desde então, a curva no Município oscila entre reduções e aumentos. Das sete cidades, Paracuru é a única que não apresenta uma tendência de queda. Os dados foram extraídos do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado.
A reportagem tentou contato com as Secretarias de Saúde de todas as prefeituras acima mencionadas. No entanto, apenas Jijoca e Fortaleza responderam os questionamentos até a publicação desta matéria.
"Se tiver aglomeração, poderemos ter uma nova onda"
Apesar de existir tendência de queda nos indicadores pandêmicos, nenhuma das cidades apresenta ainda estabilização na curva de casos e óbitos. Para o médico infectologista Keny Colares, consultor da área da Escola de Saúde Pública do Ceará, este é mais um motivo para manutenção dos cuidados durante o feriado de Carnaval.
"A gente já viu as consequências das reuniões e aglomerações nas festas recentes de Natal e Réveillon. Provavelmente não teríamos tido essa onda de casos e óbitos se as medidas e cuidados fossem respeitados", alerta o especialista. Na avaliação de Colares, se houver mais uma vez registros de desrespeitos às medidas sanitárias os casos voltarão a crescer novamente.
"Se tiver novas aglomerações a tendência é subir. Temos até exemplos fora do Brasil. Alguns países quando veem os casos caindo, relaxam as medidas e rapidamente o vírus volta a se espalhar de novo", ilustra Keny, ao acrescentar que, embora o Carnaval tenha sido oficialmente cancelado, "muitas pessoas insistem em desrespeitar e fazem festas particulares".
Para ele, antes de relaxar as medidas, é preciso esperar uma estabilização na queda da média móvel. "Tudo depende da forma como a sociedade mais agir", diz o médico. Em caso de cumprimento aos cuidados necessários, Keny avalia que a "perspectiva de queda das infecções é para o fim de fevereiro e início de março".
Contudo, ressalta o infectologista, "o que vai acontecer mais tarde é uma grande interrogação". Para justificar sua análise, Keny lembra o alto poder de transmissão dessa nova variante, a Ômicron, e explica que ela tem uma capacidade de causar, de forma súbita, o aumento dos casos.
"Ninguém sabe se irá surgir outra variante, ainda mais transmissível", reflete Colares, por isso, ele reforça a necessidade de uma ampla e rápida vacinação, aliada a manutenção dos cuidados não-farmacológicos, como uso de máscara e distanciamento social.