Conheça a cidade do Ceará com o maior percentual da população vacinada com 3 doses contra Covid

Nove municípios cearenses ultrapassaram a marca dos 60% de aplicação, enquanto 61 estão abaixo dos 30%

Quando a pandemia teve início, a dona de casa Maria Aldacir Saraiva, de 72 anos, e a microempresária Francisca Franciene Aguiar, 64 anos, moradores de Baturité, tinham grande receio de se infectar. Não por menos. A faixa etária delas é a que mais fez vítimas desde então. Passados dois anos, elas contraíram a doença, mas, o sentimento já era outro.

"Estava bem mais tranquila, pois sabia que por eu ter tomado as três doses, os sintomas seriam mais leves", diz Aldacir. Franciene faz relato semelhante. "Tive apenas sintomas leves, não fui nem ao hospital", diz. As duas tomaram, no fim do ano passado, a terceira dose da vacina contra o vírus SARS-Cov-2.

Aldacir e Franciene não são exemplos isolados de pessoas que já completaram o esquema vacinal contra a Covid-19 em Baturité. Muito pelo contrário. A quase exceção no Município fica ao cargo daqueles que já estão aptos a tomar a dose de reforço, mas ainda não o fizeram. Isso porque a cidade de Baturité tem hoje o maior índice de aplicação da dose de reforço dentre os 184 municípios do Estado.

36%
é a porcentagem da população cearense completamente imunizada contra a Covid-19.

Após quase três meses desde o início da aplicação da terceira dose do imunobiológico, Baturité já ultrapassou a marca dos 80% do público-alvo vacinado, conforme dados extraídos na manhã nesta terça-feira (15) do Vacinômetro, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará.

Segundo o censo mais recente do IBGE, pouco menos de 36 mil habitantes moram em Baturité. Deste total, 26.810 estão aptos a tomar a dose de reforço contra a Covid-19. Atualmente, 22.075 moradores já receberam a terceira dose e completaram o esquema vacinal, o que representa 82% do público-alvo, cinco pontos percentuais à frente da segunda colocada, a cidade de Cedro (77%).

Para Mariane Luz, coordenadora de imunização do Município, as duas principais estratégias adotadas foram a descentralização da aplicação do imunobiológico e a busca ativa. "Entre duas a três vezes na semana colocamos dois carros nas ruas, um com as vacinas e outro com som volante convocando a população a se vacinar. Isso tem sido um grande diferencial", considera. 

  • Baturité: 959 infecções em 2022 e 2 mortes. 

Baturité conta com 15 unidades de saúde - das quais 6 são na zona rural - que funcionam como ponto fixo de vacinação. Contudo, o imunizante é aplicado para além destes locais.

"Tem gente que não pode ir se vacinar no horário comercial, então disponibilizando a vacinação no horário noturno. Também nos deslocamos até as lojas do centro para aplicar naqueles funcionários que, por alguma razão, não podem sair do expediente e, além disso, adotamos a estratégia de ir até a tradicional feira aos sábados", detalha Mariane.

Essa última ação, ainda conforme a coordenadora de imunização, foi primordial para atingir o público da zona rural. "Como é uma feira muito tradicional e que vêm pessoas dos sítios, a gente enxergou ali uma possibilidade de aplicar a vacinação, tudo, claro, dentro das determinações sanitárias". 

Nosso objetivo é completar o ciclo vacinal em toda população apta o mais brevemente possível. 
Mariane Luz
Coordenadora de imunização de Baturité

Vacinação causa impacto direto

Com mais de 80% das doses de reforço aplicadas, Mariane avalia que essa ampla cobertura vacinal amenizou os danos causados pela mais recente onda da Covid-19. Em janeiro, assim como ocorrera em todo o Estado, os casos saltaram no Município. Chegando a dias como 50 positivados, "o que não acontecia há meses". 

Contudo, dentre os infectados, a grande maioria apresentou apenas sintomas leves. Hoje, a cidade não tem nenhum paciente internado. Quanto às mortes, foram duas em 2022. "Um idoso com o esquema vacinal incompleto; e outro idoso que, apesar de ter tomado as três doses, tinha várias comorbidades", detalha Mariane. 

Sem dúvida, se não tivéssemos essa boa cobertura, teríamos sofrido. Os casos certamente seriam com sintomas mais graves e poderíamos ter mais mortes.
Mariane Luz
Coordenadora de imunização de Baturité

A dona de casa Maria Aldacir é prova disso. Além de não ter sentido qualquer sintoma mais grave, ela presenciou, dentro da própria família, uma realidade oposta. "Meu irmão de 46 anos se recusava a tomar a vacina. Dizia não acreditar. Se infectou e ficou um mês internado, sendo um longo período intubado. Só quando ele recebeu alta, decidiu se vcacinar", relata.

Franciene e Aldacir revelam também ter perdido amigos para a doença. "Se não fosse a vacina, o número de vítimas seria ainda maior", acredita Franciene. "Se tiver a quarta dose, a quinta ou quantos forem, vou tomar todas", acrescenta Aldacir. 

O número de internações nesta nova onda está bem mais reduzida se comparada às ondas anteriores, muito devido ao avançado processo de imunização.
Séfora Pascoal
Infectologista

Processo assimétrico

Além de Baturité, outras oito cidades têm cobertura vacinal completa acima dos 60%: Cedro (77,01%), Reriutaba (70,1%), Senador Pompeu (69,1%), Itaiçaba (65,2%), Lavras da Mangabeira (65,1%), Deputado Irapuan Pinheiro (64,5%), Monsenhor Tabosa (61,6%) e Moraújo (60%).

Em contrapartida, 61 municípios ainda não atingiram a marca dos 30%. Já a Capital cearense atingiu a marca dos 41%. Até a manhã desta terça-feira, Fortaleza havia aplicado 823.136 doses de reforço.

Para especialistas, essa vacinação assimétrica entre as cidades pode atrapalhar o efetivo combate à pandemia. A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará  (Cosems-CE), Sayonara Moura Cidade, explica que, diante de um processo de vacinação não homogêneo, "o vírus pode seguir circulando uma vez que a uma porcentagem, ainda que pequena, de pessoas vacinadas que continuam transmitindo o vírus".

Os principais impactos dessa assimetria são o aumento da taxa de mortalidade, a possibildiade do surgimento de novas variantes e a dificuldade em ter uma melhoria no desenvolvimento econômico.
Sefora Pascoal
Infectologista

Mariane Luz compartilha do mesmo pensamento e acrescenta que, devido ao grande fluxo diário de pessoas entre cidades vizinhas do Interior, é preciso que o esforço seja conjunto.

"Quando um determinado município tem um grande contingente de pessoas sem o esquema [vacinal] completo, isso possibilita que o vírus siga circulando, abrindo margem para o surgimento de novas cepas o que dificulta o combate à pandemia", conclui.

Portanto, na concepção de Sayonara Moura, é preciso trabalhar com uma meta de vacinação acima dos 95%. "Com esse índice podemos conferir uma imunização de rebanho e, assim, reduzir a circulação do vírus e conter o avanço da pandemia", conclui.