Como o atraso na aplicação da 3ª ou 4ª dose da vacina da Covid atrapalha o fim da pandemia no Ceará

Novas variantes e queda gradual da proteção vacinal exige novas aplicações para frear o avanço da doença

A chegada da vacina contra a Covid ao Ceará, em janeiro de 2021, marcou o fim de uma espera e o início de outra – a vez na fila de aplicação. Mais de 1 ano depois, porém, a demanda é livre: para se vacinar, é só chegar. Ato que tem sido adiado por muitos, prolongando a presença do coronavírus no Estado.

Com o ordenamento de prioridades, algumas pessoas podem “perder as contas” e desconhecer quantas doses da vacina contra a Covid já devem, obrigatoriamente, ter tomado. Para facilitar, segue o esquema:

  • 1ª e 2ª doses: todos a partir de 5 anos já devem ter tomado;
  • 3ª dose: todos a partir de 12 anos já devem ter tomado;
  • 4ª dose: adultos imunossuprimidos, trabalhadores da saúde e qualquer pessoa a partir de 40 anos de idade já podem tomar.

4
meses é o intervalo mínimo entre uma dose e outra dos imunizantes contra a Covid.

No Ceará, até terça-feira (14), mais de 8 milhões de pessoas haviam tomado a 1ª dose (D1) da vacina, atingindo uma cobertura de 95% da população. A 2ª dose (D2) só foi garantida por 7,5 milhões – é como se 572 mil pessoas sequer tivessem completado o esquema básico.

Já a dose de reforço (DR), chamada popularmente de 3ª dose, soma 4,5 milhões de aplicações no Estado, cobrindo menos de 60% do público que deve tomá-la. O segundo reforço – ou 4ª dose – já foi aplicado em quase 380 mil cearenses, cerca de 20% da meta.

Meu atraso atrapalha a saúde coletiva?

Sim, atrapalha. E torna o coronavírus mais forte a cada dia, prolongando a circulação dele entre a população e favorecendo o surgimento de novas variantes. Quem explica é o biomédico e microbiologista Samuel Arruda.

“A dose de reforço hoje é focada nos grupos mais sujeitos ao vírus, que são mais facilmente infectados e mantêm o vírus circulando por mais tempo, facilitando o surgimento de mutações. Esse é o problema social da pandemia”, destaca.

Samuel descreve, ainda, como funciona a atuação das doses de reforço contra a Covid no organismo, frisando por que é tão importante que os grupos autorizados a tomá-las garantam a proteção completa.

A importância das doses de reforço é aumentar a resposta imunológica contra o vírus e tornar essa resposta mais eficiente para as variantes que vão surgindo. Os reforços aumentam a potência com que a vacina vai te proteger. 
Samuel Arruda
Biomédico e microbiologista

O médico infectologista Keny Colares também alerta que “manter a vacinação em dia, com 3ª ou 4ª dose, é uma das coisas mais importantes para prevenir a doença” nesta fase em que os indicadores da Covid têm piorado no Ceará – e que essa piora pode aumentar a busca pelo imunizante.

“Quem não fez a dose de reforço muitas vezes não fez porque ouviu que a doença estava acabando. Mas se souber que o risco existe, que os casos estão aumentando novamente, vai procurar a 3ª e 4ª dose. É importante pra pessoa e pra toda a população”, frisa Keny.

Temos que enfrentar a dificuldade de algumas pessoas que não estão se vacinando por opinião. Elas precisam cair na real. Devemos tentar contornar essa questão, debater, discutir e convencer. É um enorme desafio que temos.
Keny Colares
Médico infectologista

Queda na busca pela imunização

O biomédico Samuel Arruda observa que o cenário epidemiológico mais “tranquilo”, nos meses anteriores, diminuiu o medo que a população tinha da Covid, reduzindo a busca e a importância dada à vacinação – erro que faz com que até doenças erradicadas retornem.

“À medida em que as doses de reforço são estabelecidas, menor adesão acontece, principalmente nos grupos prioritários, às vezes por falta de informação ou por informações falsas. O que temos de fazer é facilitar o acesso, que já está bem fácil”, pondera.

O microbiologista aposta que, a médio e longo prazos, a vacina contra a Covid-19 será como a da influenza: terá aplicação de reforço anual ou semestral na população.

Keny Colares destaca que tem havido, na gestão pública, “uma tendência para descentralizar, levar a vacina para mais perto das casas das pessoas, para que não haja dificuldade de locomoção” e as doses sejam garantidas.

Em Fortaleza, até o próximo domingo (19), a vacinação ocorre seguindo o cronograma abaixo:

  • Shoppings Iguatemi, RioMar Fortaleza e RioMar Kennedy: quinta a sábado, 9h às 20h; domingo, 9h às 17h;
  • Centro de Eventos (drive-thru): quinta a sábado, 9h às 17h;
  • Shopping Central: sexta-feira, de 9h às 17h; sábado, de 9h às 16h.