Capacidade de aprender acima da média para a idade, desenvoltura elevada em áreas do conhecimento humano; habilidade desenvolvida de análise e julgamento; demonstrações de precocidade e pensamento de modo autônomo. Características que podem indicar que uma pessoa é superdotada.
Mas, essa identificação não é simples. Na série sobre superdotação e alta habilidades, o Diário do Nordeste explica, dentre outros, quais os procedimentos para o diagnóstico, o que é levando em consideração, como os pais devem agir e quais profissionais auxiliam nesse processo.
O primeiro ponto é que a superdotação pode ser identificada em qualquer etapa da vida. Mas, em geral, devido às evidências que se apresentam ainda na infância e a necessidade de adaptação e inclusão na idade escolar, essa identificação é buscada por pais e responsáveis quando os filhos são ainda crianças ou adolescentes.
Essa identificação, nos dias atuais, considera as múltiplas inteligências, e diferentemente do passado não se limita mais apenas à realização e aos resultados dos testes de inteligência, chamados de Quociente de Inteligência (QI). Esses testes, no geral, conseguem medir somente o tipo de superdotação intelectual e/ou acadêmico.
No Brasil, normas jurídicas da década de 2000, relacionadas a pessoas superdotadas ou com altas habilidades, estabeleciam a classificação de tipos de superdotação em:
- Intelectual;
- Acadêmico;
- Criativo;
- Social;
- Talento especial e;
- Psicomotor.
Já a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, do Governo Federal, de 2008, define pessoas com altas habilidade e superdotação aquelas têm potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas:
- Intelectual;
- Acadêmica;
- Liderança;
- Psicomotricidade e;
- Artes
A superdotação, diz o doutor em educação e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Igor Paim, é um tema “plural e tem uma complexidade porque a identificação das altas habilidades não é algo assim trivial”.
De acordo com ele, a noção que a sociedade tem do que são pessoas superdotadas é muito “atravessada por filmes, por revistinhas e por mitos”, logo, é preciso ter atenção.
Dentre os importantes pesquisadores do mundo sobre superdotação, explica Igor, se destaca o psicólogo educacional norteamericado Joseph Renzulli. “Essa é a principal referência porque ele praticamente revolucionou a definição, e também a forma de identificar e acompanhar”.
Como identificar pessoas superdotadas?
As referências da sociedade em geral sobre superdotados considera a superdotação do tipo acadêmico, diz o pesquisador, Igor Paim. Essa dimensão está atrelada à ideia de bom desempenho e destaques na produção acadêmica, com motivação e foco.
“Hoje existe uma mudança de percepção. Primeiro que, por exemplo, você não deve considerar apenas uma forma de identificação das altas habilidades. O teste psicométrico mede bem as habilidades acadêmicas: linguístico-verbal, lógico-matemático e viso-espacial”.
De acordo com ele, a compreensão das habilidades humanas foi enriquecida pela ampliação do conceito de inteligência. “O conceito de inteligências múltiplas abriu um leque para percebermos que inteligência não é apenas a inteligência escolar acadêmica”, acrescenta.
Portanto, no diagnóstico de pessoas superdotadas, é preciso considerar a insuficiência dos métodos dos instrumentos de medição. “Por exemplo, na parte artística, você tem lá a música, a dança, a performática. Como é que mede? Bom, não se mede. Não existe instrumento para inteligência, outras que não sejam as acadêmicas”, destaca Igor.
Ele explica ainda que quando se fala em superdotação “está implícito que você tem que estar acima de uma média para ser considerado superdotado, então você vai ter que ficar preocupado com essas escalas. Mas essas escalas só serão válidas e validadas estatisticamente para os testes clássicos de inteligência”.
A referência em superdotação, Joseph Renzulli, afirma Igor, analisa a superdotação para além da psicometria. Segundo Renzulli, explica Igor, para ser considerada uma pessoa superdotada você tem que ter três grandes características ao mesmo tempo:
- Elevada habilidade e desempenho em uma área do domínio ou capacidade humana (demonstração de alta habilidade artística, de dança, de esporte; demonstrações precoces e bem acima da média).
- Elevado nível de dedicação à tarefa (comportamento de dedicação, vontade de vivenciar sozinho, “andar com as próprias pernas”)
- Elevado nível de criatividade (soluções diferentes para o mesmo problema; soluções aplicáveis, realizáveis e úteis)
No Brasil não existe um sistema unificado de identificação de pessoas superdotadas. Essa população acaba sendo descoberta, em geral, a partir de iniciativas da própria família e das escolas, quando há atenção à inclusão. Para estabelecer o diagnóstico, é preciso considerar que existem distintos tipos de avaliação. No caso da capacidade intelectual há os testes de QI.
Já a análise mais ampliada para saber se a pessoa é superdotada ou não, explica Igor, também é analisado “o histórico, as produções, a análise dos pais, dos professores, dos colegas de turma, por exemplo”. Portanto, a identificação se dá via um conjunto de instrumentos pedagógicos para o reconhecimento de diferentes habilidades dos alunos em diversas áreas do conhecimento.
Essa análise de múltiplas dimensões geralmente é feita por uma equipe multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psicopedagogos e neuropsicopedagogos. Nesse processo, as famílias podem contar com a ajuda da escola. Mas, na falta deste auxílio, os familiares ou a própria pessoa - quando adulta - acaba se responsabilizando por buscar esse diagnóstico.
As avaliações neuropsicológicas são realizadas por psicólogos e neuropsicólogos, que incluem, muitas vezes, os testes de QI, conforme as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Realização de Teste de QI
As avaliações, em geral, não são disponíveis gratuitamente. Os testes de QI, por exemplo, por meio do qual se pode obter um laudo que comprove a superdotação acadêmica ou intelectual, são pagos pela própria pessoa ou família.
No Brasil, a Associação Mensa Brasil, entidade que reúne pessoas com altas capacidades intelectuais e representante oficial da Mensa Internacional, uma das principais organizações de alto QI do mundo, é uma das referências para a realização de teste de QI.
A entidade realiza avaliações de alto QI e em diversas cidades no Brasil. Conforme a Mensa Brasil informou ao Diário do Nordeste, a avaliação do QI “pode ser feita a partir de diferentes tipos de testes, padronizados por faixa etária e característica populacional”.
A busca por realização de teste de QI tem relação direta com a definição do nível educacional adequado e, em alguns casos, com o acesso a programas de desenvolvimento de talento. No caso da Mensa Brasil a taxa para a inscrição no teste são as seguintes: R$ 98,00 para o coletivo e R$ 148,00 o individual.
Como se mede o QI?
O chamado Quociente de Inteligência (QI) é uma interpretação matemática para mensurar o desempenho em testes de inteligência. Em geral, um conjunto de questões avaliam a capacidade de quem faz o teste para a resolução de problemas.
Uma das classificações bastante utilizadas para a definição de pontuação de QI é a feita por um dos pioneiros da psicologia educacional, o norte-americado, Lewis Madison Terman. Ela é chamada de classificação Terman.
Classificação Terman - QI
- Superior a 140: quase "gênio"
- Entre 121 e 140 - Inteligência Muito Superior
- Entre 110 e 120 - Inteligência Superior
- Entre 109 e 90 - Inteligência Normal ou Média
Outra classificação, que serve como parâmetro para as avaliações de inteligência, é a Escalas Wechsler, usada tanto na versão adulta quanto na versão infantil (WISC). A classificação foi formulada pelo psicólogo David Wechsler, nascido na Romênia.
Classificação Wechsler - QI
- Superior a 127: sobredotação
- Entre 121 e 127: Inteligência superior
- Entre 111 e 120: Inteligência acima da média
- Entre 91 e 110: Inteligência média
A Mensa Brasil explica que para entrar na entidade e ser um associado da entidade de pessoas de mais alta inteligência no mundo, não há um número de QI mínimo, pois o valor numérico do QI pode variar de metodologia para metodologia.