Ave rara encontrada no Ceará é encaminhada para reprodução em cativeiro no Paraná; vídeo

Uru do Nordeste foi descrito cientificamente pela primeira vez após ter sido encontrado na Serra de Baturité

Cinco aves cearenses, que voam cada vez menos no Estado pelo risco de extinção, foram levadas para o Parque das Aves, no Paraná, em um projeto de reprodução em cativeiro. O Uru do Nordeste, Odontophorus capueira plumbeicollis, pode ser reintroduzido na Serra de Baturité, onde foi encontrado pela primeira vez.

Os esforços para encontrar esses animais, que se estendem por 4 anos, são de ambientalistas da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Em dezembro do último ano, 3 machos e 2 fêmeas foram capturados.

“Atualmente só existe, praticamente, na Serra de Baturité. Tem uma evidência recente de que essa ave também está presente numa serra isolada, a Serra da Pedra Talhada, em Alagoas”, explica o biólogo Fábio Nunes.

Os bichos foram encaminhados no dia 1º deste mês em uma operação ambiental para conservação. Foi fretado um avião e parte dos gastos foi financiada por proprietários locais da Serra de Baturité.

A instituição em Foz do Iguaçu que recebe os animais possui estrutura ideal para evitar a extinção de aves brasileiras. “Lá é um centro de excelência de reprodução e conservação de aves da mata atlântica”, explica o especialista.

O que a gente está tentando fazer é evitar essa extinção e esperamos que, em alguns anos, tenhamos exemplares suficientes em cativeiro para que essas aves voltem, mas em outra condição
Fábio Nunes
Biólogo

Esse movimento acontece devido à caça para alimentação, desmatamento e interferências ambientais, como a introdução de espécies invasoras. Cães e gatos que chegam à floresta se tornam predadores da ave.

“Uma das áreas que a gente achou essa população pequena foi apontada por um caçador, então, a gente ficou muito preocupado e resolveu capturar esse adultos. A gente passou mais de 4 anos nessa busca”, acrescenta Fábio.

Possibilidade de sumir da natureza

A mobilização acontece porque está cada vez mais difícil encontrar o animal na natureza. Por exemplo, fotografias feitas por observadores de aves costumavam representar o Uru do Nordeste, entre 2009 e 2016, mas o bicho deixou de aparecer nos registros.

“A gente tem feito buscas contínuas na serra e a gente comprovou o declínio. Hoje, a ave se encontra criticamente ameaçada de extinção na lista brasileira”, ressalta Fábio.

As aves foram mantidas por cerca de 4 meses em um recinto onde acontece a recuperação do periquito cara-suja. “A Aquasis tem a missão de evitar extinções e essa é a ave que está mais próxima da extinção atualmente na Serra de Baturité”, destaca.

Inclusive, como frisa o biólogo, esse é um risco global, já que a ave aparece atualmente apenas no Ceará e em Alagoas. “A gente sabe que extinção é uma coisa para sempre e depois que acontecer não tem como trazer essa ave de volta”.

Ela presta serviços ambientais nas florestas, faz parte de um ambiente extremamente frágil no Ceará, das florestas úmidas, e essa ave era para estar em todas as serras do Estado, como Ibiapaba e Aratanha
Fábio Nunes
Biólogo

O contexto exige, então, mudanças para ações ambientais que permitam a conservação das espécies no Estado. “Entra no melhoramento ambiental, da gente criar reservas mais restritas, para que essas aves não entrem em extinção”, conclui.