A história do jovem Theatro José de Alencar se mistura com a história da família Serra. É uma relação umbilical. Tudo começa com o pulo da morte, quando o jovem Haroldo Serra, nos anos 1950, pulava do Centro de Saúde para o segundo piso do teatro para assistir aos espetáculos. À época, vivia “duro”, sem grana.
Depois, mais um pulo, e ele estreia nos palcos do José de Alencar em 1952 pelo Grupo Teatro Experimental de Arte, com a peça "O Morro dos Ventos Uivantes", acompanhado dos companheiros B. de Paiva, Marcus Miranda e Hugo Bianchi. Foi um grupo de grande importância e chegou a produzir um espetáculo por mês. Com a ida de todos os integrantes para o Rio de Janeiro, fundou, em 1957, a Comédia Cearense, e estreou mais uma vez no palco do TJA com a peça "Lady Godiva".
Um ano depois, em 1958, foi a vez da estreia de Hiramisa Serra no palco do TJA com a peça "Canção dentro do Pão". Nos anos sessenta, estreiam os filhos do casal Serra - Hiroldo, Harolmisa e Haroldo Júnior, em peças infantis. Harolmisa estudava balé na academia de Hugo Bianchi; eu, Hiroldo, fazia a sonoplastia dos espetáculos, e o Júnior fazia iluminação.
Em 1976, com a peça "O Planeta das Crianças Alegres", comecei a contar meu tempo de teatro, pois fazia personagem com falas com um elenco de peso (Haroldo Serra, Ayla Maria, Antonieta Noronha e Walden Luiz). Minha infância e adolescência foi toda vivida no TJA, onde eu passava quase todas as tardes e muitas noites assistindo às grandes companhias do Rio e São Paulo, conhecendo os artistas famosos da televisão e participando dos grandes espetáculos da Comédia Cearense.
Acompanhei por muitos anos a administração do TJA pelo meu pai, Haroldo, e minha mãe, Hiramisa Serra. Ali, eles cuidavam como se fosse sua própria casa e defendiam com unhas e dentes. Eram tempos difíceis para a manutenção do equipamento. Nos anos 1970, foi feita uma grande reforma de ordem estrutural (o Theatro corria risco de tombamento devido à estrutura de ferro que estava bastante comprometida). Durante toda a reforma, o TJA continuou funcionando.
Dos anos 1950 até os anos 2017 (65 anos), foram muitos aniversários do TJA em que a Comédia Cearense fez espetáculos especialmente para essas datas. Em 2017, a Comédia Cearense comemorou 60 anos de fundação e, mais uma vez no TJA, apresentou temporada do Espetáculo "O Morro do Ouro", de Eduardo Campos, e lançou o livro "Comédia Cearense 60 Anos".
Em 2018, ganhei o presente de participar de um filme ainda inédito, "O Filho Único do Meu Pai", em que gravei cenas na plateia, palco e sala de aula do TJA. Foi uma consagração que vai ficar imortalizada nessas imagens sobre a nossa relação com o Thatro José de Alencar. Parabéns ao TJA e vida longa ao teatro cearense!