Entre a minha tela e a sua existem diferentes expectativas. Se elas serão cumpridas ou não e como lidaremos com isso após o fim do texto é, no caso, o próprio fio condutor desta matéria. Afinal, até que ponto o uso que fazemos de uma plataforma de conteúdo é saudável ou não?
Juliette e seus mais de 28 milhões de seguidores também estão agora em ‘laboratório’ para nos ajudar a responder essa questão. E a psicóloga clínica Fernanda Carvalho (@fernanda.carvalhonline), que dedicou o mestrado na Universidade Federal do Ceará para estudar o impacto do Instagram em nossas subjetividades, traz pistas científicas para entender esse tipo de relacionamento.
O que é dito na rede, vai para além do digital e chega num ambiente mais analógico do que o analógico, que é a alma da pessoa, o coração da pessoa. E ela é afetada. Então, varia de cada um a forma como se lida com esse olhar do outro. E também de como se lida consigo mesmo.
Quando esse jogo ganha um aspecto comercial, então, a reflexão de quem produz e de quem usufrui deve ser redobrada, segundo a psicóloga. “O conselho dos marketeiros pede que você coloque sua autenticidade, seu brilho nos olhos. Criou-se essa pessoa que se entrega como mercadoria e a outra que consome, e essas duas vão ter o desafio de não se desumanizar”, salienta.
Saúde mental
Tatear os próprios limites é a melhor forma de saber quando se está passando do ponto. Mas Fernanda Carvalho adianta alguns comportamentos que podem indicar o adoecimento pelo uso excessivo das redes sociais.
“Postar muito e numa velocidade assombrosa, que a pessoa não tem condição de acompanhar, ou, do outro lado, ter a sensação de que não pode perder nada que é postado, são ações que colocam as pessoas em risco”, observa a profissional.
Burn Out (Síndrome do Esgotamento Profissional), ansiedade e depressão são, segundo a psicóloga clínica, as doenças mais comuns diagnosticadas nestes processos. E, para evitar isso, uma atitude aparentemente simples se faz necessária: frear.
“O descanso não é uma parada, é parte do movimento. Se a sua relação com o outro não tem esse momento, tem que inserir, entender como é melhor para você”, destaca Fernanda.
Para a psicóloga, as pausas não significam perda de tempo e ajudam a manter o ritmo sem interrompê-lo bruscamente no futuro por motivo de adoecimento. “Na verdade, você vai estar ganhando, protegendo um patrimônio que está sendo construído. As pessoas estão sendo obrigadas a se perceberem mais e se você não mata essa charada, essa charada lhe mata”, sentencia.
Além dos fenômenos
Em resumo, é mais sobre entender que entre eu e você existe uma máquina, mas que nós não somos ela. Aliás, por incrível que possa parecer, até podemos controlá-la, sejamos só nós mesmos ou ainda uma equipe de 20 pessoas por trás. Quem sabe Juliette e sua autenticidade não possa ajudar a reconduzir esses processos?
“Tenho visto uma coisa que me dá esperança, que são produtores de conteúdo que fazem uma leitura diferente, o chamado slow content, uma produção mais sustentável, que preserva o bem-estar físico e mental e prevê o engajamento mais do que a velocidade”, explica Fernanda Carvalho.
“A ênfase seria mais no vínculo de pessoa para pessoa do que em fazer uma coisa de massas. Demora mais tempo para produzir, mas produz mais bem feito, robusto, com apelo mais afetivo”, analisa Fernanda Carvalho.
Se essa estratégia do slow content será suficiente ou não, só o tempo deste laboratório da vida poderá dizer. Mas uma coisa é certa: deste cenário também poderemos tirar algumas lições.
“Talvez não venha pelo amor, mas quando o Instagram força esse negócio de perceber a si, ele te traz de volta para dentro de você, e nesse sentido é terapêutico, ainda que não venha com facilidade”, conclui a psicóloga.