Show com mais de 20 artistas cearenses celebra 25 anos de música do agitador cultural Dalwton Moura

"Tantos Versos, Sonhos e Canções - 25 Anos de Música" será apresentado nesta quarta (14), no Cineteatro São Luiz

Sensibilidade, benção, dedicação, ativismo. Esses são alguns dos termos utilizados para descrever o trabalho do cantor, compositor, músico e produtor cultural cearense Dalwton Moura. Tal trajetória profissional dedicada à linguagem ganha celebração nesta quarta-feira (14), no Cineteatro São Luiz, com o show “25 Anos de Música - Tantos Versos, Sonhos e Canções - Parceiros e Intérpretes”.

O evento, que reúne mais de 20 nomes de diferentes gerações da arte cearense com relação criativa com Dalwton, toma como marco as primeiras composições “maduras” feitas por ele em 1999. De lá para cá, o artista tem atuado como nome central da produção cultural e da luta pelo reconhecimento público da música cearense.

Da coleção de discos da mãe ao mergulho na produção cearense

Apesar do marco de 25 anos, Dalwton reconhece que a relação com a música data desde a primeira infância, a partir da coleção de discos da mãe, dona Lindalva. “Ela cometeu a insensatez de me permitir acesso a eles muito cedo”, brinca, em entrevista por telefone ao Verso.

“Desde os cinco anos tenho memórias de conviver com esses discos, escolher o que colocar para tocar, ouvir rádio. Descobri o poder da música no aspecto emotivo, afetivo, e também o poder da canção como gênero lítero-musical”, destaca, citando uma construção de relação “muito precoce, intuitiva, mas marcante”.

Tão marcante, inclusive, que guiou os passos seguintes dele na adolescência, período em que ampliou o olhar para a música cearense — “frequentando shows, acompanhando artistas, tendo a visão da enorme riqueza da nossa cena”, elenca — e, também, deu início à prática artística. 

Do gosto pessoal ao início na composição

“Ao descobrir essa riqueza, foi um alumbramento a ponto de começar a fazer música. Já escrevia poemas, prosa, vinha de concurso de poesia, participações em coletâneas. Isso acabou gerando as primeiras composições”, narra Dalwton.

Essa produção citada, no entanto, é anterior ao marco de 25 anos celebrado. Isso porque, como explica o artista, as letras e músicas feitas na época da adolescência foram mais “experimentais” e “de descoberta”. 

“O marco de 1999 é o momento das primeiras composições mais amadurecidas e na linha da música brasileira, dos primeiros festivais de música que comecei a participar, das primeiras músicas gravadas”, explica

“Era uma consolidação maior, uma habilidade maior na canção. O marco dos 25 anos é representativo de perceber o grau de importância que o hábito de compor ganhou na minha vida. Esse fazer toma outra proporção, outra maturidade, começo a trabalhar com mais consciência desse processo”
Dalwton Moura
cantor, compositor e produtor

Do gosto pessoal por música à composição, o caminho feito por Dalwton se encaminhou de forma natural para outras facetas de atuação: a militância e a produção cultural. 

Militância em prol da música cearense

“Está tudo ligado à descoberta desse universo musical de artistas fazendo música autoral. Foi a constatação da imensa riqueza dessa produção e do fato de que, infelizmente, ela acabava chegando a um público menor do que poderia, como até hoje acontece”, ressalta.

“Daí, veio esse lado da militância de reivindicarmos, cobrarmos e construirmos políticas públicas mais efetivas para nossa música, tanto no espaço do Sindicato dos Músicos que a gente constroi, quanto de movimentos da sociedade civil, como o Música do Ceará”, avança Dalwton.

O artista destaca, por exemplo, a construção da base de um plano estratégico de desenvolvimento da música do Estado, entregue a diferentes entes públicos e privados ligados ao setor, além da concretização de projetos que criam temporadas permanentes para artistas de diferentes gêneros, como o Jazz em Cena.

Entre desafios da música cearense, Dalwton cita a ausência de artistas do Estado em eventos públicos e privados; menor qualidade técnica disponível para apresentações; e disparidade de cachês.

“A gente percebe que essa luta, 25 anos depois desse marco, continua em grande parte semelhante”, avalia.

“Temos tantos artistas incríveis, uma produção tão diversificada. Não é aceitável e razoável que ela não tenha meios para chegar a mais pessoas. Daí vem o lado da produção, também, de produzir o show que você queria assistir e que ninguém está produzindo. Como levar isso para as pessoas?”, reflete.

“Dá um trabalhão, você se sente movendo montanhas, rolando pedra acima da montanha para depois começar tudo de novo. É um grande desafio enfrentar condições adversas, mas sem isso não aconteceriam encontros entre diversos colegas da cena, o público não teria acesso a apresentações. A cada entrevista concedida, mais pessoas vão poder tomar consciência dessa produção musical e escutar melhor”
Dalwton Moura
cantor, compositor e produtor

Cena plural reúne diferentes gerações

As citações de parcerias e trabalhos em coletivo são constantes na fala do artista, que traz ao evento celebratório de 25 anos de trajetória musical o mesmo espírito. “É um movimento coletivo por definição promover essa cena, compreendendo que ela é plural, diversa, com muitos pontos de vista, expressões e realidades diferentes”, reconhece.

Para o show desta quarta-feira (14), Dalwton explica que a busca foi “contemplar diversos parceiros destacando justamente essas variedades”, ainda que com os desafios de conciliar agendas e presenças. 

“Foi uma forma de congregar e mostrar a diversidade das parcerias. Tem um encontro de gerações, vem desde o Roger (Rogério) com 80 e o Luciano (Franco) com 73 anos a pessoas na casa dos 20 anos”, afirma.

Para a cantora Idilva Germano, que irá participar do show como convidada, Dalwton é descrito como “uma pessoa naturalmente agregadora, com muita competência para o diálogo e para o trabalho coletivo”. 

“O show de celebração de sua trajetória é um desses eventos que levam essa marca bonita de reunir músicos jovens e de longa estrada para mostrar o nosso valor e a nossa cara”, define ela, que reconhece “dever muito” ao artista.

Ela credita à “insistência” de Dalwton o próprio retorno à música, há 10 anos, após um período afastada. “De lá pra cá, praticamente todos os meus trabalhos tem alguma coisa a ver com os espaços que ele abre na cidade com esse fim”, destaca.

“Sua atuação militante, creio, deriva de seu afeto e seu imenso respeito pelos nossos músicos, e também do reconhecimento da dureza dessa carreira na cena local que acaba precarizando a trajetória musical e a vida desses artistas. Acompanho seu empenho em abrir caminhos alternativos para artistas compositores e intérpretes que andam sumidos, e por isso mesmo desanimados com a carreira”
Idilva Germano
cantora

Como Idilva, a cantora Bárbara Sena também depõe sobre a importância do artista na própria trajetória. “A presença do Dalwton sempre tem sido uma benção na minha vida artística. Desde o meu primeiro grupo musical, o Fulô de Araçá, que tocava choro e brasilidades, ele tava lá”, reconhece.

Filha de Tarcísio Sardinha, ela conta que conheceu Dalwton pelo pai. “Ele me apresentou com entusiasmo seu amigo jornalista e compositor de canções”, recorda. A dupla dividirá pela primeira vez o palco no evento do Cineteatro São Luiz. 

“Unidos mais uma vez pelo Tarcísio Sardinha e pela música”, destaca a artista, que cantará “Fim de Tarde”, parceria entre o pai e Dalwton. “Essa possibilidade de troca é de uma beleza incrível. Poder apreciar e ser tocado pelo outro, além de se doar. Todos juntos em prol de um objetivo maior que é fazer arte, produzir sonhos”, celebra Bárbara.

A intenção é ecoada pelo próprio Dalwton. “Isso renova as energias para seguir batalhando. Cada um que está participando do show é um universo, tem trajetória, e se as pessoas puderem, a partir daí, se sentir motivadas e com curiosidade de conhecer mais da obra de cada um, já será o grande mérito dessa apresentação”, celebra.

Show Dalwton Moura 25 Anos de Música - Tantos Versos, Sonhos e Canções - Parceiros e Intérpretes

  • Quando: quarta (14), às 19 horas
  • Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
  • Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia); ingressos limitados a 80 lugares, já à venda na bilheteria e na plataforma Sympla
  • Mais informações: @musicadoceara e @cineteatrosaoluiz