Shakira e Miley Cyrus: o que gera tanto engajamento em conteúdos sobre relacionamentos frustrados?

As cantoras lançaram na última semana músicas falando sobre os términos de casamento e alcançaram o topo das paradas mundiais

Shakira e Miley Cyrus alcançaram o topo das paradas na última semana com músicas que retratam seus términos. Cantando as dores de relacionamentos que não acabaram tão bem, elas transformaram a tristeza e o luto e engajaram uma leva do público que tanto se identifica quanto sente curiosidade sobre a intimidade de pessoas famosas.  

Lançada no dia 13 de janeiro em parceria com o produtor Bizarrap, “Music Session #53” traz diversas alfinetadas de Shakira para o ex-marido Gerard Piqué. O casamento dos dois acabou no ano passado por conta da infidelidade do ex-zagueiro do Barcelona, que vive hoje um relacionamento com a amante, a estudante de Relações Públicas Clara Martí. 

O nome do pivô da separação é até usado como referência no refrão da música da cantora colombiana. “Ela tem nome de pessoa boa / Claramente, não é como soa / Ela é igualzinha a você”. Essas e tantas outras sacadas sarcásticas compõem a letra do single.  

Miley, por sua vez, deu outro tom. Mostrou para o ex-marido Liam Hemsworth, com quem se relacionou por quase uma década entre diversas idas e vindas, o amor-próprio que conquistou após o relacionamento abusivo.  

Quando a cantora começou a se desvencilhar da imagem de “boa moça” da personagem Hannah Montana, Liam não gostou muito e reprimia Miley por atitudes mínimas. “Pinto minhas unhas de vermelho cereja / Combinam com as rosas que você deixou / Sem remorso, sem arrependimento / Eu esqueço cada palavra que você disse”, diz um trecho da música.  

Términos vendem?  

A temática não é nova, traições, problemas amorosos, “dor de cotovelo”, términos e decepções já foram abordados diversas em músicas, mas ainda assim o alvoroço com esses lançamentos foi grande. Em menos de uma semana, o vídeo da música de Shakira no YouTube já conta com mais de 74 milhões de visualizações, enquanto o da Miley tem quase 50 milhões.  

O que explica esse fenômeno, para a psicóloga comportamental Sarah Laurentino, é que existe, de certa forma, uma identificação. “É aquela ideia de que a vida imita a arte. Se não aconteceu com você, aconteceu com alguém que conhece”.  

“No caso da Miley, que processa isso num tempo muito único, o relacionamento dela terminou já tem um tempo, então tem a ver com trazer um pouco da narrativa para o controle dela, sob a ótica dela. Transformam isso sobre elas, sair do lugar de vítima”.  
Sarah Laurentino
psicóloga

Baseado em fatos reais  

Outro ponto destacado pela psicóloga é que, por se tratar de uma história real, a curiosidade do público é despertada e provoca o desejo de querer saber detalhes sobre o caso, o contexto, quem está envolvido.  

Além disso, isso causa uma humanização dessas figuras, que possuem uma realidade tão distante por conta da fama. “São mulheres incríveis, bonitas, famosas, tem dinheiro, corpo padrão e, mesmo assim, foram traídas. A gente passa a se questionar esse lugar de que trair tem mais a ver com quem trai do que com falta de qualidades ou excesso de defeitos de quem foi traído”, ressalta. 

“Tem a parte ainda de como as pessoas gostam de dar conta da vida das mulheres. Há críticas por elas terem feito as músicas, mas não criticam os homens envolvidos na história sobre os atos”, acrescenta Sarah.  

Dor de cotovelo?  

É claro que há quem critique os lançamentos. Felipe Neto, por exemplo, publicou no Twitter sobre o assunto. “Essa disputinha de provocações entre Piqué e Shakira é típica de quem não superou e não consegue parar de chamar a atenção do outro. Parecem dois adolescentes”.  

Será que as músicas são uma forma de lidar de quem ainda não superou? O que representa essas canções sobre os sentimentos dessas mulheres? 

A psicóloga pontua que é preciso entender que superação se trata de um processo individual, logo, cada pessoa lida de uma forma e depende do contexto, do que aconteceu e de quem estava envolvido.  

"Sendo assim, eu não concordo em taxar que é uma dor de cotovelo ou que não superaram. É um processo único que cada pessoa vai lidar de um jeito e não cabe a ninguém dizer como alguém deve ou não sofrer, porque é um luto, é o fim de um relacionamento importante, no caso da Shakira tem filhos envolvidos”. 
Sarah Laurentino

Sarah analisa que Shakira está envolta em um sentimento de vingança, algo natural do ser humano, enquanto Miley viveu um relacionamento abusivo. “É normal que, quem passe por isso, só se dê conta anos depois do que aconteceu”.  

“Eu achei a música dela terapeutizadíssima, mostra o que ela consegue fazer por ela, que o amor não é só o amor romântico, e eu posso e devo amar a mim mesma”, finaliza.