Que o Ceará faz música boa, disso ninguém duvida. Poucos são os espaços, porém, capazes de estimular a cena autoral e independente. Não é o caso do Festival Made in CE. O evento vai na contramão do convencional ao investir em artistas e bandas da terra distantes do mainstream. A programação acontece neste domingo (5), a partir das 16h, no Vibe 085 Pub.
Oito atrações estão confirmadas até o momento: Felipe Cazaux, Apollo85, Leves Passos, Backdrop Falls, Comodoro e os Tubarões, D'OUT, Regina Kinjo e Gravatas Borboletas. As formações abraçam do rock ao pop, passando pela música alternativa. Em comum entre elas, o fato de fazerem barulho muito além das redes sociais e das plataformas de streaming.
"O festival se projeta na cena com um posicionamento de que o autoral feito aqui não somente é interessante como também viável. Percebemos que tem muita gente excelente fazendo música no Ceará, e um público ávido que quer conhecer o que está sendo produzido de novo. O objetivo do evento é promover esse encontro entre artistas e público, além de gerar networking entre os músicos".
Quem situa a iniciativa é Airton Martins, organizador do evento. O músico, advogado e produtor cultural destaca que a programação foi pensada de forma a privilegiar artistas nascidos ou radicados no Ceará, independentemente do estilo musical. O único critério é fazer som de qualidade.
"Priorizamos quem tem boas composições, daquelas que prendem o ouvinte, e um perfil bem fundamentado, que dê a entender que o artista tenha ou queira buscar uma carreira". Nessa conta, o fator do ecletismo também entrou em voga.
Se o rock é o carro-chefe do evento, nomes como Leves Passos, Gravatas Borboletas e Regina Kinjo – cujo mergulho se dá desde estilos musicais alternativos, a exemplo do sinth, até samba/soul rock e MPB – garantem novos ares ao line-up.
A intenção é realmente proporcionar a melhor experiência possível aos mais exigentes e diversos ouvidos. O festival tem produção do grupo @bandas.ce, perfil que concentra muitos dos novos talentos do Estado.
No Ceará tem disso, sim
Segundo Airton Martins, o cenário autoral cearense é repleto de músicos talentosos e capacitados que, infelizmente, não possuem o espaço necessário para se firmarem e florescerem.
"O poder público melhorou bastante nos últimos anos e chegou mais junto desse mercado. Mas jamais será o suficiente, pois não podemos só depender do Estado para colocar pra frente esse mercado que é um gigante adormecido local. O Estado tem limites".
Para ele, o que falta é um projeto sólido por parte do mercado autoral cearense. Ainda hoje, ele não consegue agregar setores capazes de gerar visibilidade a artistas, a exemplo do setor de bares e restaurantes, que priorizam covers por falta de solidez do mercado autoral.
"Além disso, com relação à falta de espaço, muitas vezes o artista não consegue entrar em festivais que ocorrem aqui pois a produtora não quer dar espaço – não por falta de musicalidade, mas sim por falta de firmeza na apresentação do artista ou por falta de público para esse artista que, infelizmente, jamais teve oportunidade real de levar seus trabalhos aos mais diversos públicos".
Em uma análise mais aprofundada, Airton diz serem poucos os novos artistas cearenses que conseguem espaço. Quando conseguem, é por que são extremamente capacitados após anos de muito trabalho duro, como o caso dos Selvagens à Procura de Lei.
"Redes sociais e streamings te levam até certo ponto, mas jamais fazem o trabalho de divulgação que uma turnê faz. É necessário um olhar no sentido de não só fazer um evento, mas também congregar nossos artistas de forma que possamos estimular essa mudança que, primeiramente, tem que começar deles para depois provocar mudanças nos parceiros e no público. Exige muito trabalho, mas o retorno vem".
Serviço
Festival Made in CE
Neste domingo (5), a partir das 16h, no Vibe 085 Pub (Av. Almirante Barroso, 877 - Praia de Iracema). Abertura dos portões às 15h. Ingressos: por meio deste link, no perfil do festival no instagram