Tem estreia de musical cearense nos palcos. Nos dias 19 e 20 deste mês, às 19h, o Cineteatro São Luiz recebe o espetáculo "Caetanas". Com direção de Ariza Torquato e André Ximenes, que também assina a dramaturgia, a peça ilumina o protagonismo feminino que marca inúmeras comunidades originárias do Ceará.
O elenco é formado pelas atrizes e cantoras Adna Oliveira, Fabíola Líper, Muriel Cruz e Di Ferreira. As artistas enriquecem a produção ao explorar a vivência de cada uma delas em seus personagens. Com direção musical de Ayla Lemos e Pedro Madeira, a produção abraça canções imortalizadas pela poesia de Caetano Veloso.
Conversamos com o autor da peça e as atrizes Fabiola Líper e Adna Oliveira. A partir de "Caetanas", o público tem diante de si uma ficção que ilumina o direito à terra, moradia e a preservação da cultura. Em cena, um jogo cênico inspirado na luta protagonizada por populações tradicionais espalhadas pelo Estado.
Criando 'Caetanas'
O texto se inspira na trajetória de resistência e perseverança que marca a realidade de inúmeras comunidades tradicionais do Ceará. Como, por exemplo, as populações originárias ligadas a pesca artesanal. Em cena, o musical narra a vida de quatro mulheres que moram num vilarejo litorâneo ameaçado de invasão pela especulação imobiliária.
Em meio a esta difícil realidade, o enredo apresenta Luzia (Adna Oliveira), mulher negra, que aos 60 anos reencontra o grande amor da juventude. A partir dela é conduzida o fator tempo no espetáculo. Presente, passado e futuro giram em torno dela, argumenta o diretor André Ximenes.
Carioca radicada no Ceará, a cantora Adna Oliveira compartilha da construção em torno de sua Luzia. Parte do processo trouxe um profundo olhar de si e das semelhanças com a jornada da personagem. Ambas são apaixonadas e enfrentaram dificuldades.
"Vou acessando estas memórias que são doloridas e reais à vida de todos. Ao final, ela mesmo passando por essa tristeza, sendo apaixonada e ter perdido um grande amor, ela não deixa de lutar por suas questões sociais, por ser uma mulher que vive em uma ilha ,numa comunidade de pescadores e sabemos dos entraves que esses locais carregam".
Fabiola Líper interpreta Teresa. "Mulher de fibra, lutadora. Que não desiste do que ela é das suas causas", nos conta a atriz. A concepção desta guerreira envolve inspirações em mulheres como Gal Costa (1945-2022) e Sônia Braga, descreve.
Gal por ser essa mulher libertária na MPB, que trouxe uma nova música nos anos 1970 e pelo que ela é em si. Sônia é dona de papel fundamental enquanto pessoa pública e artista. Que se coloca, sempre esteve à frente do seu tempo e uma mulher que briga muito pelas causas sociais, ambientais e toda forma de justiça social, conta Líper.
Música e experiência dos sentidos
"A uns dois anos fiz algumas viagens pelo litoral do Ceará e tive contato, na verdade, fui atravessado pela natureza preservada e viva. E o que mais me emocionou é que sempre nessas paisagens tinha uma comunidade que era responsável pela preservação", descreve Ximenes.
Essas histórias repletas de coragem marcam o texto. "Eram lideradas por mulheres e isso me tocou muito. Escrevi a partir daí uma história ficcional, com uma mescla de referências", detalha o criador de "Caetanas".
Contudo, lembra o dramaturgo, as quatro mulheres possuem o mesmo espaço e relevância na trama. "Todas as personagens são protagonistas e possuem destaque horizontal, cujo papel guarda importante relação à história e enredo", descreve Ximenes.
O musical conta com as canções de Caetano Veloso para mergulhar nessa história e convida o público a cantar junto clássicos como “Não identificado” e “Tigresa”. "Este repertório veio como um presente", conta o codiretor. O contato com a discografia do baiano foi aprofundado durante a escrita da peça, que diga a poesia da canção "Força Estranha".
As músicas de Ceatano tem a característica de serem sinestésicas. Tem cor, cheio, gosto e lhe ajudam a trazer para o real os nossos sentidos"
Além das composições de sucesso de Caetano Veloso, os ritmos da cultura popular cearense, como o Coco e o Maracatu, também enriquecem o repertório do musical. Aqui, a produção contou com a mentoria do ator, performer, dançarino, artista circense e brincante do Maracatu Solar, Gil Rodriguês.
Serviço: “Caetanas”. Dias 19 e 20/04, às 19h, no Cineteatro São Luiz. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Venda online aqui.