Há quase metade de sua carreira na indústria musical, Britney Spears não detém o controle sobre sua própria vida. Mantida sob tutela do pai há doze anos - momento marcado pelo colapso mental que resultou em sua hospitalização e reabilitação -, a cantora pop tem sua vida pessoal e profissional totalmente controlada. Preocupados, os fãs deram início ao movimento #FreeBritney ("Liberte a Britney", em português), que tem sido pauta recorrente nas redes sociais nos últimos meses.
A campanha vem ganhando força na web após um usuário do TikTok ter publicado um vídeo afirmando que a cantora vive sob abusos do pai, Jamie Spears, que controla o dinheiro e a saúde de Britney. A hashtag entrou para os Trending Topics (assuntos mais comentados) do Twitter no início do mês de julho.
Para entender o movimento, é preciso voltar para 2007, ano que marcou o início da batalha relacionada à saúde mental da artista. Com dois filhos pequenos, ela vivia o fim de seu casamento com Kevin Federline, processo acompanhado intensamente pela mídia. Após um ano de comportamentos considerados incomuns, como raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzi com um guarda-chuva, a cantora foi colocada em um hospital psiquiátrico, por conta de problemas mentais e abuso de drogas.
Desde então, Jamie requereu aos tribunais uma tutela "temporária" de emergência, afirmando que a filha era incapaz de cuidar de si mesma. O pai recebeu, então, o direito legal de supervisionar e tomar decisões sobre dinheiro, saúde, negócios e vida pessoal de Britney, o que fez até 2019.
No último ano, a tutela foi transferida para Jodi Montgomery, que trabalhava como cuidadora de Britney há algum tempo. Segundo o portal TMZ, a mudança teria ocorrido porque Jamie dizia estar doente.
Preocupação
Entretanto, há muito tempo os fãs se preocupam e questionam os termos do acordo. Porque, aos 38, Britney ainda não tem liberdade para tomar simples decisões? Qual o verdadeiro diagnóstico da cantora, que a mantém sob tutela até os dias de hoje? O assunto voltou à tona ano passado, quando a artista foi internada novamente em uma clínica de reabilitação. Apesar de Britney afirmar ter sido uma decisão voluntária, fãs acreditam que ela foi colocada por ordem do pai, contra sua vontade.
Recentemente, o movimento ressurgiu por causa de um episódio do podcast “Britney's Gram”, no qual um advogado anônimo, que já trabalhou na empresa que supervisiona a tutela, demonstrou preocupação com a estrela pop e a vida comandada pelo pai.
Os vídeos publicados pela cantora nas redes também foi assunto comentado pelos internautas. Enquanto alguns zombaram da forma com que a cantora se expressava, dançava e se vestia, outros defendiam que as danças seriam a única maneira que ela tem de se expressar livremente.
Um fã também publicou um vídeo no TikTok onde sugere que Britney recebe, diariamente, “uma quantidade absurda” de antipsicóticos que fazem com que ela tenha aparência de instabilidade mental. Ele afirma ainda que ela ter se recusado a tomar os medicamentos foi o motivo de sua internação.
O irmão mais velho dela, Bryan Spears, afirmou recentemente em uma entrevista que a família está "esperando o melhor", mas também está preocupada com o que pode acontecer quando a tutela acabar. "Ela está cercada do mesmo time de pessoas desde que ela tem 15 anos. Quando que devemos parar com isso ou reduzir a equipe?", questionou Bryan. Porém, ele admitiu que Britney "sempre quis se livrar" do acordo, algo que ela tem dito desde 2008.
Já a irmã mais nova, Jamie Lynn Spears, respondeu os críticos que afirmavam que ela e a família não estavam fazendo o suficiente para apoiar Britney.
"Se você lida com uma doença mental ou cuida de alguém que está lidando com uma doença mental, então você sabe como é importante respeitar a situação com privacidade para a pessoa e a família tentando proteger seus entes queridos, não importa o que possa parecer o público, e como público, devemos aprender a fazer o mesmo ", escreveu em uma postagem no Instagram.
“[As pessoas] não têm o direito de presumir nada sobre minha irmã, e eu NÃO tenho o direito de falar sobre a saúde dela e assuntos pessoais. Ela é uma mulher forte, durona e imparável, e essa é a única coisa que é ÓBVIA”, concluiu. Jamie Lynn também foi recentemente nomeada a curadora da fortuna de Britney.
E agora?
Em maio de 2019, Britney disse no tribunal que foi obrigada pelo pai a se internar e foi forçada a tomar medicamentos. A versão foi apoiada pelo advogado da mãe da cantora. Em contrapartida, Jamie divulgou laudos dizendo que ela sofria de demência, o que daria a ele o direito de mantê-la sob sua tutela.
Desde então, a artista travou uma batalha contra o pai. A vontade da artista é que uma empresa especializada cuide de suas finanças e carreira. Em agosto deste ano, Britney entrou com um pedido para a Suprema Corte da Califórnia para que o pai não seja mais seu tutor. Segundo os documentos, ela pede para que Jodi Montgomery assuma a posição.
A artista pediu também para que todo seu patrimônio, avaliado em US$ 200 milhões (R$ 1,09 bilhão), seja cuidado por um profissional na área, além de solicitar mais liberdade para tomar as suas decisões artísticas e pessoais.
Segundo o site TMZ, Britney Spears não conseguiu ganhar o processo e continua sob a tutela do seu pai.
Após a repercussão que o caso voltou a ter nas redes sociais, muitos fãs voltaram a usar a hashtag #FreeBritney para pedir a liberdade da cantora, que declarou apoio ao movimento. O protesto vem ganhando cada vez mais apoiadores e conta com a participação de Miley Cyrus, Paris Hilton e Ariel Winter.
Ouça o podcast "Diz, Mulher":