Formado no Ceará, médico potiguar é um dos pioneiros da acupuntura no País

A história do Dr. Evaldo Leite se embrenha ao percurso da acupuntura no Brasil, da década de 1950 até hoje

Aos 90 anos, Dr. Evaldo Martins Leite impressiona pela disposição de uma vida entregue aos cuidados com o ser humano. Por ele, passa a evolução da prática da acupuntura no País. Restrita, até a década de 1950, às comunidades orientais radicadas no Sudeste, a terapia com agulhas ganhou respaldo social a reboque do fôlego do médico.

Natural de Areia Branca (RN), o acupunturista veio morar em Fortaleza em meados dos anos de 1940, e foi aluno da terceira turma de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). "Fiquei aqui de 1946 a 1955. Sou mais cearense do que potiguar. Transformei-me em gente aqui. A faculdade era muito rigorosa: queria ser exemplar, porque era um curso novo. Eram 60 vagas abertas, mas só passaram 10 alunos", recorda.

Pesquisa

Ainda na faculdade, Evaldo conheceu a acupuntura lendo uma revista francesa. "Fiquei curioso sobre aquela possibilidade terapêutica. Colocar uma agulha ali pra tratar do fígado, que história é essa? Daí comecei a pesquisar. Aqui no Ceará, não achei nada em bibliotecas, na faculdade de Biologia, nada", conta.

O médico "peregrinou" atrás de referências mais sólidas sobre a prática chinesa e encontrou uma base no Rio de Janeiro (RJ). "Teve a Segunda Guerra, e os orientais em São Paulo, naquele tempo, eram muito fechados. Uma tia no Rio, então, descobriu um médico alemão que também praticava, Frederic Spaeth. Ele tinha vindo para o Brasil fugido da perseguição nazista", lembra.

Evaldo passou a acompanhar Frederic nos atendimentos em São Paulo e desenvolveu uma pesquisa própria. Além da fundação da Associação Brasileira de Acupuntura (ABA), em 1958, a acupuntura aplicada em vegetais, por exemplo, é uma de suas descobertas. De início, Evaldo Leite foi processado três vezes. Era médico e ensinava acupuntura, um conhecimento "não-médico".

De acordo com ele, a perseguição na época foi muito grande.

Hoje, mudou bastante aquela visão de que a acupuntura é um procedimento de charlatão. Ano passado, o SUS reconheceu o reiki, a homeopatia, e outras práticas integrativas como terapêuticas para a saúde das pessoas", sustenta.

Na jornada pela acupuntura, o médico esteve no caminho de outras referências solidárias. Em São Paulo, teve como paciente o líder espírita Chico Xavier (1910-2002)."Ele morava em Minas (Uberaba). Mas quando tinha condições de viajar, ia para São Paulo e recebia acupuntura. Cliente nota 10 (risos)", brinca.

Para chegar aos 90 anos com tanta vitalidade, o médico conta que já atravessou os "quatro períodos físicos" compreendidos pela prática que abraçou por vocação. "Para a acupuntura, dos 0 aos 30 anos você tem o período da juventude; do 30 aos 60, é a mocidade; dos 60 aos 90, a maturidade; e o último período é dos 90 aos 120. É a viagem que eu farei agora", reflete com sabedoria.