Eliana Cardoso vence a terceira edição do Prêmio Kindle de Literatura, com a obra 'Dama de Paus'

Veterana escreveu livro pela ferramenta de autopublicação da Amazon, em que desenvolve narrativa sobre feminicídio

Lá fora, São Paulo registrava frio e garoa intermitente. Um caloroso espírito de confraternização e festa, porém, invadia o interior da Casa do Saber, aconchegante espaço formativo localizado no Itaim Bibi, na capital paulista.

Foi lá que aconteceu, na última terça-feira (26), a entrega do Prêmio Kindle de Literatura, iniciativa conjunta entre a Amazon Brasil, a ferramenta de autopublicação Kindle Direct Publishing (KDP) e a Editora Nova Fronteira.

Na terceira edição, o evento elegeu como vencedora a escritora e economista mineira Eliana Cardoso, veterana no ramo editorial - publicou "Bonecas Russas" (2014) e "Nuvem Negra" (2016), ambas pela gigante Companhia das Letras. Desta vez, a autora agiu na contramão, voltando-se para a seara independente ao desenvolver e disponibilizar, online, o novo romance no KDP.

A escolha, vale ressaltar, alimenta reflexões a respeito não apenas do potente alcance da ferramenta, mas também das diferentes maneiras de trazer à tona narrativas antes engavetadas, inclusive por renomados nomes no setor.

"Eu acho que as editoras são de muito difícil acesso, e o KDP é absolutamente democrático. Qualquer pessoa que sabe apertar um botãozinho consegue colocar seu texto e vê-lo publicado no dia seguinte", considera Eliana. "No lugar de depender de um relatório semestral de uma editora, todos os meses ou dias, se eu quiser, posso acompanhar a venda dos livros. E o depósito chega fielmente no fim do mês, sem desculpa que, por exemplo, a livraria não pagou ou não sei o que faliu", avalia.

A obra que fez a literata vencer o concurso - este a cada edição despontando como um dos mais importantes eventos no que toca à apresentação de novas vozes narrativas da ficção brasileira - foi "Dama de Paus", escolhida entre mais de 1.500 exemplares inscritos entre agosto e outubro do ano passado.

O enredo é o mais atual possível: joga luz sobre a temática do feminicídio ao narrar um crime ocorrido em Minas Gerais.

Nas palavras de Janaína Senna, editora de Literatura Nacional da Nova Fronteira e uma das juradas da premiação, "é um romance intenso e delicado, que envolve e surpreende o leitor, construindo a história de uma família por meio das relações afetivas de três gerações de mulheres. O suicídio da neta e os escritos deixados por ela, junto a suposições reveladas na mesa de um jogo de cartas, fazem com que a protagonista revisite episódios do passado em que precisa lidar com culpa, apreensão e aceitação".

Reconhecimento

Ao receber o troféu em mãos - perpetuando o legado de Gisele Mirabai, vencedora da primeira edição do prêmio, e Mauro Maciel, da segunda - Eliana também fatura R$ 30 mil e tem sua obra publicada em formato físico pela Nova Fronteira. Para conquistar o posto, enfrentou quatro outros escritores: Bruno Loureiro Mahé, Maria de Regino, Maria José Silveira e N. R. Melo.

Ainda que tendo que eleger apenas uma pessoa vencedora, Talita Taliberti, gerente de Kindle Direct Publishing na Amazon Brasil, acredita que muitos saem vitoriosos com o projeto. "A oportunidade de participar do prêmio dá uma visibilidade muito maior ao autor e à obra. Para se ter uma ideia, os títulos escritos para o prêmio durante o período de inscrição tiveram oito vezes mais visualizações do que os outros livros autopublicados na nossa loja. E isso acabou gerando sete vezes mais downloads do que a média dos outros livros", quantifica.

Algo reforçado pela escritora Sônia Rodrigues, outra jurada da competição, juntamente ao poeta membro da Academia Brasileira de Letras, Antônio Carlos Secchin. Segundo ela, em tempos estranhos de Brasil, é cada vez mais necessário abrir espaço para a democratização da produção criativa.

"Acho que para escrever ficção você tem que ser tão generoso, se expor tanto... A autopublicação, assim, permite que se faça isso e que as pessoas possam ler o que você tem a mostrar. Isso é maravilhoso porque, de fato, ser escritor é dar a cara a tapa", sublinha.

E, sobretudo, continuar. Tanto é que Eliana Cardoso adianta estar escrevendo outra história envolvendo mais uma temática, conforme cita, "quente".

"É sobre o envelhecimento a partir de duas perspectivas diametralmente opostas. No momento, estou realizando uma pesquisa para embasar o romance". Sentidos atentos, então. Aguardemos o que vem por aí.

*O jornalista viajou a convite da Amazon Brasil