Ednardo celebra longevidade da carreira com show '50 Anos de Canções'

Artista se apresenta em Fortaleza nesta quarta-feira (31), no Cineteatro São Luiz; ingressos estão esgotados

Em celebração às mais de cinco décadas de carreira, o cantor Ednardo sobe ao palco do Cineteatro São Luiz nesta quarta-feira (31), às 19h, com o repertório especial do show “50 Anos de Canções”. Com ingressos esgotados, a apresentação deve reunir cerca de 15 músicas de diversas fases da carreira do cantor, desde o início nos anos 70 até os dias de hoje.

Clássicos como Pavão Mysteriozo, Longarinas e Ingazeiras são algumas das canções escolhidas pelo artista para a ocasião. Gravações mais atuais, como De Areia e Vento, feita em parceria com Tânia Cabral nos anos 70 e lançada oficialmente apenas em abril deste ano, também devem compor a setlist.

Ao Verso, o artista cearense conta estar empolgado por tocar acompanhado por “uma banda maravilhosa de músicos do Ceará, todos competentíssimos, talentosos e muitos dedicados”. 

O grupo é composto pelos músicos Herlon Robson (teclado), Carol Damasceno (vocal), Rogério Soares (vocal), Carlinhos Patriolino (guitarra), Miguel Caldas (baixo), Carlos Montanha (trompete), Hanry Gael (sax e flauta), Israel Lourenço (trombone) e Igor Ribeiro (bateria).

O título “50 Anos de Canções”, segundo Ednardo, veio por ser sonoro, um número redondo. Na verdade, já são 52 anos de carreira, a contar do álbum “Meu corpo, minha embalagem, tudo gasto na viagem”, gravado em 1972, em parceria com Rodger Rogério e Téti, que ficou conhecido como o primeiro registro fonográfico do Pessoal do Ceará.

“Eu me sinto muito feliz em estar cantando por esse motivo, porque não é para qualquer um”, comenta o artista, entre risadas. “Poucos artistas, um clube muito seleto, comemoram mais de 50 anos de trabalho”, completa.

Revisitar a trajetória profissional e pessoal, aliás, tem rendido frutos que vão além da música. Até abril de 2025, mês em que Ednardo completa 80 anos, um livro sobre sua vida deve ser lançado – mais do que uma biografia, uma reunião de sua obra artística e de seus pensamentos sobre a vida. O livro tem autoria do jornalista Luã Diógenes, ilustrações de Rafael Limaverde e pinturas feitas pelo próprio Ednardo.

“Temos ideia de outras coisas mais, mas como por enquanto elas não estão concretizadas objetivamente, eu prefiro guardar segredo”, ressalta o cantor. Ao longo do ano, o artista deve seguir revisitando seu repertório e divulgando o EP “Ednardo – Canções Inéditas”, lançado em abril.

50 anos de Pavão Mysteriozo

Gravado em 1973 e lançado no ano seguinte, o álbum O Romance do Pavão Mysteriozo, primeiro solo de Ednardo, também completa um marco importante em 2024. Criado em um dos momentos mais prolíficos da música brasileira, o disco se tornou uma das obras-primas da música cearense e reflete o duro momento histórico pelo qual o Brasil passava, após quase uma década de ditadura militar.

Para Ednardo, os anos 70 foram uma época muito simbólica e muito importante para os compositores brasileiros devido à necessidade de lutar contra a repressão. “Foi um momento de tomada de consciência de que a gente deveria participar da resistência artística em relação à ditadura que estava acontecendo”, destaca Ednardo. 

“Muitas músicas foram realizadas com esse tom, esse foco, essa pegada. Isso foi muito importante para a música popular brasileira, e me sinto honrado de ter participado desse grupo dessa forma”, completa.

Compositor, produtor cultural e vice-presidente do Sindicato dos Músicos do Ceará, Dalwton Moura ressalta que a contestação em Pavão Mysteriozo era, por vezes, “alegórica, sutil, mas sem deixar de ser contundente ao regime ditadorial”. 

“A canção [Pavão Mysteriozo] trouxe muito isso. ‘Eles são muitos, mas não podem voar’ é um verso clássico que permanece até hoje, relembrando a resistência das pessoas a essa época de arbítrio”, completa.

A faixa-título foi uma das responsáveis pelo início do sucesso nacional e internacional de Ednardo. Em 1976, dois anos após o lançamento do disco do artista, Pavão virou trilha sonora da novela Saramandaia, da TV Globo, se tornando parte do dia a dia e do imaginário coletivo. “Foi sem dúvida uma mensagem de alento a quem estava sofrendo, à população brasileira que estava sofrendo naquele momento”, ressalta Dalwton.

‘Pavão Mysteriozo’ é uma música que traz esse elemento da cultura popular nordestina, reprocessado dentro desse caldeirão da indústria cultural de massa, que consegue se manter cativante, muito moderna e muito chamativa por esse lado misterioso. As cadências que ela tem, as partes mais lentas, as pausas que ela tem ao trazer isso e a batida do nosso maracatu cearense.
Dalwton Moura
Compositor e produtor cultural

Outras canções clássicas e com mensagens que se eternizaram também fazem parte do álbum, como “A Palo Seco”, de Belchior; “Varal”, com a parceira e amiga Tânia Cabral; o bolero “Dorothy Lamour”, de Petrúcio Maia e Fausto Nilo; e “Carneiro”, composta em parceria com Augusto Nunes, que destaca a luta dos artistas cearenses que precisaram ir para o Sudeste para tentar viver de sua música – saga que permanece atual, destaca Dalwton.

“É uma música muito emblemática e que traz essa reflexão que a gente precisa até hoje: construir uma mudança de política pública, de olhar da iniciativa privada sobre a nossa cena musical. Construir um outro olhar”, pontua.

Serviço
Show “Ednardo - 50 Anos de Canções”
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Horário: 19h
Ingressos esgotados