Do auge nos anos 1990, pó de guaraná segue popular nas ruas de Fortaleza, mas perde espaço para açaí

Presente há décadas no paladar dos fortalezenses, a vitamina ganhou a concorrência do açaí, mas continua sinônimo de vitalidade e sabor

Dos sabores apreciados nas ruas de Fortaleza, a vitamina com pó de guaraná reina no cotidiano de muitos apreciadores. Além deste rico insumo, a receita tradicional da bebida inclui castanha, amendoim, gelo, água, xarope e limão. Poder variar a gosto do cliente.

Liquidificadores e agilidade na hora do preparo. Ótimo para o sol escaldante. Para muitos, fonte de energia no corre diário. Popular em décadas passadas, a vitamina podia ser encontrada em diferentes espaços da capital. Banquinhas em praças. Portas de casa. Pontos de ônibus. Saídas de lotéricas e supermercados. Afrodisíaco urbano no movimento. 

Em meio ao sucesso do guaraná, outra delícia amazônica conquistou o paladar da população. O açaí ganhou espaço cativo. Cada fã tem sua forma particular de consumir. O fruto enraizou-se na cidade. Tem até quem bote a “roupa de sair” para comer. Mesmo com a saborosa concorrência, o guaraná continua na pista. 

Nativo do território pertencente aos Sateré-Mawé, o "waraná" simboliza o nascimento deste povo. Os "filhos do guaraná", como são conhecidos, foram os primeiros a dominar o guaranazeiro. Criaram uma cultura que consolidou a identidade brasileira mundo afora. Visitamos locais de venda para entender como o pó do guaraná se entrelaça com a vida de quem gosta e trabalha com este sabor inigualável.  

'Toma um guaraná...'

De domingo a domingo, nos últimos 28 anos, Paulo César sai de Pacajus para o trabalho com pó de guaraná no Centro de Fortaleza. Localizado na Rua Floriano Peixoto, quase esquina com Avenida Duque de Caxias, ele comanda o "Kanto do Açaí". Contudo, chegando lá, procure o "Fera".

Basta ver César em ação para entender a origem do apelido. No atendimento todos são chamados carinhosamente de feras. Mesmo tendo "açaí" na placa da casa, Fera diz que o guaraná é a estrela de sua jornada até aqui. "Meu irmão já trabalhava no Ponto do Guaraná e me trouxe. Estou até hoje vendendo".

Ele relembra como o era o comércio nos anos 1990. "Era raridade. O pioneiro sempre foi o 'Ponto do Guaraná'. Depois é que todo mundo colocou uma banquinha. Hoje, ficaram só antigos mesmo". Em julho de 1992, notícia divulgada pelo Diário do Nordeste descrevia a febre do guaraná:

"A onda de consumo de vitaminas está mais forte do que nunca. Em Fortaleza, a quantidade de pontos de venda de sucos com pó de guaraná aumenta a cada mês, na medida em que surgem novas casas especializadas em produtos naturais e, até mesmo, no comércio de vitaminas importadas". 

Diferente das versões em refrigerante, sucos e chá gelado, Fortaleza também abraçou o formato turbinado da vitamina. Outra testemunha deste período efervescente é Damião Oliveira, paraibano que escolheu o Ceará e segue à frente do "Damião do Guaraná".

Riquezas do Norte 

É meio dia de terça-feira. Grupos de famílias, trabalhadores da região procuram se energizar no "Damião do Guaraná". Paraibano nascido em Imaculada, Damião completou, em agosto passado, exatos três décadas de atuação no ramo. 

Assim como o já citado Fera, ele também foi funcionário do Ponto do Guaraná. A empresa marcou época na Rua Pedro I e hoje conta com o tradicional quiosque na Beira-Mar. "Quando comecei era uma febre. Vim trabalhar e nem imaginava da existência de pó de guaraná. Foi uma surpresa. Graças a Deus foi muito aceito no mercado e ainda continua", argumenta. 

"Hoje, o açaí está na frente do guaraná natural com castanha e amendoim. Mas, ele também pode levar pó de guaraná. Para ficar mais gostoso pode misturar granola, banana e amendoim. Tem gente que gosta completo", descreve.

Uma marca no serviço Damião do Guaraná foi investir, desde o início, nas entregas em domicílio. Diariamente, as portas abrem às 7h. A depender das demandas, o horário pode se estender pelos primeiros minutos da madrugada. Taxistas, policiais, a turma do transporte por aplicativo. A lista de apreciadores é grande. 

"Dá aquela energia. É forte. É um produto que você toma com guaraná, amendoim, castanha... Alimenta e você segura a barra. Como é gelado, também cai bem para o calor de Fortaleza", completa Damião.  

Embora a fonte mais comum de cafeína seja o café preto, existem outras formas naturais. O extrato vegetal do guaraná é um exemplo bastante popular, aponta a nutricionista Neu Silveira.  "Além das altas concentrações de metilxantinas (incluindo a cafeína), também possui flavonóides e pró-antocianidinas, que podem ter outros potenciais impactos positivos na saúde", explica.

"Assim, o extrato das sementes do guaraná tem sido utilizado em pesquisas associadas à redução da fadiga em pacientes submetidos à quimioterapia, perda de peso e gordura corporal à curto prazo, proteção hepática, propriedades anti-inflamatórios e antioxidantes. Também são estudados como estimulantes cognitivos e da função cerebral, assim como efeitos hipocolesterolêmicos", completa a especialista. 

A energia de Gorete

Quando o segmento do guaraná tornou-se uma rentável novidade, pequenos investidores tentaram a sorte na área. Um caso específico nos leva a um dos "points" do guaraná em Fortaleza. Falamos do "Guaraná da Gorete", lugar obrigatório e querido de quem vive o bairro Benfica. 

Piauiense, Gorete Gomes lembra que o começo dessa jornada veio com a irmã. No auge da venda de guaraná, a familiar adquiriu três banquinhas. Uma delas ficou sob os cuidados de Gorete. Funcionava no alpendre de um mercado e ela pagava para guardar o material no lugar. 

16h de uma quarta-feira e Gorete prepara inúmeros pedidos. Quem chega trata logo de colocar o nome na lista de espera. Estudantes, a turma dos aplicativos de entrega, crianças de mãos dadas com os pais. “Sou fã. Onde eu estiver eu me despedaço pra cá”, conta Taís Sousa, que aguarda o “chorinho” de seu açaí. 

Nas paredes, é possível ver reportagens em jornal e mensagens de carinho de quem aprova o carinho do estabelecimento. Clientes que vivem fora da Capital enviam cartões postais. "Tenho vários cartões aqui dos lugares onde eles moram. É muito gratificante, pois você se deslocar até o correio para enviar esta mensagem. O que me fortalece é o carinho dos clientes e a paciência deles. Agradeço a Deus eles serem tão pacientes.

Gorete corre com a produção das vitaminas, pois a fila segue grande. O sorriso generoso e contagiante vem junto de cada entrega. A proprietária conversa, troca assuntos com os clientes. Guaraná ou açaí? Que nada, muito da energia presente ali vem dela.  

Mesmo com a alta procura pelo açaí, a comerciante explica que nunca mudará o nome do negócio. "Por isso que é 'Guaraná da Gorete'. Ficará sempre assim. É minha história, não tenho como mudar. Poderia até fazer isso, mas não quero mudar essa história", finaliza Gorete Gomes. 

Onde saborear o pó de guaraná

Guaraná da Gorete
Rua Paulino Nogueira, 103, Benfica

Damião do Guaraná
Rua da Assunção, 81, Centro

Kanto do açaí
Rua Floriano Peixoto, 465B, Centro 

Guaraná da Dany
Av. Beira Mar, 4444, Mucuripe

Ponto do Guaraná
Av. Beira Mar, 327, Mucuripe

Guaraná Da Joyce
Rua Marquês de Sapucaí, 181, Conjunto Palmeiras

Casa Do Guaraná
Rua Quixada, 1243, Planalto Ayrton Senna

Guaraná e Sabores
Rua Sacy, n° 170 - Parque Guadalajara

Guaraná do Brasil 
Av. Edson da Mota Correa, 946 - Centro, Caucaia

Pó de Guaraná & Açai - Cliente 100
Rua Maranhão, 323, Panamericano

Guaraná no Ponto 

LevPolpa & Guaraná

Quero Guaraná