Os grupos de cultura popular da Sabiaguaba foram a base inicial do florescimento na arte para Muriel Cruz, 24 anos. Daquele solo fértil, ela se encaminhou para experiências de formação em diferentes linguagens, construindo a multiplicidade de expressões que marca a atuação da hoje cantora, compositora, atriz e palhaça. Para 2024, a multiartista aponta como prioridade a música — na qual assina como Mumutante —, adianta planos de lançamentos e celebra os caminhos marcados por coletividade.
“O primeiro contato com arte foi justamente onde nasci, na Sabiaguaba. Lá tinha grupos de reisado, pastoril, quadrilha. Eu assistia e queria muito fazer parte”, inicia Muriel em entrevista por telefone ao Verso.
O desejo foi atendido muito por conta da disposição da menina às práticas artísticas diversas. “O povo ficava me colocando pra tudo que aparecia porque eu estava sempre muito disposta a fazer qualquer personagem, qualquer coisa. Amostrada mesmo”, ri-se.
A partir de 2016, as experiências no bairro se somaram àquelas que Muriel passou a buscar em diferentes espaços da Cidade — do Theatro José de Alencar, onde foi aluna dos cursos Princípios Básicos de Teatro e Iniciação em Dança Contemporânea, ao Centro Cultural Bom Jardim, equipamento no qual usufruiu de um curso de palhaçaria.
Mumutante na música
“Nessa época, na minha cabeça, eu queria ter formações. Formações e informações. Daí me jogava nesses cursos”, explica. A diversidade de linguagens experimentadas moldou o caráter múltiplo de atuação da artista, que hoje assume reconhecer na música o caminho principal.
“Todas (as artes) se ajudam muito, mas a música atualmente é o que tem me dado mais retorno de sobrevivência. Vivo fazendo ‘bicos’ na arte, mas ela é o que tenho levado mais a sério e tem sido a frente do meu caminho”, reflete, ressaltando o impulsionamento mútuo entre as linguagens.
Afinal, nos shows que faz atualmente — sejam os no formato solo ou nas turnês com o amigo e parceiro artístico Mateus Fazeno Rock —, o conhecimento de atuação ajuda na performance; já no musical “Caetanas”, com o qual também circulou pelo Ceará e pelo País, as artes cênicas se encontram com a música.
Primeiros lançamentos
A gênese dessa relação hoje central se deu na internet, quando Muriel gravava e postava vídeos de covers. Os conteúdos viralizavam de maneira positiva, mas viver daquilo parecia impossível. A virada se deu em 2020, já na pandemia.
Se antes a artista se arriscava como cantora e compositora, seja na igreja ou em rodas de sarau, o passo seguinte natural foi gravar. “Lancei minha primeira música, ‘Baculejo’, e foi muito doido. A galera começou a dar muito streaming, me seguir. Estava chegando numa bolha que não conhecia muito, que era a da música”, relembra.
De lá para cá, Muriel lançou outras faixas próprias e em parcerias, como “formatei-me” (2020), “Vai Dá Bom” (2021, com Emiciomar) e “eu te amo” (2022). Ela tem acompanhado, ainda, a chamada Família Fazeno Rock, grupo de artistas que se soma ao projeto musical de Mateus Fazeno Rock, no qual atua como backing vocal.
“Tem sido uma experiência muito incrível, a gente tem conhecido muitas pessoas, lugares e culturas — e muitos perrengues também (risos), uns que a gente nunca imaginou que ia passar, mas que estamos superando a cada dia com mais maturidade”, avança Muriel.
O coletivo, ela adianta, está trabalhando junto em prol dos próximos passos da carreira dela. Ao Verso, Muriel adianta os planos de lançamento de um single para depois do Carnaval — “uma coisa quarta-feira de Cinzas, pós-festa”, instiga — e ainda um novo EP, este sem previsão de data.
Enquanto as novidades não chegam, Muriel vem circulando com apresentações musicais. “Ano passado foi a primeira vez que cantei num festival com o show solo, no Elos. Tive um retorno positivo, muita gente gostou, chegou junto, e também surgiram vários convites”, celebra.
“Em bando”
A coletividade marca não apenas este momento atual da artista, mas toda a trajetória: dos grupos de tradição da Sabiaguaba às turmas dos cursos realizados por ela, passando ainda por experiências como as das festas Crioula e A Noite Mais Triste do Mundo, nas quais Muriel também se engaja.
“Quando a gente se junta, consegue não apenas distribuir o peso da caminhada, mas distribuir um retorno que vai ajudar no dia a dia”, aponta. “Estamos construindo com pessoas que tem família, filhos, que tem que ajudar parentes. São pessoas que têm um caminhar e vêm de um lugar parecido com o da gente, então trazemos conforto pros nossos e pra gente”, ressalta.
Para Muriel, o caminho feito em conjunto é essencial. “A Fazeno Rock é uma família mesmo, a gente compartilha muita coisa, se impulsiona e se ajuda em muitas questões. Estar junto, muitas vezes, é um dos únicos motivos para aliviar algumas coisas nos espaços que a gente frequenta e nos perrengues que a gente passa”, credita a artista.
"Passar por essas situações em bando gera mais segurança, porque em lugares em que se entra só, a gente é seguido, olhado, mas quando entra em bando consegue ir mais longe sem medo”, finaliza.
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