Como apreciar um espetáculo de dança contemporânea

Curador da Bienal de Dança De Par em Par, Ernesto Gadelha elenca passos para uma melhor experiência artística

Na seara da arte, manifestações de cunho contemporâneo geralmente costumam ser incompreendidas. Até aí, tudo bem. O problema é quando o pré-conceito frente a espetáculos que bebem dessa tendência tomam proporções violentas sob a justificativa de que “não entendi, portanto não respeito. E agrido”.

Em solo nacional, um dos mais recentes ataques à arte contemporânea foi registrado no ano passado, quando a exposição “Queer Museu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, após quase um mês em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada devido a uma onda de protestos nas redes sociais. As queixas de usuários eram das mais variadas, alegando que as obras faziam “apologia à zoofilia e pedofilia” e promoviam “blasfêmia” contra símbolos religiosos.

Almejando fazer com que ódio e intolerância se convertam em debate e participação, o Verso propôs a Ernesto Gadelha a montagem de uma lista de passos para bem apreciar um espetáculo de dança contemporânea. O profissional é um dos curadores dos grupos nacionais e internacionais que compõem a VI Bienal Internacional de Dança do Ceará De Par em Par, evento que acontece de 19 a 28 de outubro na Capital e mais quatro municípios do Estado com programação gratuita e se vale de grande variedade de expressões criativas para promover novos olhares sobre a arte.

Veja as dicas enumeradas por Gadelha:

1 – Não ser conduzido por uma noção preconcebida sobre dança: “A questão é se despir de toda expectativa prévia com relação àquilo que você vai assistir. Isso ajuda a abrir horizontes, facilitando o entendimento do que verá”.

2 - Informar-se sobre o trabalho e o artista que se apresentará: “Todo trabalho artístico tem um contexto, seja do ponto de vista histórico, cultural ou social. É importante saber que diálogo o artista busca estabelecer, quais trabalhos realizou antes e o que as obras revelam do intérprete”.

3 - Chegar totalmente aberto para assistir ao espetáculo: “Essa é uma dica que vale especialmente para as montagens que compõem a Bienal De Par em Par, já que elas prezam pela interdisciplinaridade, estabelecendo contato com outros tipos de linguagens para além da dança”.

4 - Tentar identificar a lógica da obra: “É necessário o esforço em compreender que nexos está propondo determinado trabalho, exatamente para dar materialidade a uma ideia. Que tipo de tessitura – dramatúrgica, formal ou cênica – é posta? Que coerência interna aquela obra apresenta? O que o artista visa passar? Ele consegue transmitir a mensagem?

5 - Partilhar a experiência com outros espectadores: “Formular uma crítica acerca do que foi visto é uma boa pedida. Inclusive, se necessário, pesquisar outras opiniões, conversar com outras pessoas, partilhar o que gostou e o que não gostou. Falar também sobre quais sensações foram fortes (ou se não houve sensações), que impacto causou, que elementos estavam lá. Se houver dificuldade de interagir com a obra, vale conversar com especialistas para entender os porquês. A questão é estabelecer uma familiaridade com a obra”.

 

Mais informações
Bienal Internacional de Dança do Ceará - De Par em Par. De 19 a 28 de outubro em diferentes equipamentos culturais das cidades de Fortaleza, Paracuru, Pacatuba, Itapipoca e Trairi. Abertura: nesta sexta-feira (19), às 20h, no Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525, Centro). Gratuito. Entrada por ordem de chegada. Informações pelo site www.bienaldedanca.com.