Como apreciar um espetáculo de dança contemporânea

Curador da Bienal de Dança De Par em Par, Ernesto Gadelha elenca passos para uma melhor experiência artística

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(Atualizado às 12:56)

Na seara da arte, manifestações de cunho contemporâneo geralmente costumam ser incompreendidas. Até aí, tudo bem. O problema é quando o pré-conceito frente a espetáculos que bebem dessa tendência tomam proporções violentas sob a justificativa de que “não entendi, portanto não respeito. E agrido”.

Em solo nacional, um dos mais recentes ataques à arte contemporânea foi registrado no ano passado, quando a exposição “Queer Museu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, após quase um mês em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada devido a uma onda de protestos nas redes sociais. As queixas de usuários eram das mais variadas, alegando que as obras faziam “apologia à zoofilia e pedofilia” e promoviam “blasfêmia” contra símbolos religiosos.

Almejando fazer com que ódio e intolerância se convertam em debate e participação, o Verso propôs a Ernesto Gadelha a montagem de uma lista de passos para bem apreciar um espetáculo de dança contemporânea. O profissional é um dos curadores dos grupos nacionais e internacionais que compõem a VI Bienal Internacional de Dança do Ceará De Par em Par, evento que acontece de 19 a 28 de outubro na Capital e mais quatro municípios do Estado com programação gratuita e se vale de grande variedade de expressões criativas para promover novos olhares sobre a arte.

Veja as dicas enumeradas por Gadelha:

1 – Não ser conduzido por uma noção preconcebida sobre dança: “A questão é se despir de toda expectativa prévia com relação àquilo que você vai assistir. Isso ajuda a abrir horizontes, facilitando o entendimento do que verá”.

2 - Informar-se sobre o trabalho e o artista que se apresentará: “Todo trabalho artístico tem um contexto, seja do ponto de vista histórico, cultural ou social. É importante saber que diálogo o artista busca estabelecer, quais trabalhos realizou antes e o que as obras revelam do intérprete”.

3 - Chegar totalmente aberto para assistir ao espetáculo: “Essa é uma dica que vale especialmente para as montagens que compõem a Bienal De Par em Par, já que elas prezam pela interdisciplinaridade, estabelecendo contato com outros tipos de linguagens para além da dança”.

4 - Tentar identificar a lógica da obra: “É necessário o esforço em compreender que nexos está propondo determinado trabalho, exatamente para dar materialidade a uma ideia. Que tipo de tessitura – dramatúrgica, formal ou cênica – é posta? Que coerência interna aquela obra apresenta? O que o artista visa passar? Ele consegue transmitir a mensagem?

5 - Partilhar a experiência com outros espectadores: “Formular uma crítica acerca do que foi visto é uma boa pedida. Inclusive, se necessário, pesquisar outras opiniões, conversar com outras pessoas, partilhar o que gostou e o que não gostou. Falar também sobre quais sensações foram fortes (ou se não houve sensações), que impacto causou, que elementos estavam lá. Se houver dificuldade de interagir com a obra, vale conversar com especialistas para entender os porquês. A questão é estabelecer uma familiaridade com a obra”.

 

Mais informações
Bienal Internacional de Dança do Ceará - De Par em Par. De 19 a 28 de outubro em diferentes equipamentos culturais das cidades de Fortaleza, Paracuru, Pacatuba, Itapipoca e Trairi. Abertura: nesta sexta-feira (19), às 20h, no Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525, Centro). Gratuito. Entrada por ordem de chegada. Informações pelo site www.bienaldedanca.com.