Com novos ritmos e colaborações, Pitty faz show em Fortaleza neste sábado (21)

Em uma experimentação de unir novos beats à essência das primeiras composições, o show de lançamento do álbum "Matriz" acontece na Praça Verde do Dragão do Mar

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(Atualizado às 08:13, em 19 de Setembro de 2019)

Substantivo feminino que figura o lugar onde alguma coisa se gera ou se cria. Fundamento. Fonte. Princípio. É com a proposta de um retorno às origens, misturando a essência das primeiras composições com a linguagem contemporânea, que surge "Matriz", a turnê-álbum mais recente de Pitty. A cantora baiana retorna à capital cearense para apresentação única neste sábado (21), na Praça Verde do Dragão do Mar.

Engana-se quem pensa que olhar para as origens significa fazer mais do mesmo. Indo de encontro ao convencional, Pitty sempre se reinventa. Após um hiato de cinco anos sem novidades, o álbum "Matriz" se desenvolve a partir de uma turnê inicial, que por sua vez, irrompe de um desejo pessoal de voltar aos palcos. "Tinha lançado alguns singles e parcerias; com Elza Soares, com Tássia Reis e Emmily Barreto; e senti que já tinha estofo para construir um show", explica a cantora em entrevista ao Verso por e-mail.

Tais colaborações são influências diretas e perceptíveis neste novo momento de sua carreira musical. Para ela, o sentido de matriz também advém da possibilidade de experimentação. Com instrumentos e sons próprios da cultura baiana, de forma não caricata, sua nova fase comunica inovadores ritmos, beats e produções.

"Foi gravado em cidades diferentes, em circunstâncias e com formações diversas ao que cada música pedia. E, ao fim, a história contada tem a ver com a Bahia que me fez, a Bahia lado B, underground, crua", conta Pitty sobre seu álbum que, até então, é o mais livre e colaborativo.

Para além de um senso de responsabilidade, trazer para perto essas mulheres para colaborarem é ainda fruto de uma vontade pessoal da cantora. "Tem tanta gente talentosa, tantas mulheres cantoras, instrumentistas, compositoras, fazendo coisas incríveis. A vontade é se juntar, se fortalecer e compartilhar essa informação", comenta.

Dentre as colaborações do álbum estão BaianaSystem, Larissa Luz e Lazzo Matumbi, fazendo-o soar ainda mais fresco, contemporâneo e também relevante.

Novidades

O disco é ainda o primeiro a ser lançado após duas grandes transformações em sua vida: a maternidade - Pitty é mãe de Madalena, 3 anos - e o programa Saia Justa, da GNT, no qual é apresentadora. Neste último, a artista debate ao vivo temas que vão da criação artística a assuntos políticos sob diversos pontos de vista.

"É um desafio semanal e um aprendizado muito rico. Já mudei de ideia sobre temas, já repensei situações, lembrei de coisa esquecida... Acontece de tudo!", salienta.

Musicalmente, a maior mudança que a turnê "Matriz" traz é a inclusão de versões acústicas, além de trabalhar um novo conceito estético-visual no palco. Mudanças muito bem pensadas e planejadas por Pitty. Responsável pela direção artística e musical, ela diz roteirizar o show como uma peça, de forma com que conte uma história. "Não é somente uma colagem de músicas aleatória. Cada detalhe é pensado e cuidado para proporcionar uma experiência coletiva interessante", reforça.

A curadoria do repertório exige igual atenção. Resultante de um processo inusual, a seleção das músicas para a turnê envolve conciliar o que faz sentido no momento com músicas de outros discos que não podem faltar. A variação "Admirável Chip Novo", "Anacrônico" e "Setevidas" tem sido a sequência inicial das apresentações até então.

Ser quem se é

De forma natural e orgânica, o público formado por "uma turma muito fluida e heterogênea, diversa e respeitosa", como assinala a própria cantora, entendeu a atual proposta e se mostrou receptivo às transformações da roqueira.

"Acho que é um reflexo dessa construção de carreira voltada para a liberdade de ser quem se é, na música também. Nunca permiti que me deixassem presa em nenhuma caixinha musical. E acho que o público vem junto, e essa fluidez é extremamente contemporânea. Os estereótipos enfraquecem, as identidades se fortalecem", manifesta.

Bicho solto

Com posicionamentos bastante claros e expressos em suas músicas e atitudes, Pitty manifesta ainda preocupação quanto à questão da criminalização da arte da cultura no momento atual do País. "Sem senso crítico e sem pensamento, não somos cidadãos", provoca.

Sempre "bicho solto" (que é, inclusive, nome de uma das canções do novo álbum) apesar de tanto tempo de carreira acumulado, a artista demonstra que manter-se sempre igual não faz parte de seus planos.

"Da minha parte existe o oposto: dar sempre um passo além musicalmente, experimentar coisas novas, sem perder a essência. Não ter medo de ousar, sabendo que nossas características principais são nossas, é alma e pronto", finaliza.