"Momento único": é assim que Ednardo descreve a participação no programa Altas Horas, da Rede Globo. A atração, comandada por Serginho Groisman, vai ao ar neste sábado (24) com a participação do cearense e de vários outros cantores e compositores marcantes dos anos 1970.
Na lista estão, entre outros ícones, As Frenéticas, Hyldon, Lô Borges, Márcio Greyck, Peninha, Perla Paraguaia, Silvio Brito e Tony Tornado. Além de cantarem hits, eles compartilharão um pouco das próprias trajetórias.
Ednardo, integrante do movimento conhecido como Pessoal do Ceará, do qual Belchior e outros tantos fizeram parte, entoará “Pavão Misterioso”, um dos maiores sucessos de sua autoria.
A canção foi baseada em um cordel intitulado "O Romance do Pavão Misterioso", escrito por José Camelo de Melo Rezende em 1923. Lançada em pleno regime militar, a música possui crítica ao autoritarismo e à ausência da liberdade individual.
Grande encontro
Em entrevista ao Verso, o mestre conta que os bastidores da gravação do Altas Horas foram repletos de "alegria e reencontro". "Fazia muito tempo que a gente não via os nossos colegas", partilha, com carinho.
"Conheço o Serginho Groisman há muito tempo. Inclusive, ele foi a primeira pessoa que me chamou para cantar no Colégio Equipe, o mais desejado de todos os artistas para se apresentar".
À época, década de 1970, o movimento estudantil, segundo Ednardo, era bastante forte, oportunizando o encontro dele com titãs como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Fagner, Robertinho do Recife, Dona Ivone Lara e Paulinho da Viola. "Era uma turma querida, e o Serginho era o organizador cultural do Colégio Equipe".
Em resumo, a experiência de estar novamente com parte da trupe reunida no programa foi motivo de emoção. "Me diverti bastante percebendo a alegria dos outros participantes. Só foi gente boa, uma quantidade absurda de pessoas que ele chamou", observa, tecendo outro comentário: talvez tenha sido a maior reunião de artistas da música dos anos 1970 já feita recentemente.
"Serginho disse que iam ter outros capítulos, ou seja, aquilo era só o começo. A história, então, é essa: muita felicidade, conversa boa, amizade, sinceridade e música".
Lenda viva
Ícone do cancioneiro cearense, Ednardo nasceu em Fortaleza em abril de 1945. Encontrou a música inicialmente com o piano. A juventude repleta de arte foi fruto do incentivo dos pais, os professores Oscar Costa de Sousa e Maria Ester Soares Costa Sousa.
Do primeiro instrumento, seguiu-se o desejo de criar as próprias canções com o violão. Em paralelo, coexistia o estudante universitário, oportunizando a graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará. Ednardo ainda chegou a trabalhar na fábrica da Petrobrás, mas os palcos eram destino firme no horizonte.
No final dos anos 1960, o caráter bravio dele alinhou-se com outras mentes criativas de Fortaleza: era o Pessoal do Ceará. O grupo de artistas e intelectuais pensava e idealizava outra realidade para o Brasil, mergulhado na ditadura militar desde 1964. Entre tantos passos e feitos, a poesia de Ednardo ultrapassou as dunas brancas.
Uma vasta produção, com mais de 400 composições e parcerias inesquecíveis, sela a trajetória do mestre. A jornada adentrou inclusive a realização do Massafeira Livre, em 1979, no Theatro José de Alencar, iniciativa que celebrou a criatividade cearense em diversas linguagens artísticas.
O cancioneiro do artista guarda ligação única com a formação do Ceará. Não à toa, já foi reconhecido em inúmeras premiações dentro e fora do Estado, entre elas o Sereia de Ouro, comenda do Sistema Verdes Mares, no ano de 2023.