Boca Livre reúne integrantes novamente em show com repertório dos 46 anos de carreira do grupo

Apresentação acontece nesta quinta-feira (27) no Teatro RioMar Fortaleza; em entrevista, cantor, violonista e compositor Zé Renato recorda trajetória da banda e antecipa novos passos

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A palavra de ordem do Boca Livre é movimento. Hoje mais do que nunca. A banda – formada em 1978 e um dos grupos musicais brasileiros mais longevos em atividade – volta a percorrer o asfalto com show em diversas cidades de forma a celebrar o inesperado: todos os integrantes reunidos novamente para cantar um legado construído em mais de quatro décadas.

Um brinde, no sentido literal do gesto. “A estrada é o lugar que a gente mais gosta. É claro que gostamos de gravar, mas a estrada é a estrada”, diz o cantor, violonista e compositor Zé Renato diretamente do Rio de Janeiro. É lá que ele se prepara para desembarcar em Fortaleza nesta quinta-feira (27) para realizar a apresentação do grupo no Teatro RioMar.

No palco, a proposta é bonita e promete emocionar. O repertório passeará pelos 46 anos de carreira, entre antigas e novas canções – desde aquelas presentes em trilhas sonoras de novelas até as que recentemente valeram para a banda o Grammy de Melhor Álbum de Pop Latino. Foi pelo disco “Pasieros”, gravado com o panamenho Rubén Blades.

O trabalho, não à toa, é apontado como um dos motivos para o retorno de David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato após separação do time em 2021 devido à pandemia de Covid-19 e o desafiador cenário para a música e a cultura naquele período. “É um prêmio que poucos brasileiros ganharam”, celebra Zé.

“Por isso, ficamos muito orgulhosos e felizes de ter esse reconhecimento, como também foi agora o Prêmio da Música Brasileira, no qual vencemos como Melhor Grupo. Tudo isso faz parte dessa trajetória, e tem algo a mais: a gente adora cantar e fazer esse trabalho juntos. Logo, faremos sempre o possível para manter isso”.

Segundo ele, ao ser questionado sobre a separação dos integrantes, a experiência serviu para reiterar o valor da união do grupo e também render aprendizados. Conviver com as diferenças e saber dialogar foram premissas fundamentais. “Temos uma afinidade musical muito grande que não pode ser desperdiçada. Então, estamos de volta”.

Apreço pela qualidade

Impossível discordar de Zé. Com os dois primeiros discos da carreira gravados de forma totalmente independente – Boca Livre (1979) e Bicicleta (1980) – o Boca Livre cedo se destacou pelo refinamento artístico e pela vontade de fazer diferente. A originalidade, claro, é reflexo da simples, mas cuidadosa vontade de capricho dos quatro parceiros. 

Soma-se a isso o retorno positivo do público – não apenas saudoso diante das antigas canções, mas igualmente animado perante as novas – e o retorno da trupe aos palcos ganha contornos épicos, grandiosos. Além de Fortaleza, a banda deve passar por Recife, Brasília e Vitória até atravessar o mapa da América e chegar aos Estados Unidos.

“O Boca Livre sempre foi um grupo estradeiro. Claro que, no meio do caminho, coisas aconteceram – houve pandemia e outros acontecimentos. Mas acho que agora a gente retoma o trabalho comemorando tudo isso, a história, as premiações e a riqueza do palco em si”. Cada passo sem esquecer também de quem esteve nas trincheiras sempre e cedo partiu.

Zé Nogueira, saxofonista e produtor musical do Boca Livre e da MPB, faleceu no último mês de abril após contribuir com talento sem precedentes e presença engajada. Agora, segue com a banda no semblante e no estímulo de cada um para persistir tocando.

“Ele é um amigo, não à toa ficamos muito abalados com a perda. E sempre vamos homenageá-lo – nem sempre em palavras, mas com nossos pensamentos. Foi ele que ajudou a construir esse novo momento do Boca Livre, era uma pessoa maravilhosa, muito correto e amoroso. São ensinamentos que ele deixou e ficarão com a gente pra sempre”.

Gostar de Fortaleza

Quanto ao retorno à capital cearense para entoar de “Quem tem a viola” e “Toada” a “Rio Vermelho” e “Ponta de Areia”, o cantor se diz muitíssimo admirador da cidade e lembra que Fortaleza fez parte dos primeiros momentos do grupo, quando ainda faziam o Projeto Pixinguinha – com espetáculos de música brasileira acessíveis às camadas populares no fim da década de 1970.

“Desde essa época, voltamos com regularidade. Temos um público cheio e vários amigos, entre eles Fausto Nilo e Pantico Rocha. É uma terra que adoramos muito, sempre fomos muito bem recebidos. Vamos celebrar bastante na quinta-feira”.

Por fim, o artista responde: existe segredo capaz de explicar a longevidade de um grupo musical brasileiro? “Prazer pelo que faz e imprimir personalidade ao trabalho, realizando exatamente o que se busca. Um próprio caminho de fazer”.


Serviço
Show da banda Boca Livre
Nesta quinta-feira (27), às 21h, no Teatro RioMar Fortaleza (R. Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu). Ingressos à venda no site uhuu.com e na bilheteria do Teatro