'A música é uma maneira de protesto e também de mensagem', diz Kondzilla

Em entrevista durante visita ao Cuca Jangurussu, o produtor falou sobre o funk, a periferia e a força da juventude

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(Atualizado às 14:21)

Entrevista

O que você escuta mais da galera jovem que chega para falar contigo de música, qual a demanda que você mais escuta?

Acho que a falta de oportunidade. Sendo que existem oportunidades aí no digital, que consegue democratizar muita coisa, tem muitas companhias agregadoras e interessadas em aumentar seu catálogo, existem vários caminhos para fazer isso. Acho que precisa também muitas iniciativas para deixar claro esses caminhos também, né. Por exemplo, um equipamento como esse aqui (Cuca Jangurussu) é incrível. Se tivesse uma oportunidade dessa aqui na minha adolescência, na minha infância, talvez eu tivesse seguido por um caminho diferente. Inicialmente, eu queria ser um artista, um cantor reconhecido e aí, hoje, vivo da música, mas eu sou um executivo da música viabilizando o sonho de outras pessoas. Isso é uma responsabilidade muito grande.

E essa coisa de criminalizar o funk, atacar as pessoas que produzem, que estão ali na dianteira. Como seu trabalho vai contra isso aí?

Isso é uma reprodução de uma coisa que acontece com qualquer movimento que nasce à "margem de". Periférico no sentido que está ali, ao redor, nas periferias e não no centro da sociedade considerada ideal, enfim. É um movimento muito contra a massa, contra a alegria das pessoas que conseguem representar outros indivíduos por meio de sua arte, de suas canções. Entendo que a música é uma maneira de protesto e também de mensagem. Ela pode ser usada como uma ferramenta, como uma arma, assim como ela também pode ser usada como entretenimento. Então, tipo, tem o consumo e tem também público para consumir esses dois tipos de conteúdos.

Paraisópolis foi um exemplo de como essa galera quer violentar essa voz, essa forma de a galera curtir.

Cara, é (KondZilla faz uma breve pausa). É inacreditável o que aconteceu ali. Acho que a falta de equipamentos públicos faz com que tenha essa repressão da juventude, né? O jovem, ele tem uma energia muito forte, muito potente, muito grande e precisa colocar essa energia em algum lugar. O funk é um movimento que representa esses jovens, assim como kizomba e kuduro na África, reggaeton e cumbia na região do Caribe e o hip hop nos Estados Unidos da América. O funk está para esses movimentos como música eletrônica de favela. Em todos esses outros territórios, nosso território é o funk.