Popular especialmente entre os jovens, o aplicativo Discord tem gerado preocupação em relação ao conteúdo violento exposto aos usuários, entre eles, importunação sexual, vídeos de incentivo à automutilação, crueldade contra animais e até pedofilia.
Nesse domingo (25), o Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem investigativa que mostra como a plataforma se transformou em um território livre para criminosos, que procuram menores de idade como vítimas. Em maio, o programa já tinha mostrado situações graves e criminosas envolvendo o app.
“É importante que fique muito claro que não se trata de desafios que estão sendo praticados por adolescentes. Tratam-se de criminosos, a grande maioria maiores de idade, que utilizam a insegurança dessa plataforma em relação a crianças e adolescentes para praticar crimes gravíssimos contra essas meninas”, disse a promotora Maria Fernanda Balsalobra, ao Fantástico.
O aplicativo permite que pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeos dentro da plataforma. Influenciadas pelos criminosos, as vítimas repassam fotos pessoais, muitas vezes íntimas, e passam a ser chantageadas.
Segundo mostrado na reportagem, se a vítima não cumprir um desafio exigido pelos criminosos, imagens dela são vazadas. Um dos criminosos tem vários aparelhos de armazenamento, com pastas de dezenas de vítimas, meninas que são chantageadas, expostas e violadas.
Quem é Dexter?
Um dos agressores identificados pela reportagem é Izaquiel Tomé dos Santos, de 20 anos, conhecido como Dexter. Ele está preso em abril.
“Você é uma vagabunda que merece sofrer mesmo”, diz ele a uma adolescente, em gravação obtida pelo Fantástico.
A Polícia recebeu denúncias de dez vítimas do jovem em São Paulo. Em fotos, as meninas aparecem nuas, mutiladas com o nome Dexter escrito com lâmina na pele. O Fantástico encontrou outras cinco vítimas em outros brasileiros.
Izaquiel admitiu à Polícia Federal ter chantageado garotas para que elas se mutilassem.
Dois criminosos que agiam na plataforma foram presos na última sexta-feira (23). Outro foi identificado como Carlos Eduardo, conhecido como DPE, mas está foragido.
Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) investiga o próprio Discord.
“Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declarou o promotor de Justiça de São Paulo, Danilo Orlando.
O que diz o Discord
Ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.
“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo e, de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.
"Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”, disse.