A Polícia Civil de São Paulo identificou as pessoas que correram ao lado de Bruno da Silva Teixeira, 26, que morreu durante a "maratona surpresa" organizada pelo grupo do coach Pablo Marçal, na noite do último dia 5 de junho, e começou a intimá-las a prestar depoimento no inquérito que investiga o caso. Informações são do Globo.
No dia da "maratona da morte", como passou a ser chamada a competição após a tragédia, Bruno e os colegas que trabalham na XGrow — empresa criada por Marçal e comandada por um sócio dele desde o ano passado — souberam na hora que o desafio havia dobrado de 21 quilômetros para 42 km. A vítima sofreu um mal súbito no 15º km da corrida, por volta de 22 horas, e morreu poucas horas depois, no hospital Albert Einstein.
Segundo o delegado Ednelson de Jesus Martins, responsável pela investigação, a expectativa é de que os depoimentos sejam colhidos ainda nesta semana.
"Instauramos inquérito porque toda morte suspeita requer apuração. No momento, sabemos apenas que ele foi correr e morreu. Foi ouvido um parente dele, e já estamos notificando pessoas que identificamos terem participado da corrida. Também estamos aguardando o laudo sobre a morte, que é o principal documento em casos de morte suspeita", contou o delegado.
'Maratona da morte'
A família de Bruno cobra a responsabilização dos envolvidos no episódio que eles passaram a chamar de "maratona da morte". Especialmente porque, em suas redes sociais, Pablo Marçal disse que, se pudesse, "gastaria milhões para esse cara [Bruno] não morrer", mas alegou não ter "nada a ver" com a "fatalidade".
Em um vídeo publicado pela vítima pouco antes da corrida, Bruno conta que a mudança da distância da prova foi alterada sem o conhecimento dos corredores. "Aonde fui me enfiar? Esse é o problema de andar com gente de frequência alta", comentou o rapaz. "Vocês com desculpas aí para fazer os treinos, para fazer acontecer. Marcelo está dando aula da mentoria enquanto está correndo. Duas coisas ao mesmo tempo", continuou.
Embora tenha dito que não tem "nada a ver" com a morte de Bruno, o desafio de aumentar a distância da corrida foi dado dias após Marçal afirmar, em vídeo, que havia completado uma corrida de 42 km. "Minha mãe não é mãe de fraco. Meu pai não é pai de otário. Minha vó não é vó de trouxa", se gabou o coach.
Esses vídeos serão analisados, segundo o delegado Ednelson de Jesus. No entanto, ainda não há previsão de solicitar o depoimento de Pablo Marçal, uma vez que o empresário não consta mais como sócio da empresa para a qual Bruno trabalhava. "Pode ser um passo mais para frente. Tudo o que for necessário para esclarecer o caso, será feito", adiantou o investigador.
'Não existe preparação'
Clara Serbim, melhor amiga de Bruno, disse, em entrevista ao Globo, que a corrida foi organizada dentro da empresa, para funcionários. "Eles decidem no dia, cedo: 'À noite vamos fazer uma corrida'. Não existe preparação, não existe exame, nada. Só dizem que, à noite, vão fazer corrida. Tanto que não sabiam se seria 21 km ou 42 km. Aí, foi decidido que iriam fazer maratona, 42 km", contou.
A mulher também afirmou que o amigo chegou a ser alertado pelo próprio irmão sobre sua condição física para participar da corrida. "Tenha cuidado, isso dá problema no coração, precisa fazer exame", teria dito o familiar da vítima.
Advogado diz que maratona era apenas 'treino entre amigos'
O advogado Tasso Renam Souza Botelho, representante de Pablo Marçal, disse ao Globo que a maratona não foi proposta pela empresa e que se tratava apenas de "um treino entre amigos" e que "veio a desaguar nessa fatalidade".
"Não se trata de uma maratona nem de uma corrida ligada a empresa. Foi um treino desenvolvido por algumas pessoas, algumas são funcionárias que compõem o grupo empresarial e outras, não. Algumas passaram lá para deixar os carros porque o ponto de encontro do treino era um posto de gasolina próximo", afirmou o jurista.
O advogado disse ainda que pagou do próprio bolso cerca de R$ 9 mil para custear a internação do jovem no hospital Albert Einstein. "Bruno era um querido da empresa. Foi uma perda inesperada. Estamos todos sofrendo com a perda. Não houve exame prévio porque é um treino comum. Se você for correr a São Silvestre, não vão te pedir exame. Vão te pedir para assinar um termo. Não há necessidade legal de se ter exame prévio para fazer corrida", argumentou.
Em nota enviada pela assessoria de imprensa ao Globo, Pablo Marçal reforçou que a maratona era "um treino espontâneo e amador" e afirmou que presta o "suporte necessário" à família da vítima.