No Brasil, apenas 3% dos estudantes mais pobres têm conhecimentos adequados de matemática

O levantamento também mostra a desigualdade em relação às habilidades em leitura e ciências

Enquanto 33,9% dos estudantes brasileiros de 15 anos mais ricos têm conhecimentos básicos de matemática e conseguem resolver problemas simples como frações e porcentagem, o índice cai para 3,1% quando se trata de estudantes mais pobres. Também há diferença quando se analisa os cenários por região do Brasil. No Nordeste, 2,5% dos alunos mais pobres atingiram nível adequado em matemática. No Sul, esse percentual foi de 31,2%.

Os dados são de uma análise dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022 feita pelo instituto de pesquisas Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e obtida pelo g1. O levantamento também mostra a desigualdade em relação às habilidades em leitura e ciências.

Considerando todos os estudantes brasileiros, 24,3% deles atingiu o desempenho adequado em leitura. Isso é, aproximadamente 1 em cada 4 alunos consegue identificar a ideia principal de um texto, localizar informações que não estejam em destaque e fazer comparações, por exemplo. Em se tratando dos estudantes mais pobres, 13,9% atingiu esse nível. Entre a parcela mais rica, foram mais da metade (54,9%).

Em ciências, 19,2% de todos os alunos do País atingiu o nível considerado adequado, em que conseguem distinguir o que é científico e o que não é e explicar fenômenos familiares. Analisando apenas o desempenho dos mais ricos, quase metade deles (49,6%) atingiu esse desempenho, enquanto entre os estudantes mais pobres menos o percentual ficou em 9%.

O g1 destaca, porém, que essas desigualdades entre estudantes de classes sociais diferentes não é algo exclusivo do Brasil. A análise mostra que esse abismo é ainda maior nos Estados Unidos. Mas, na realidade brasileira, as médias atingidas são insatisfatórias inclusive entre as classes mais altas.

O QUE É O PISA?

O Pisa — sigla para Programme for International Student Assessment —, é um estudo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele oferece informações sobre o desempenho dos estudantes de 15 anos, faixa etária em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países.

Em todas as edições ou ciclos do Pisa, três domínios são avaliados: leitura, matemática e ciências. Porém, a cada edição, um deles é avaliado como domínio principal, e os os estudantes respondem a um maior número de itens no teste dessa área do conhecimento. Os questionários também se concentram na coleta de informações relacionadas à aprendizagem nesse domínio específico.

A pesquisa também avalia os chamados domínios "inovadores", como resolução de problemas, letramento financeiro e competência global.

Os resultados permitem que cada país avalie os conhecimentos e as habilidades dos estudantes em comparação com os de outros países, aprenda com as políticas e práticas aplicadas em outros lugares e formule suas políticas e programas educacionais.

PROFICIÊNCIA EM MATEMÁTICA

Na publicação "Notas sobre o Brasil no Pisa 2022", publicada no ano passado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aponta que 27% dos estudantes brasileiros atingiu pelo menos o nível 2 de proficiência em matemática, enquanto a média dos estudantes entre os países da OCDE é de 69%.

Segundo o Instituto, no mínimo esses estudantes podem interpretar e reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente — como comparar a distância total de duas rotas alternativas ou converter preços em uma moeda diferente.

O alto desempenho em matemática — nível 5 ou 6 — foi atingido por apenas 1% dos estudantes do Brasil. A média dos países da OCDE é de 9%. "Nesses níveis, os estudantes podem simular situações complexas matematicamente e podem selecionar, comparar e avaliar estratégias adequadas de solução de problemas para lidar com elas. Somente em 16 dos 81 países e economias participantes do Pisa 2022 mais de 10% dos estudantes atingiram o Nível 5 ou 6 de proficiência", aponta o Inep.

O documento também aponta diferenças de gêneros no desempenho. No Brasil, os meninos superaram as meninas em matemática em 8 pontos, enquanto as meninas superaram os meninos em leitura em 17 pontos.

A proporção de estudantes brasileiros com baixo desempenho em matemática é menor entre os meninos (71%) do que entre as meninas (76%). Em leitura, a proporção de alunos que obteve pontuação abaixo do nível 2 é menor entre as meninas (47%) do que entre os meninos (54%).

Em relação aos estudantes que obtiveram o melhor desempenho em leitura, a proporção é semelhante entre meninos e meninas: 2%.