Uma idosa de 82 anos foi resgatada de uma situação análoga à escravidão após passar 27 anos trabalhando para um casal sem receber salário na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo. A ação foi realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que escreveu um relatório de fiscalização e tirou fotos do quarto que a vítima vivia.
Os suspeitos são uma médica e um empresário, identificados como Maria de Fátima Nogueira Paixão e Hamilton José Bernardo, conforme o g1.
A vítima acreditava que os patrões estavam guardando o dinheiro para comprar uma "casinha" para ela. No entanto, a idosa nunca recebeu nenhum salário.
"Ela tinha a esperança e uma crença de que a empregadora guardasse o dinheiro em uma conta bancária para que, no futuro, ela pudesse comprar uma casinha. Ela colocou isso não só para a equipe de fiscalização, mas também para a vizinhança".
O casal está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) e deve indenizar a idosa em R$ 800 mil. A defesa ainda não se posicionou sobre a acusação.
Nesta quinta-feira (8), a fachada da casa de Hamilton e Maria de Fátima foi pichada com a palavra "escravista".
Entenda o caso
Aos 55 anos, uma mulher começou a trabalhar para um casal, que tem renda superior a R$ 12 mil, com a promessa de que o dinheiro do salário estava sendo guardado para pagar uma "casinha" para ela. Essa crença foi compartilhada não apenas com a equipe de fiscalização, mas também com a vizinhança.
No entanto, a vítima nunca recebeu o imóvel. Ao invés disso, passou a viver em um quarto sem janelas, do lado de fora da casa dos patrões. De acordo com o g1, o espaço era decorado com uma cama, um armário, um cabideiro e um ventilador.
A residência oficial de Maria de Fátima e Hamilton tinha outros três quartos desocupados. Em depoimento, a médica justificou a separação pelo fato da vítima ser fumante.
Durante as quase três décadas que trabalhou, ajudou na criação de três filhos do casal, todos formados em Medicina. Ainda relatou que trabalhava todos os dias e fazia tudo em casa.
Raramente, recebia um valor de R$ 20 ou R$ 50 para visitar a família em Jardinópolis (SP).
Operação de resgate
O resgate foi efetuado pelo Ministério do Trabalho e Previdência (MTP), juntamente com a Polícia Militar (PM) e o Ministério Público do Trabalho, no dia 24 de outubro.
Os patrões chegaram a inscrever a idosa no Benefício Previdenciário Continuado (BPC), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas ela não tinha o cartão de saque.
Considerando a situação, a juíza Márcia Cristina Sampaio Mendes, da 5ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto, efetuou o bloqueio de R$ 815,3 mil em bens do casal, no dia 1 de dezembro.
A vítima voltou a viver com a família, em Jardinópolis, e agora recebe acompanhamento pela Secretaria Municipal de Assistência Social.