Casal gay denuncia homofobia de empresa que se recusou a fazer convite de casamento

Papelaria Jurgenfeld Ateliê fala em ‘heterofobia’ ao justificar recusa

Os noivos Henrique Nascimento e Wagner Cardoso Soares relataram que uma empresa de convites de casamento negou a prestação do serviço por alegar que não faz “convites homossexuais”. Após o caso, o casal registrou boletim de ocorrência por homofobia na noite da terça-feira (23), em São Paulo.  

A situação foi registrada em uma troca de mensagens em que Henrique solicita um orçamento para a Jurgenfeld Ateliê. Na conversa, que foi divulgada por uma amiga do casal nas redes sociais, é possível ver a recusa da papelaria, que chega a orientar que eles busquem uma empresa que “atenda sua necessidade". 

Também nas redes sociais, a Jurgenfeld Ateliê chegou a publicar uma “nota de repúdio”, mas apagou a postagem na sequência. O texto questionava se existe "heterofobia" e reclama das críticas que receberam por não realizarem “casamentos ou eventos homossexuais". 

“Se fôssemos uma empresa que faz apenas casamentos homossexuais e não faz casamentos heterossexuais, seríamos politicamente corretos e estaríamos arrasando de orçamento da galera que assiste Globo e escuta Anita, porém aqui não funciona assim”, alegou a Jurgenfeld Ateliê na publicação excluída. 

No momento, consta no perfil da empresa no Instagram apenas um story em que os proprietários pedem “apoio e oração” e contam que receberam “mensagens extremamente ofensivas e ameaçadoras”. “Quem nos conhece de fato sabe que não se trata de homofobia ou qualquer tipo de preconceito, mas sim de princípios e valores”, pontua. 

DESABAFO DO CASAL

Em uma série de publicações nas redes sociais, Henrique Nascimento e Wagner Cardoso Soares repudiaram o caso e relataram que foram orientados a registrar boletim de ocorrência. “Dada a proporção que tomou, não dá para a gente simplesmente se calar. A questão não é que ela (empresa) não quis fazer o nosso convite, é a resposta. A gente está no século XXI, é amadorismo puro. Não é porque ela não fez, mas a forma que ela conduziu a coisa. O que é convite homossexual? Eu não entendi”, comentou Wagner. 

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que o caso foi registrado no 73° Departamento Policial de Jaçanã, na zona Norte da capital paulista, e remetido para a Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância (Decradi) para o prosseguimento das investigações. As vítimas foram contatadas e o órgão investiga o crime de discriminação.

Após saírem da delegacia, Henrique falou que foi um “sentimento horrível” e que ficou com uma sensação de que “teria cometido o crime e estava errado em fazer”. Ele alegou que não teve abertura para relatar o caso, citando um possível despreparo por parte dos policiais. O casal alegou que teve que registrar novo boletim pela internet com o objetivo de complementar as informações. 

Sobre o atendimento recebido na delegacia, a SSP-SP alegou que a Polícia Civil mantém sua Corregedoria à disposição para “registrar e apurar qualquer denúncia contra seus agentes.” “O fato mencionado não condiz com as práticas da Instituição, a qual investe na capacitação dos seus profissionais para que todas as naturezas de ocorrências sejam registradas e o atendimento ao cidadão realizado de forma igualitária”, complementou.