Terá início no mês de junho, no Brasil, um experimento sobre o impacto da jornada de trabalho semanal de quatro dias. A iniciativa é encabeçada pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week -- que conduz testes globais sobre a carga horária reduzida -- em parceria com a brasileira Reconnect Happiness at Work. Os testes seguirão até dezembro deste ano.
As empresas que tiverem interesse em participar do experimento terão orientação e informações fornecidas pela Reconnect ao longo dos meses de junho e julho. A organização ressalta, porém, que não há pré-requisitos, como número mínimo de funcionários. As companhias interessadas precisam apenas responder a um formulário disponível no site para ter acesso à mentoria.
As empresas têm até o início do experimento, em agosto, para se inscrever. Uma vez inscritas, as companhias começam a ser preparadas para adotar o modelo em setembro. Vai haver um custo para participar do estudo, que ainda não foi definido.
O experimento vai adotar um modelo que une manutenção dos salários, redução da jornada e aumento da produtividade. O método, chamado do tipo 100-80-100, preconiza o pagamento de 100% do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade.
Serão medidos indicadores de estresse da força de trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, resultados financeiros e rotatividade. A metodologia da iniciativa foi elaborada pela universidade americana Boston College.
Experimento no mundo
Ao menos cinco países já tiveram o experimento: Emirados Árabes, Reino Unido, Bélgica, Islândia, Suécia. Já a Espanha iniciará em breve, com duração de dois anos.
O primeiro a reduzir o número dos dias de trabalho foi os Emirados Árabes Unidos. Desde janeiro de 2022, todos os funcionários de órgãos públicos têm carga semana de 36 horas, dividida em quatro dias úteis.
No Reino Unido, cerca de 60 empresas participaram do teste durante seis meses. As companhias puderam escolher entre uma jornada de 8 horas por dia durante quatro dias ou as mesmas 32 horas divididas em cinco dias. Remuneração e benefícios permaneceram inalterados. Após o teste, 92% decidiram manter o formato de trabalho.
Uma das razões foi o aumento da receita média em 35% em comparação ao período anterior e 90% dos funcionários disseram que gostariam de continuar trabalhando apenas quatro dias. Desses, 15% disseram que nenhum dinheiro é suficiente para que aceitem voltar ao expediente de cinco dias.
Na Bélgica, o teste foi aplicado no início de 2022. Os trabalhadores ganharam o direito de decidir se preferem a jornada de quatro ou cinco dias, com o mesmo salário. A jornada de trabalho belga é de 38 horas totais, mas o empregado pode trabalhar 45 horas numa semana e deduzir o tempo adicional na semana seguinte.
Já na Islândia, o experimento foi considerado o maior piloto do mundo, entre os anos de 2015 e 2019. A jornada foi reduzida de 40 horas para 35 ou 36 horas, sem corte salarial. Cerca de 2,5 mil pessoas participaram dos testes. Os resultados apontaram para maior ou igual produtividade.
Na Suécia, a semana de trabalho de quatro dias com expediente de 6 horas foi testada em 2015. Enquanto partidos de esquerda julgaram que a implementação da medida sairia cara, algumas empresas decidiram adotar a mudança, como a Toyota. Por lá, não houve consensualidade após o teste.
Na Espanha, o piloto é focado em pequenas e médias empresas industriais, onde de 25% a 30% dos funcionários trabalharão pelo menos 10% menos horas. O governo vai pagar uma espécie de subsídio pelos custos de consultoria, necessários para se adequar a uma nova jornada de trabalho.