Barbárie de Queimadas: estupro coletivo na Paraíba foi planejado por conhecidos das vítimas em 2012

Crime que chocou o Brasil foi relembrado em exibição do "Linha Direta", da TV Globo, na noite de quinta-feira (11)

O estupro coletivo planejado contra cinco mulheres na cidade de Queimadas, no interior da Paraíba, resultou na morte de duas delas e chocou todo o Brasil ainda em 2012. Na noite de quinta-feira (11), o programa "Linha Direta", da TV Globo, relembrou o caso por meio da reconstituição do crime, das investigações e depoimentos de familiares. 

Condenado a 108 anos de prisão, Eduardo dos Santos Pereira, mentor do crime, está foragido desde novembro de 2020. Na época, ele fugiu da Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes de João Pessoa pela porta lateral do local que dá acesso ao almoxarifado. 

Ao todo, dez homens foram envolvidos e condenados pelos crimes praticados na noite do dia 12 de fevereiro de 2012. Além do estupro coletivo, alguns deles também responderam pelo feminicídio de Izabella Pajuçara e Michele Domingos. Entretanto, apenas um segue em regime fechado.

Crime planejado

Com a exibição do "Linha Direta", o caso voltou a repercutir nas redes sociais, levantando questões sobre como os crimes ocorreram e como os envolvidos planejaram toda a ação.

A festa de aniversário que resultou no estupro das convidadas, além da morte de duas delas, foi planejada para o dia 11 de fevereiro, um sábado, em Queimadas. A ocasião seria para celebrar o aniversário de Luciano, irmão de Eduardo dos Santos Pereira, a quem seriam "oferecidas" as vítimas como uma espécie de "presente".

Ao todo, sete mulheres estavam presentes na casa durante o evento, além de nove homens e três adolescentes. Junto de Luciano, Eduardo teria se dirigido a um mercado para comprar cordas e lacres do tipo 'enforca-gato' no intuito de forçar as relações sexuais com as vítimas. 

Por volta da meia-noite, Eduardo e Luciano saíram da residência com os três adolescentes e mais cinco dos homens, retornaram encapuzados e forjaram um assalto durante a festa. Três deles ficaram com a função de desligar o sistema de energia da casa para que as vítimas fossem rendidas, amarradas e vendadas antes dos estupros.

Os outros dois homens presentes na casa não foram envolvidos no crime e as esposas deles estão entre as cinco abusadas. Outras duas mulheres, as esposas de Eduardo e Luciano, estavam no local e não foram alvos do estupro coletivo. 

Vítimas reconheceram

Segundo as investigações da Barbárie de Queimadas, Izabella, uma das mortas na ação, teria reconhecido Eduardo durante o ato sexual forçado ao se debater mesmo amarrada por cordas. Um dos suspeitos revelou que a vítima teria implorado para que os atos cessassem. "Tanto que eu fiz por você! Não faça isso não! Pare, minha mãe não aguenta isso não", gritou Izabella durante o crime.

Os abusos, então, teriam sido interrompidos. Michele Domingos também conseguiu identificar o responsável. As duas foram retiradas do local pelos homens, que levaram R$ 5 mil, e colocadas em um carro onde seriam, logo em seguida, assassinadas pelos autores da barbárie. 

Michele pulou do carro em movimento, mas recebeu quatro tiros, dois deles na cabeça, em frente à Igreja Matriz, no Centro de Queimadas. Izabella foi encontrada com uma meia dentro da boca e atingida por três disparos na estrada que liga Queimadas a Fagundes, ainda dentro do carro usado na fuga dos criminosos. 

Horas após o crime, o dono da festa, Luciano, chegou a dar queixa do assalto na delegacia. Entretanto, o depoimento e a situação em si levantou as suspeitas. O delegado regional, André Luis Rabelo de Vasconcelos, falou ao portal g1 da Paraíba na época questionando a ação do envolvido.

"Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?", perguntou na ocasião. Um dos suspeitos chegou até mesmo a comparecer ao velório de Izabella, onde foi preso. 

Trajetórias interrompidas

Além da crueldade empregada nos crimes, a história das vítimas que tiveram as trajetórias interrompidas também virou motivo de lamento entre os moradores da cidade e brasileiros que tomaram conhecimento do caso.

Izabella Pajuçara tinha 27 anos na época e seria empossada em um concurso público dias após a barbárie. Professora de química, ela havia sido aprovada em primeiro lugar na seleção e dividia a rotina entre estudos, trabalho lecionando, cuidados com a família e consigo mesma.

Enquanto isso, Michele Domingos era recepcionista e tinha 29 anos. Mais velha de seis irmãos, era considerada uma das âncoras da família, ajudava na educação dos irmãos e até mesmo financeiramente a mãe, Maria José Domingos. 

Condenações dos envolvidos

Eduardo dos Santos Pereira, considerado culpado por dois homicídios, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores e porte ilegal de arma, além dos cinco estupros, foi condenado a 108 anos de prisão. A fuga dele ocorreu em novembro de 2020.

Luciano dos Santos Pereira, irmão de Eduardo, foi condenado a 44 anos de prisão.

Jacó Sousa recebeu a sentença a 30 anos de reclusão, por estuprar duas mulheres e participar no abuso das outras três vítimas, mas foi assassinado quando recebeu direito à liberdade condicional e voltou à cidade do crime.

Fernando de França Silva Júnior, vulgo 'Papadinha', foi condenado a 30 anos de prisão.

Luan Barbosa Cassimiro deve cumprir 27 anos de reclusão.

José Jardel Sousa Araújo foi condenado a 27 anos.

Enquanto isso, Diego Rego Domingues foi liberado para cumprir a pena de 26 anos e seis meses no regime semiaberto, na Penitenciária de Segurança Média de Mangabeira, em João Pessoa.