Cuba sofre apagão total e deixa 10 milhões no escuro

A falta de combustível é o principal motivo do problema

Escrito por AFP/Diário do Nordeste ,
Cubanos conversam à noite em uma rua durante um apagão nacional causado por uma falha na rede em Havana
Legenda: Cubanos conversam à noite em uma rua durante um apagão nacional causado por uma falha na rede em Havana
Foto: Adalberto ROQUE / AFP

Um apagão atingiu todo o território de Cuba, após uma falha na maior usina do país, na sexta-feira (18). Segundo o governo, a ilha está em "emergência energética". As atividades das estatais foram suspensas e 10 milhões de pessoas estão no escuro.

"O sistema ficou sem energia em todo o país", após a inoperância imprevista da usina termoelétrica Antonio Guiteras, disse à TV estatal Lázaro Guerra, diretor-geral de Eletricidade do Ministério de Minas e Energia.

Presidente de Cuba em reunião com membros do setor de energia do país
Legenda: Presidente de Cuba em reunião com membros do setor de energia do país
Foto: Reprodução/Instagram

O governo anunciou na sexta, entre outras medidas, a paralisação das atividades de trabalho do setor estatal para enfrentar a crise, que nas últimas semanas deixou a população de várias províncias até 20 horas sem luz em um único dia.

Guerra informou que, quando a termoelétrica saiu de serviço, "o sistema colapsou, ou seja, está em zero total desde essa hora", e que o governo trabalha para restabelecer a energia o mais rápido possível.

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O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, participou durante a noite de uma reunião de supervisão, em que prometeu que "não haverá descanso" até o total restabelecimento do serviço. O colapso do sistema de energia “é mais uma demonstração de todos os problemas que o bloqueio nos causa”, afirmou.

Díaz-Canel ressaltou que o país não tem o combustível de que necessita: “Tudo acontece por causa das divisas que não temos devido à perseguição financeira, e do combustível que não temos por causa da perseguição energética".

População deixa casas por conta do calor

Na primeira noite totalmente às escuras em Havana, muitas famílias saíram às ruas para se refrescar. Autoridades locais informaram que apenas hospitais e fábricas de alimentos permaneceriam funcionando com geradores.

As aulas foram suspensas em todo o país até segunda-feira, e casas noturnas e locais de lazer permanecerão fechados em diversos pontos da capital Havana.

"Isso é uma aberração", disse à AFP Eloy Font, um aposentado de 80 anos que vive em Centro Havana. "Isso demonstra a fragilidade do nosso sistema elétrico [...] não há reserva, não há como manter este país, estamos vivendo dia após dia", lamentou.

Os cubanos sofrem há três meses com os apagões, que se tornaram cada vez mais prolongados e frequentes, com um déficit de cobertura nacional de até 30%. E nesta quinta chegou a 50%, irritando ainda mais a população.

"Faz dois dias que mal consegui trabalhar e agora isso, o que faço? É terrível viver assim, em 47 anos nunca vi nada pior", queixou-se Bárbara López, criadora de conteúdo digital.

"Agora sim, eles ferraram com tudo... sem luz e sem dados móveis", exclamou.

Falta de combustível 

Termoelétricas são responsáveis por energia em Cuba
Legenda: Termoelétricas são responsáveis por energia em Cuba
Foto: Reprodução/X

A energia elétrica na ilha é gerada por meio de oito termoelétricas antigas, que, em alguns casos, apresentam avarias ou estão em manutenção, além de sete plantas flutuantes — que o governo arrenda de empresas turcas — e grupos eletrogêneos (geradores).

Toda essa infraestrutura requer, em maioria, combustível para funcionar.

"Não é 'desafio', é ruína energética como componente do fracassado planejamento centralizado", disse na rede social X Pedro Monreal, um economista cubano que vive fora do país.

Cuba atravessa sua pior crise em três décadas, com falta de alimentos, remédios e apagões crônicos que limitam o desenvolvimento das atividades produtivas, além de uma inflação galopante nos últimos anos.

Os apagões foram um dos fatores desencadeadores das históricas manifestações de 11 de julho de 2021, que deixaram um morto, dezenas de feridos e centenas de detidos.

De acordo com a imprensa independente local, dezenas de pessoas se manifestaram no início da semana nas províncias de Sancti Spíritus (centro) e Holguín (nordeste) devido aos apagões prolongados.

Em 2023, a ilha se recuperou dos cortes de eletricidade diários que sofreu durante quase todo o ano de 2022.

O mais crítico ocorreu em outubro daquele ano, com um apagão generalizado na noite de 27 setembro, após a passagem do furacão Ian, que atingiu o oeste do país. 

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