O número de vítimas do terremoto de grandes proporções que abalou Turquia e Síria, na segunda-feira (6), segue crescendo. Na manhã desta quinta-feira (9), a tragédia ultrapassou os 17 mil mortos. As temperaturas abaixo de zero, registrados nos dois países, agravam a situação dos sobreviventes e dificultam o trabalho das equipes de resgate.
Mais de 72 horas após o tremor de terra, período com mais chances de encontrar sobreviventes, as autoridades temem um aumento dramático da quantidade de óbitos devido ao elevado número de pessoas que, segundo calculam, continuam presas nos escombros.
O abalo sísmico atingiu magnitude 7,8 na escala Richter — que se estende até o nível 9 —, sendo acompanhado por uma série de outros 50 terremotos menores, entre eles um de magnitude 7,5, que impactou a Turquia nove horas após o de maior proporção, quatro quilômetros a Sudeste de Ekinozu.
Os socorristas continuam encontrando sobreviventes entre os escombros, mas o balanço de mortes não para de aumentar. Os números mais recentes mostram 17.500 óbitos: 14.351 na Turquia e 3.162 na Síria.
Sobreviventes assistem vítimas morrerem sem resgate
Após o choque inicial, o descontentamento é crescente entre a população com a resposta das autoridades ao terremoto que, segundo admitiu o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, teve "deficiências".
Vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes bloqueados nos escombros até que suas vozes não fossem mais ouvidas.
"Meu sobrinho, minha cunhada e a irmã da minha cunhada estão nos escombros. Estão presos nas ruínas e não há sinais devida", afirmou Semire Coban à AFP, professora de uma creche na cidade turca de Hatay. "Não conseguimos chegar até eles. Tentamos falar com eles, mas não respondem", acrescentou.
Temperaturas de -5° graus e censura
Erdogan visitou na quarta-feira (8) duas áreas muito afetadas pelo tremor, a cidade de Kahramanmaras — epicentro do terremoto — e a região de Hatay, na fronteira com a Síria.
Claro, há deficiências. É impossível estar preparado para um desastre como este", disse.
Durante a visita do mandatário, a rede social Twitter ficou inacessível na Turquia por quase 12 horas, de acordo com correspondentes da AFP e a organização NetBlocks, que monitora a liberdade de acesso à internet. A polícia anunciou a detenção de 18 pessoas por publicações consideradas "provocações", quase todas críticas à resposta do governo.
O frio agrava a situação. Apesar da temperatura de -5 °C, milhares de famílias em Gaziantep passaram a noite em carros ou barracas, impossibilitadas de retornar para suas casas ou com medo de voltar para os imóveis. Os pais caminhavam pelas ruas da cidade do sudeste da Turquia com os filhos no colo, enrolados em cobertores, para tentar reduzir os efeitos do frio.
"Quando sentamos, dói. Tenho medo pelas pessoas presas nos escombros", disse Melek Halici, com a filha de dois anos coberta por uma manta.
A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para Síria e Turquia. "Estamos correndo contra o tempo para, juntos, salvar vidas", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. "Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como esta atinge uma população", completou.
Política e guerra agrava situação na Síria
A questão da ajuda é delicada na Síria, afetada por uma guerra civil de mais de 11 anos, com regiões sob controle dos rebeldes e um governo que possui inimizade do Ocidente.
Os Capacetes Brancos, que lideram os esforços de resgate nas zonas rebeldes, imploraram por ajuda. "Pedimos à comunidade internacional que assuma sua responsabilidade com as vítimas civis", declarou à AFP o porta-voz do grupo de voluntários, Mohammad al Chebli. "É uma verdadeira corrida contra o tempo, as pessoas morrem a cada segundo nos escombros", acrescentou.
O coordenador da Organização das Nações Unidas (ONU) na Síria também solicitou ao governo sírio que facilite a entrega de ajuda humanitária às áreas sob controle rebelde e alertou que as reservas de emergência devem acabar em breve. "Deixem a política de lado e nos permitam realizar nossa tarefa humanitária", disse à AFP El Mostafa Benlamlih.
Uma década de guerra civil e bombardeios aéreos da Síria e da Rússia destruíram hospitais, provocaram o colapso da economia e cortes diários de energia elétrica, combustíveis e do abastecimento de água.
O regime sírio de Bashar al Asad também pediu formalmente ajuda à União Europeia. A Comissão Europeia pediu aos países membros que respondam de maneira favorável aos pedidos de Damasco para o envio de alimentos e remédios, mas com vigilância para impedir o desvio de material.
A União Europeia enviou rapidamente equipes de emergência para a Turquia, que também recebeu ajuda dos Estados Unidos, da China e dos países do Golfo, mas inicialmente ofereceu assistência mínima à Síria devido às sanções contra o regime de Assad.