Sob a sombra de ameaça da China, Taiwan elege novo presidente

Atual vice-presidente, Lai Ching-te foi eleito para comandar o País pelos próximos anos

A população de Taiwan elegeu favorito Lai Ching-te como novo presidente do País neste sábado (13). O mandatário terá o desafio de manter o rumo da democracia frente às ameaças crescentes da China de pôr fim à autonomia da ilha.

Nas vésperas da votação, a China instou os taiwaneses a tomarem "a decisão correta" se querem evitar a guerra e descreveu o favorito e atual vice-presidente da ilha, Lai Ching-te, como um perigoso "separatista".

Com o pleito decidido, ele obteve 40,2% dos votos, segundo os resultados apurados em 98% das seções eleitorais. O presidente eleito prometeu defender a ilha das 'intimidações' de Pequim

"Estamos determinados a proteger Taiwan das intimidações e das ameaças contínuas da China", disse Lai em seu discurso de vitória, no qual também se comprometeu a manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan.

As quase 18 mil seções eleitorais distribuídas pelo território de 23 milhões de habitantes abriram às 8h local (ou 21h de sexta em Brasília).Três homens concorrem para ser o sucessor da presidente Tsai Ing-wen, cujo mandato iniciado em 2016 esteve marcado pela crescente pressão diplomática, econômica e militar de Pequim:

Além de Lai, do Partido Progressista Democrático (PDD) no poder, concorrem o ex-policial Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), defensor da manutenção do status quo com a China, e Ko Wen-je, líder do pequeno Partido Popular de Taiwan (PPT).

Taiwan e a China continental estão separadas de fato desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram as forças nacionalistas, que se refugiaram na ilha e impuseram uma autocracia que se transformou em democracia na década de 1990. 

A China nunca deixou de proclamar sua intenção de "reunificar" o país, se necessário à força. O Exército chinês prometeu hoje "esmagar" qualquer tentativa de "independência" de Taiwan, localizada a 180 km da sua costa.

Os resultados foram acompanhados de perto por Pequim e Washington - o principal aliado e fornecedor de armas para Taipé.

Vitória, mas sem maioria?

Os candidatos intensificaram suas campanhas na última semana: visitaram templos e mercados, realizaram comícios com dezenas de milhares de participantes e atenderam a imprensa internacional, que acompanha com atenção as eleições.

Na sexta-feira, os três partidos na disputa concluíram suas campanhas com atos em Taipé, que reuniram centenas de milhares de pessoas.

Lai, assim como a presidente em fim de mandato Tsai, de seu mesmo partido, considera a ilha um Estado independente "de fato" e se apresenta como defensor de seu estilo de vida democrático.

Seu principal adversário, Hou Yu-ih do Kuomintang, acusa Lai e seu partido PPD de contrariarem a China com suas posturas soberanistas e se mostra favorável de estreitar os laços com Pequim.

Além desses dois partidos que se alternaram no poder desde o início da democracia taiwanesa, o pequeno PPT abriu caminho se apresentando como uma "terceira via".

O KMT e o PPT tentaram unir forças frente ao PPD, mas a aliança naufragou pela falta de acordo sobre quem lideraria a candidatura presidencial.

Além de escolherem o presidente, os taiwaneses devem renovar o Parlamento. Embora a lei proíba a publicação de pesquisas nos dez dias anteriores à votação, os analistas apontam que Lai, de 64 anos, vencerá a presidência, mas seu partido pode perder a maioria na câmara de 113 assentos.

Território estratégico

A ilha é crucial para a economia mundial, tanto por sua posição estratégica entre o Mar do Sul da China e o Oceano Pacífico, quanto por sua indústria de ponta de semicondutores, componentes indispensáveis na fabricação de celulares, carros e até mísseis.

Nos últimos anos, a China aumentou a pressão militar sobre o território, lançando periodicamente exercícios de larga escala que suscitaram temores de uma eventual invasão.

Também intensificou sua campanha diplomática para isolar Taiwan, que agora é reconhecida oficialmente por apenas 13 Estados, depois que países como Honduras e Nicarágua romperam relações com Taipé para estabelecê-las com Pequim.

O status de Taiwan é um dos temas mais espinhosos da rivalidade entre China e Estados Unidos, que competem por influência nesta região estratégica.

Washington instou Pequim a não interferir nas eleições e a abster-se de exercer "mais pressão militar ou ações coercitivas" após os resultados.