Javier Milei foi eleito presidente da Argentina. Sergio Massa, candidato governista, reconheceu a derrota antes mesmo da divulgação oficial e cumprimentou o adversário ultraliberal.
Milei foi eleito com 55,9% dos votos, enquanto Sergio Massa ficou com 44%, segundo os resultados oficiais.
Economista ultraliberal, Milei chega ao poder com discurso radical antipolítica e pautas ultraliberais. Ele prometeu na campanha dolarizar a economia e fechar o Banco Central.
O principal desafio do país é a inflação astronômica. Em um ano, os preços subiram mais de 140%. Milei tem a proposta polêmica de dolarizar a economia e extinguir o Banco Central.
Impacto no Brasil
Para além da parceria comercial com o país vizinho — terceiro maior comprador de produtos brasileiros —, existe uma relação histórica entre as duas nações e uma importância estratégica da Argentina para a meta de fortalecimento do Brasil na política externa.
Cientista política pela Universidade de Buenos Aires, Geraldina Dana explica que, grande surpresa das primárias argentinas, o candidato de extrema-direita Javier Milei traz um discurso 'anarcocapitalista', se apresentando como um outsider da política, com foco em um discurso antipolítica.
"Em um contexto de uma alta inflação, ao redor de 100% anual, na Argentina atualmente, em um contexto de desvalorização da moeda, então de baixos salários em comparação ao resto do continente, e muita informalidade no mercado de trabalho, (...) essa figura capitalizou a frustração de uma população cuja economia não está no melhor momento possível", ressalta a estudiosa.
Ainda em outubro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) falou que era "natural" a preocupação do governo brasileiro quanto ao resultado da eleição argentina, principalmente quanto à eventual vitória de Javier Milei.
"Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um... Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação", disse Haddad.
Apesar de, no último debate presidencial, no dia 12 de novembro, ter afirmado que a relação comercial com o Brasil "é uma questão de mercado privado e o Estado não tem porque se meter", Milei disse, no dia 8 de novembro, que não se reuniria com o presidente Lula, a quem chamou de "comunista" e "corrupto".
Para o professor da UNB, Carlos Eduardo Vidigal, ao pensar em possíveis impactos na relação dos países caso a vitória seja de Milei, é preciso "descontar o que é bravata de campanha eleitoral".
"No período que coincidiu (o ex-presidente Jair) Bolsonaro e (o atual presidente argentino Alberto) Fernandez, com sinais políticos trocados, por mais que tenha ocorrido críticas de parte a parte, as relações diplomáticas e negociações econômicas, inclusive no Mercosul, continuaram a existir", exemplificou.
Para Vidigal, "as relações Brasil-Argentina vão seguir as mesmas dificuldades que tem tido nos últimos 20 anos". Entre os problemas, o enfraquecimento enfrentado pelo Mercosul, além de uma diminuição das exportações de produtos brasileiros pela Argentina — cenário provocado pela crise econômica vivida pelo país vizinho.
Apesar de concordar que "todo candidato costuma exagerar na dose do que vai fazer", para Gidon a dificuldade na relação política pode ser prejudicial para o comércio entre os países.
"Deixar os empresários tomarem as suas decisões não é muito factível, porque, especialmente investimentos estrangeiros, são dependentes de boa relação política, de quadro regulatório seguro e isso é uma liderança política que permite existir", explica.
A cientista política Geraldina Dana concorda. "A relação econômica e comercial é gerenciada por interesses, mas o relacionamento político entre estados é relevante para criar condições ótimas de negócios", reforça.
Ela cita como exemplos o fato de Milei já ter afirmado que não aceitaria fazer parte do BRICs, o que "seria uma oportunidade comercial, financeira e também política que a Argentina estaria deixando do lado".
Apesar disso, ela afirma que não acredita em uma mudança na relação da Argentina com o país que ainda é principal parceiro comercial do país.
"Mas essa relação pode ser melhor explorada ou pode ser despriorizada, e por isso também o resultado da eleição vai ser importante para as relações argentino-brasileiras do futuro", ressalta.
Lula se pronuncia
Após o resultado nas urnas, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, congratulou as instituições argentinas por meio do perfil no X (antigo Twiiter).
"A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica", escreveu.
Além disso, o chefe do Executivo brasileiro emitiu boas energias para o novo líder da nação vizinha. "Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos".