O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, mais uma vez, a prisão do jornalista australiano Julian Assange. Logo após a cerimônia de coroação do rei Charles 3º, em Londres, neste sábado (6), Lula afirmou que é "uma vergonha" a manutenção da prisão do jornalista. O fundador do WikiLeaks está preso numa unidade de segurança máxima em Belmarsh, na Inglaterra, desde 2019.
O presidente afirmou que seria importante "um movimento da imprensa mundial" na defesa do australiano, "não na defesa dele enquanto pessoa, mas na defesa da liberdade de denunciar". Lula afirmou ainda que já escreveu cartas para Assange e também escreveu artigos em defesa do australiano. As informações são da Agência Brasil.
"É uma vergonha que um jornalista que denunciou as falcatruas de um Estado contra os outros esteja preso, condenado a morrer na cadeia, e a gente não fazer nada para libertar", disse a jornalistas após participar da cerimônia de coroação.
Apesar de ter se reunido com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, na última sexta-feira (5), mesmo dia que desembarcou em Londres, Lula admitiu que acabou não tratando da questão. "Foi um assunto que eu esqueci de falar com ele", disse. Mas ressaltou que pretende ligar para Sunak assim que chegar ao Brasil para tratar do tema.
"Precisamos colocar nossas teorias na prática de vez em quando para que a gente possa poder continuar falando em liberdade de expressão", completou.
Quem é Julian Assange?
O jornalista Julian Assange é procurado pelos Estados Unidos devido a 18 acusações criminais, incluindo espionagem. A denúncia está relacionada aos vazamentos, em 2009 e 2010, de quase 500 mil documentos fornecidos por um ex-agente de segurança dos Estados Unidos.
O material tratava, principalmente, da atuação do governo norte-americano nos conflitos contra Afeganistão e Iraque. Toda a divulgação ocorreu por meio do WikiLeaks, do qual Assange é fundador. Uma das publicações de destaque ocorreu em 2019, quando foi divulgado vídeo de um ataque americano com helicópteros em Bagdá, capital iraquiana.
O ataque resultou em uma dúzia de mortes, dentre os quais dois funcionários da agência de notícia, Reuters.
Um vazamento atingiu diretamente o Brasil. Em 2015, documentos publicados no WikiLeaks - com informações confidenciais da Agência de Nacional de Segurança dos EUA - revelaram que, pelo menos, 29 telefones de integrantes ou ex-integrantes da gestão de Dilma Rousseff (PT) haviam sido grampeados pelo governo estadunidense.
O australiano foi preso, em 2010, na Grã-Bretanha por conta de mandato de prisão europeu acusações de crimes sexuais na Suécia, que ele nega. Na sequência, ele é solto após pagar fiança.
Com a extradição para a Suécia aprovada pela Justiça britânica, ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres, em agosto de 2012. Ele ficou como asilado político na embaixada equatoriana por 7 anos, até 2019. Por ter violado a medida de coação do Reino Unido ao se refugiar, ele foi condenado a 50 semanas de prisão.
Em junho de 2022, a então ministra britânica do Interior, Priti Patel, aprovou o pedido de extradição de Assange para os Estados Unidos. Contudo, até o momento, o jornalista não foi enviado ao país norte-americano para enfrentar o julgamento das acusações - das quais, se for considerado culpado, pode ter sentença de até 175 anos.