Ao menos 12 pessoas morreram, sendo duas delas crianças, e quase 3 mil ficaram feridas, nessa terça-feira (17), quando pagers usados por membros do Hezbollah, incluindo combatentes e médicos, explodiram simultaneamente em todo o território do Líbano. A ação foi atribuída pelo movimento islamista a um 'ataque cibernético israelense'.
Entre as vítimas falecidas está o filho de um deputado do Hezbollah, Ali Ammar, detalhou uma fonte próxima à agência AFP. No leste do país, uma menina de 10 anos morreu quando o parelho do seu pai explodiu, segundo relatou sua família e outra fonte próxima à poderosa organização apoiada pelo Irã.
O embaixador do Irã em Beirute, Mojtaba Amani, também ficou ferido no incidente, conforme informou a televisão estatal iraniana, acrescentando que o diplomata está fora de perigo.
Mas o que são pagers? Populares na década de 1990 e início dos anos 2000, esse tipo de aparelho foi criado em 1949, pelo engenheiro Alfred J. Gross. O pequeno dispositivo eletrônico portátil é projetado para receber e, em alguns casos, enviar mensagens curtas ou alertas.
Criados para caber no bolso, ele usa ondas de radiofrequência para se comunicar, dispersando, por exemplo, a necessidade de um cartão SIM ou do usuário está conectado a uma rede de internet.
“O pager é um dispositivo de comunicação móvel, que pode ser tanto unidireciona, quando só recebe mensagens de voz ou de texto, quanto bidirecional, que recebe e manda. Eles orientam a comunicação por meio da radiofrequência, ou seja, não tem conexão com a internet ou geolocalização”, explica o vice-presidente de Telecomunicações da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), Kim Rieffel, em entrevista à CNN.
Com o surgimento dos celulares, os pagers caíram em desuso. No entanto, por proporcionarem uma comunicação imediata, sem a necessidade de uso de uma rede de internet móvel ou wifi, ainda são usados por médicos, restaurantes, equipes de logísticas, funcionários de fábricas e depósitos, entre outros.
Combatentes do Hezbollah começaram a usar pagers acreditando que conseguiriam escapar do rastreamento israelense de suas localizações, informaram neste ano duas fontes familiarizadas com as operações do grupo à agência Reuters.
Pagers podem ter sido adulterados na fábrica
Os aparelhos envolvidos no ataque dessa terça-feira haviam sido encomendados à fabricante taiwanesa Gold Apollo, informou o jornal The New York Times, citando funcionários americanos "e de outros países". Eles foram manipulados por Israel antes de chegarem ao Líbano.
Uma fonte próxima do Hezbollah disse mais cedo à AFP que os pagers “que explodiram correspondem a um carregamento de mil dispositivos” que parecem ter sido “sabotados desde a origem". Segundo o The New York Times, foram encomendados cerca de 3 mil pagers, a maioria do modelo AP-924.
“Para Israel introduzir um detonador explosivo no novo lote, provavelmente precisou acessar a cadeia de abastecimento desses dispositivos”, disse a analista militar e de segurança Elijah Magnier, radicada em Bruxelas.
“A inteligência israelense se infiltrou no processo de produção, acrescentando um componente explosivo e um mecanismo de ativação remota aos pagers sem levantar suspeitas”, ressaltou a analista, levantando a possibilidade de que a terceira parte que vendeu os dispositivos possa ter sido uma “frente de inteligência” criada por Israel para esse fim.
Gold Apollo nega fabricação
Ainda à Reuters, a Gold Apollo informou que os dispositivos foram feitos pela BAC Consulting, sediada em Budapeste, na Hungria, acrescentando que apenas licenciou sua marca para a empresa e não estava envolvida na produção dos dispositivos.
"O produto não era nosso. Ele só tinha a nossa marca", disse o fundador e presidente da Gold Apollo, Hsu Ching-kuang, a repórteres nos escritórios da empresa na cidade de Nova Taipei, no norte de Taiwan, na quarta-feira (18).
A empresa disse em um comunicado que o modelo AR-924 foi produzido e vendido pela BAC.