Diário do Nordeste

Família de Jean Charles receberá indenização

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Redação producaodiario@svm.com.br
Valor não foi divulgado, mas, segundo jornal britânico, é de R$ 286 mil, um terço do que os advogados queriam

Londres. A família de Jean Charles de Menezes, o brasileiro morto a tiros por policiais que o confundiram com um homem-bomba, chegou a um acordo e encerrou o processo legal contra a polícia metropolitana inglesa, a Scotland Yard.

Segundo um comunicado divulgado ontem pelas duas partes, os familiares do brasileiro estão "satisfeitos" com o acordo, "que lhes permite deixar para trás o acontecimento e seguir adiante com suas vidas".

No Brasil, no entanto, a mãe de Jean Charles, Maria Otone de Menezes, declarou desconhecer o fim do processo. "Não estou sabendo de nada. Para mim, tudo está parado", afirmou.

Já o pai do brasileiro, Matozinhos Otone da Silva, afirmou que está cansado da luta por indenização. Ele conta que já pensou em desistir de receber reparação porque está "enjoado de tanto vai e vem". "O que nós não queríamos era perder nosso filho. Mas já perdemos, agora, esquentar mais a cabeça é bobagem", acredita.

O texto do comunicado, assinado durante as negociações que ambas as partes realizaram semana passada, não indicou qualquer valor. Mas o jornal britânico "Daily Mail" publicou ontem que a família receberá somente um terço das 300 mil libras (R$ 858 mil) que seus advogados sugeriram que pedisse de indenização. "O pagamento final pode ser de 100 mil libras (R$ 286 mil)", publicou o jornal, destacando ainda que a quantia está submetida a uma cláusula confidencial.

Segundo o "Daily Mail", a indenização será reduzida porque "a família Menezes é pobre e não podia esperar muito apoio financeiro do eletricista". Também pesa o fato de que Jean Charles não era casado nem tinha filhos.

Além de representar apenas um terço do que os advogados da família deram a entender há alguns meses que solicitariam, correspondem a 25% das 400 mil libras (R$ 1,1 milhão) recebidas pelo chefe de polícia de Londres na época, Ian Blair, após sua demissão no fim de 2008, de acordo com o mesmo jornal britânico.

Até hoje, a família de Jean Charles recebeu apenas 15 mil dólares da polícia britânica para pagar os custos do traslado do corpo e do funeral em sua cidade natal de Gonzaga, no estado de Minas Gerais.

Jean Charles de Menezes, 27 anos, recebeu sete tiros na cabeça de policiais que o confundiram com um terrorista na estação de metrô de Stockwell em 22 de julho de 2005. A operação aconteceu um dia depois de uma tentativa frustrada de repetir os ataques de 7 de julho, quando 52 pessoas morreram em atentados suicidas nos transportes públicos de Londres.

Apesar do júri que participou na investigação judicial do ano passado ter apontado várias falhas na atuação da polícia, entre elas, a falha em avisar Jean Charles verbalmente antes de atirar contra o brasileiro, não conseguiu avançar além de um veredicto inconcluso. A versão policial de que o brasileiro teria corrido contra os policiais também foi descartada. Mais de quatro anos após a tragédia, nenhum agente da Scotland Yard foi processado ou punido.

O julgamento de três meses ocorreu após uma investigação da IPCC (Comissão Independente de Queixas da Polícia) que custou 300 mil libras (R$ 859 mil) e um julgamento de custo estimado em 1 milhão de libras (R$ 2,8 milhões)

O atual chefe de polícia, Paul Stephenson, pediu uma vez mais desculpas à família por esta "trágica morte" reiterando "a inocência da vítima",segundo o comunicado.