A empresária e maquiadora cearense Edlany Bezerra, de 27 anos, denunciou às autoridades dos Estados Unidos que o filho, uma criança de 6 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi agredido por uma professora numa escola pública de Boca Raton, no estado da Flórida.
Ao Diário do Nordeste, a brasileira, que reside no país estrangeiro há quatro meses, relatou que o garoto teria sido empurrado e atacado pela docente, no último dia 10 de outubro. Segundo ela, na ocasião, a Hammock Pointe Elementary School acionou a Polícia e afastou a profissional, que seria a especialista em cuidados de estudantes com autismo do local, mas não notificou a mãe sobre o caso.
O Departamento de Crianças e Famílias da Flórida (DCF, na sigla em inglês) informou, em nota enviada ao Diário do Nordeste, que está conduzindo "investigações sobre todas as alegações de abuso, negligência ou abandono" e que "as informações relativas às investigações são confidenciais, de acordo com a seção 39.202 dos estatutos da Flórida", diz o documento.
Edlany Bezerra desconfiou que algo de errado poderia ter acontecido após o menino retornar do colégio com um brinquedo. "Achei muito estranho, porque o meu filho não pode levar carrinho para escola, e ele, [de repente], ganhou um. A escola já queria comprar meu filho de alguma forma", relembra.
No dia seguinte, a cearense foi chamada para participar de uma reunião na instituição de ensino. No entanto, novamente não foi notificada sobre a situação. No encontro, que deveria ser uma reunião de rotina sobre a inclusão do garoto na escola, a quantidade de especialistas presente surpreendeu Edlany e reforçou a desconfiança de que algo estava errado.
No entanto, por não falar inglês e confiar na tradutora presente, que também seria uma brasileira, a mãe seguiu alheia à situação até receber um telefonema do colégio, após o encontro, em que um funcionário relatou, em espanhol — língua que a cearense não tem fluência —, que o aluno foi empurrado. A pessoa, porém, não detalhou para a mãe que a suspeita seria uma pessoa adulta.
Somente quando uma investigadora da polícia entrou em contato, dois dias depois, foi que empresária entendeu que o filho tinha sido agredido por uma professora.
Meu mundo parou. Fiquei totalmente anestesiada. Não conseguia nem falar nada. [...] Na minha cabeça, era uma criança que tinha empurrado meu filho. Nunca pensei na minha vida que meu filho tinha sido espancado na escola e ninguém tinha me dito nada."
Hematomas e mudança comportamental
Na ligação, a agente da Polícia ainda questionou se a garoto apresentava hematomas ou se a brasileira conhecia alguém da escola que não gostasse dele. Ao verificar o corpo da criança, Edlany Bezerra encontrou marcas roxas e entendeu a mudança comportamental que ela vinha apresentando.
Meu filho mudou, ficou oprimido, em pânico, ficou quieto. E a escola não me falou nada, em nenhum momento, do que tinha acontecido. As pessoas ao redor percebiam que ele estava muito agitado, e ele não é assim. Ele não queria que ninguém encostasse nele. Ele ficou muito reativo", detalha.
Ao conversar com o filho, que ainda não relatara a agressão, a mãe descobriu que a criança teria recebido golpes, em formato de punho, da professora e sido empurrada por ela na frente de outros colegas. Ainda segundo o garoto, outros estudantes também foram alvos da docente.
Investigação
Um dia depois da ligação da agente de segurança, a cearense procurou ajuda de conhecidos, outros brasileiros fluentes em inglês, que também moram no estado norte-americano. Ela levou o garoto a um médico e, na semana seguinte, com auxílio dos conterrâneos, registrou o caso no Departamento de Crianças e Famílias da Flórida.
Durante este período, o garoto continuava frequentando a instituição pública de ensino. Mas, ao tomar conhecimento que a professora retornara à sala de aula, Edlany Bezerra decidiu retirar o menino da escola.
"A escola não está nem aí, porque sou imigrante. Eles não demostram nem um pingo de empatia. [...] Não confio em deixar meu filho com uma pessoa dessa, é o mesmo que deixá-lo preso numa sala com um leão. Não dá não, o leão vai atacar uma hora ou outra."
O Diário do Nordeste entrou em contato nessa quarta-feira (25) com a Hammock Pointe Elementary School, mas, até a publicação deste material, não recebeu respostas sobre o caso.
Espero que a Justiça aja rápido. Puna a escola, puna a professora da melhor forma, para que nunca mais isso aconteça com outras crianças e que sirva de exemplo. Não é porque somos imigrantes que vamos ficar calados. Somos humanos, são nossos filhos, [...] eles têm que ser protegidos e amados, não maltratados."
Mãe se diz decepcionada
Antes da mudança, a empresária residia em Fortaleza e detalhou que nunca vivenciou nada parecido na capital cearense. A decisão de ir morar nos Estados Unidos foi motivada pela crença de que o país oferecia melhores condições de vida para a família. No entanto, após a situação, ela se diz decepcionada.
"É um sentimento de tristeza, de decepção, de revolta, porque a gente se sente incapaz, porque é imigrante, e eles realmente discriminam muito, tem até casos de xenofobia. Não é esse mar de rosas que a gente imagina".