Variante Delta é mais transmissível? Saiba tudo sobre esta cepa do coronavírus

Brasil já tem mais de 100 infecções pela variante confirmadas

O Brasil já registra mais de 100 pessoas infectadas pela variante Delta do coronavírus, das quais cinco morreram. Estudos indicam que a cepa é mais transmissível do que a versão "original" do vírus.  

Os primeiros casos de contaminação registrados no País aconteceram em maio. Os seis infectados faziam parte da tripulação do navio indiano MV Shandong da Zhi, que estava ancorado no litoral do Maranhão, informou o presidente do Conselho Nacional de Secretários das Saúdes (Conass), Carlos Lula, na época. Um dos tripulantes faleceu devido às complicações da doença.  

A variante Delta possui diversas mutações que auxiliam o vírus a se ligar mais facilmente às células das pessoas e escape de algumas reações imunológicas, conforme o epidemiologista clínico da Universidade Queen Mary, de Londres, Deepti Gurdasani.   

Por que é chamada de variante Delta?  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) determinou, em maio deste ano, que letras gregas fossem usadas para nomear as variantes da Covid-19.   

A ideia da entidade era ter nomes "fáceis de pronunciar e lembrar", além de evitar que a imprensa e o público usassem denominações que "estigmatizem e discriminem", disse em nota. Desde então, as quatro principais cepas do vírus receberam nomes diferentes:

Alpha
Variante: B.1.1.7
Primeira amostra: Reino Unido, setembro 2020
Data de designação: 18/12/2020 

Beta
Variante: B.1.35
Primeira amostra: África do Sul, maio de 2020 
Data de designação: 18/12/2020 

Gamma
Variante: P1.
Primeira amostra: Brasil, novembro de 2020
Data de designação: 11/1/2021

Delta
Variante: B.1.617.2
Primeira amostra: Índia, outubro de 2020
Data de designação: 4/4/2021* e 11/5/2021**

Fonte: OMS
*Variante de interesse
**Variante de preocupação 

Onde surgiu a variante Delta?  

Antes chamada de B.1.617.2, ela foi identificada pela primeira vez em outubro de 2020, no estado de Maharashtra, na Índia. Desde então se propagou pelo mundo.  

Segundo o mais recente boletim epidemiológico da OMS, ela já está presente em 111 países. Conforme o Estadão Conteúdo, a líder técnica da resposta à pandemia da entidade, Maria Van Kerkhove, ressaltou que esse número pode ser ainda maior, dada a limitação de fazer o sequenciamento do vírus em algumas nações.  

A variante Delta é mais transmissível?  

A cepa Delta do coronavírus possui maior capacidade de transmissão em comparação à original, informou a OMS. No entanto, estudos não indicam que a variante seja mais mortal ou cause casos mais graves da Covid-19.   

Um artigo publicado na revista científica Eurosurveillance, pesquisadores ligados à OMS e ao Imperial College London afirmam que a variante Delta foi a que teve o maior aumento na taxa de reprodução em relação ao coronavírus original. 

Enquanto a Alfa — B.1.1.7, responsável pelo primeiro surto no Reino Unido — teve aumento de 29% na transmissibilidade, os cientistas apontam que a Delta chegou a 97% de incremento em relação à versão original.  

Por causa dessa característica, a variante é classificada como "preocupante" pela OMS.  

Maior risco de reinfecção  

Em junho, um estudo publicado na revista científica Cell com participação da Fiocruz apontou que a variante Delta pode aumentar o risco de reinfecções.   

A pesquisa aponta que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas é menos potente contra esta variante viral. O soro de pessoas vacinadas também tem potência reduzida, mas os dados apontam que as vacinas continuam efetivas.  

Eficácia das vacinas  

Atualmente, no Brasil há cinco imunizantes contra a Covid-19 aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e usados no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em combate à doença - além de uma que teve a importação excepcional por alguns estados aprovada.

São elas:  

  • AstraZeneca; 
  • CoronaVac; 
  • Janssen;
  • Pfizer; 
  • Sputnik V (aprovada importação excepcional por alguns estados).  

Um estudo publicado na revista científica Nature informa que as vacinas Pfizer e AstraZeneca são eficazes contra a variante, mas apenas após a aplicação da segunda dose. Com apenas uma dose a eficácia é insuficiente.   

Segundo a Johnson & Johnson, o imunizante de dose única desenvolvido pelo seu braço farmacêutico Janssen é eficaz contra a variante Delta.  

Os desenvolvedores da Sputnik afirmaram que ela é cerca de 90% eficaz contra a cepa, percentual 2% abaixo em relação à versão original do vírus.   

Já a CoronaVac apresentou bons resultados contra a variante Delta em testes realizados em laboratório, informou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

Proteção após segunda dose  

Uma pesquisa publicada na revista científica Nature, no início de julho, indica que a variante Delta consegue sim escapar da ação de alguns anticorpos do organismo após infecção ou mesmo da vacinação contra a Covid-19.  

Conforme o documento, apenas uma dose de vacina Pfizer ou Astrazeneca é insuficiente ou nada eficiente contra a variante. Mas após a segunda dose, mais de 95% dos indivíduos neutralizaram a cepa.  

Diante dos estudos que indicam a necessidade de duas doses para uma proteção efetiva, alguns estados começaram a adiantar a aplicação da segunda dose de vacinas, incluindo Fortaleza, capital do Ceará.  

Sintomas da variante Delta  

A doença causada pela variante Delta é parecida com a gripe comum. Dor de garganta, dor de cabeça e coriza são os principais sintomas, segundo aponta estudo conduzido no Reino Unido. A cepa é a mais comum no território britânico.   

Indicações do serviço de saúde pública do país, o NHS, apontam que os sintomas clássicos da Covid-19 são a tosse, a febre, além da perda de olfato e paladar. Entretanto, desde maio deste ano, mostra o estudo, eles se tornaram menos comuns.  

Enquanto isso, o estudo também revela que, apesar de a febre ainda se manter entre os sintomas comuns, a nova variante tem semelhanças mais próximas com o resfriado.  

COMO SE PROTEGER    

Conforme a Fiocruz, as medidas de proteção funcionam para todas as variantes do vírus causador da Covid-19 identificadas até o momento. Ou seja, para proteger a si e aos outros, é preciso continuar a manter os seguintes cuidados:   

  • distanciamento físico; 
  • usar máscara reforçada; 
  • ter ambientes bem ventilados; 
  • evitar aglomerações; 
  • limpar as mãos e tossir/espirrar com cotovelo dobrado ou em lenço de papel.   

Aumentar a fabricação de vacinas e implementá-las o mais rápido e amplamente possível também é uma maneira de proteger as pessoas antes que sejam expostas ao vírus e ao risco de novas variantes.