Estudo descobre que mais de 50 animais 'mudos' se comunicam vocalmente

Espécias têm ancestral comum, que viveu há mais de 400 milhões de anos

Um estudo publicado nesta terça-feira (25) identificou que mais de 50 animais considerados mudos, incluindo tartarugas, na verdade, têm uma forma de expressão vocal.

O estudo divulgado no periódico científico Nature Communications identifica 53 espécies, em sua maioria de tartarugas, considerados mudos, mas que conseguem se expressar. A pesquisa questiona um ancestral comum dessas espécies, há mais de 400 milhões de anos. 

Entre os animais está o "lungfish" (peixe chamado dipnoico, com um pulmão além de suas brânquias) e as "cecílias", anfíbios em forma de verme. 

Tudo começou durante uma viagem de pesquisa sobre tartarugas na floresta amazônica brasileira, segundo o principal autor do estudo, o biólogo evolucionista Gabriel Jorgewich-Cohen. 

"Quando voltei para casa, decidi gravar meus próprios animais", incluindo uma tartaruga que tinha desde criança, chamada Homer. Para sua surpresa, Gabriel descobriu que Homer e outras de suas tartarugas emitiam sons vocais. Ele então começou a gravar outras espécies de tartarugas, às vezes com um hidrofone - um microfone que permite gravar debaixo d'água.

"Todas as espécies que gravei produziam sons (...) então nos perguntamos quantos outros animais considerados mudos produziam esses sons", explica Jorgewich-Cohen, pesquisador da Universidade de Zurique. 

A equipe também gravou os sons de uma espécie rara de réptil encontrada na Nova Zelândia, a tuatara. Todos esses animais produzem sons vocais estalando ou borbulhando, mesmo em repouso ou apenas algumas vezes ao dia, conforme o estudo.

Ancestral comum 

Os pesquisadores cruzaram as descobertas com dados sobre a história evolutiva da comunicação acústica de outras 1.800 espécies animais. 

O grupo usou uma técnica conhecida como reconstrução ancestral, que calcula a probabilidade de uma característica ser comum a várias espécies no passado. 

"Descobrimos que o ancestral comum desse grupo já produzia sons e se comunicava intencionalmente com a ajuda desses sons", apontou Gabriel.

Até agora, os cientistas acreditavam que os tetrápodes - animais de quatro patas, como as tartarugas - e os peixes pulmonados evoluíram separadamente em relação às formas de comunicação vocal. "Mas agora mostramos o contrário, eles vêm do mesmo lugar", explica. 

O ancestral comum viveu pelo menos 407 milhões de anos atrás, durante a era paleozoica, conforme o estudo.