Entenda as diferenças entre a Delta e as demais variantes do coronavírus

Infectologista detalha aspectos que diferenciam as cepas do agente causador da Covid-19

As variantes do coronavírus foram previstas por especialistas antes de serem conhecidas por letras gregas, como a Delta. Nesta terça-feira (31), a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) confirmou a primeira morte de paciente com essa cepa do vírus no Ceará.

Já no início da pandemia, variações vinham sendo acompanhadas por cientistas, dado que mutações já eram esperadas — a possibilidade de alterações é característica de qualquer ser vivo.

"É uma estratégia de sobrevivência", resume o infectologista Keny Colares, da Sesa. Ele frisa, todavia, que os vírus mutam e evoluem muito mais rápido que os demais seres, principalmente no caso de serem vírus de RNA, como o coronavírus.

"Na hora de fazer uma cópia dele mesmo, do genoma do vírus, ele acaba cometendo, nessas cópias, alguns erros, algumas mudanças, de forma que o vírus que sai é produzido de forma diferente daquele que entrou", diz, complementando que a nova "receita" pode ter mudanças até mesmo indiferentes.

Preocupação com cepas

No entanto, as cepas passaram a preocupar especialistas e sociedade quando novas características começaram a potencializar a capacidade de o coronavírus resistir aos anticorpos humanos e ser transmitido. De acordo com Keny Colares, isso ocorreu a partir de dezembro de 2020 com o surgimento da variante B.1.1.7, na Inglaterra.

Posteriormente, com problemas de nomenclaturas e até estigmas em razão dos locais de origem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades mudaram a classificação das variantes. Daí, elas passaram a ser organizadas em três categorias.

  • Em geral: são acompanhadas pelas autoridades de saúde;
  • De interesse: quando mostram alguma característica ou indício diferente, necessitando ser analisadas com maior atenção;
  • De preocupação: após a maior capacidade de causar problemas de saúde pública ser atestada pelos estudiosos.

 

Entre as propriedades que podem elevar os níveis de preocupação, estão a possibilidade de maior transmissão, agressividade de casos, potencial de se esquivar das defesas do organismo e oportunidade de atrapalhar diagnósticos.

Segundo Colares, as quatro investigadas no mundo — Alfa, Beta, Gama e Delta — foram agrupadas em "variantes de preocupação", posto que são "capazes de gerar mais problemas".

No entanto, apesar de estarem no mesmo grupo, há diferenças entre as variantes identificadas. De acordo com o médico, aspectos como o potencial de transmissibilidade, a replicação e a capacidade de driblar a proteção adquirida com a vacinação ou anticorpos de quem já teve Covid-19 são distintos entre os vírus.

Em razão disso, o infectologista diferencia a seguir as principais variantes identificadas no Ceará.

Variante Alfa

Detectada inicialmente na Inglaterra, a Alfa apresenta grande capacidade de transmissão, chegando a provocar novas infecções, sendo, até pouco tempo, a com maior capacidade nesse âmbito.

Dessa forma, segundo o especialista da Sesa, a cepa "praticamente dominou o cenário nos países onde circulou, por causa da capacidade de replicação". Além disso, motivou lockdowns na Inglaterra e em outras localidades.

A agressividade dela, por sua vez, não encontrou consenso entre especialistas. Contudo, essa variante não mostrou habilidade em driblar fatores de proteção, "principalmente os anticorpos que a gente produz para se proteger, seja com estímulo da vacina ou da própria doença", explica Keny Colares.

Variante Beta

Oriunda da África do Sul, a Beta possui características inversas à Alfa, tendo sido a que menos se espalhou pelo mundo. "Aparentemente, a transmissão dela não é tão boa", avalia o especialista, indicando que só mais recentemente o Brasil registrou o primeiro caso dela.

Entretanto, é a que mais mostrou capacidade de driblar os anticorpos produzidos pelo corpo, podendo infectar até mesmo uma pessoa vacinada.

Variante Gama

Surgida no Brasil, a Gama possui um pouco das duas características: "Ela é mais transmissível, mas nem tanto quanto a Alfa. Tem capacidade de contornar o sistema de defesa, mas não exatamente como a Beta", enfatiza o especialista.

Ele classifica a variante como intermediária. "Nem é a variante mais transmissível, nem a mais resistente aos nossos mecanismos de proteção", destaca, apontando que a quantidade de estudos em torno dessa cepa é menor, posto que o País tem dificuldades de pesquisá-la.

Variante Delta

A mais recente das variantes vem da Índia e é duas vezes mais transmissível que a cepa original do coronavírus e 50% a mais que a Alfa, antes tida como a mais transmissível.

Ela também tem capacidade de contornar nossos mecanismos de defesa, embora não chegue ao mesmo patamar da Beta nesse aspecto. Segundo Keny Colares, estudos indicam que a cepa pode aumentar em até mil vezes a quantidade de vírus nos indivíduos acometidos, podendo, aparentemente, infectar e se transmitir muito bem em pessoas já vacinadas.

"Isso explica, talvez, porque países como Israel, que já tem um alto nível de vacinação, estar tendo dificuldade de controlar, com grande número de casos e aumento no número de óbitos", sugere o especialista.

Apesar de ainda não haver muitos estudos em torno da Delta, a mutação merece mais atenção, já que "mostrou-se um problema por onde passou", adverte o médico.

Sintomas são parecidos

Por terem novas características, a preocupação com sintomas da Covid-19 aumentou. No entanto, em que pese a divergência entre as cepas do coronavírus, não é possível diferenciar muito os sintomas entre as formas. “Temos de continuar considerando os mesmos sintomas que a gente vinha considerando”, ressalta Keny Colares.

Conforme o infectologista, alguns estudos apontam que a variante Delta afeta menos o olfato, mas a maioria dos sintomas tem semelhanças. Dada a sua grande capacidade de transmissão, a cepa pode infectar até mesmo pessoas imunizadas, deixando-as, porém, com sintomas mais leves.

"Pessoas com sintomas gripais bem leves, ou até talvez aquele resfriado, podem estar com Covid-19. A pessoa pode estar parcialmente protegida pela vacina", pontua, alertando para a necessidade de investigação.

Keny Colares orienta que, em caso de sintoma, deve-se buscar assistência, fazer o exame de imediato e manter isolamento até a chegada do resultado — isso evitaria eventual transmissão para outras pessoas.

O médico também salienta a importância de todos aderirem à vacinação contra a doença, independentemente do tipo de imunizante. "As atuais vacinas contra Covid-19 são seguras e já foram testadas em milhares de pessoas. Algumas delas, em centenas de milhares de pessoas".