PF confirma acordo de delação premiada com piloto do PCC

Colaboração já auxiliou em pelo menos duas investigações da Polícia Federal contra a facção, em outros estados. Enquanto o Ministério Público do Ceará rebate a defesa do preso e sustenta que não firmou um outro acordo

Escrito por Messias Borges , messias
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Legenda: Informações do piloto Felipe Morais auxiliaram a PF a prender o ex-dono do helicóptero usado no duplo homicídio no CE

A Polícia Federal (PF) confirmou à Justiça ter realizado um acordo de delação premiada com o piloto Felipe Ramos Morais - acusado de participar dos assassinatos dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê do Mangue', e Fabiano Alves de Souza, o 'Paca', no Ceará. Em contrapartida, o Ministério Público do Ceará (MPCE) mantém a negativa de também ter celebrado acordo, ao contrário do que afirma a defesa do réu.

O acordo de delação com a PF foi confirmado em ofício, enviado pelo delegado federal Rafael Machado Caldeira ao juiz federal da 5ª Vara Criminal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, no dia 24 de julho deste ano, que foi anexado ao processo no último dia 22 de outubro. Segundo o documento, o piloto prestou informações que auxiliam a PF em outras investigações pelo País, sem relação direta com o duplo homicídio ocorrido em território cearense.

O delegado, hoje lotado na Superintendência Regional da Polícia Federal em Minas Gerais, relata no ofício que, na época em que atuava como coordenador da Força Tarefa de Combate às Facções Criminosas no Estado do Ceará (FT/CE), se reuniu na Superintendência Regional da PF no Ceará, nos dias 9 e 10 de julho de 2018, com o coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, promotor de Justiça Rinaldo Janja; com o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), delegado Harley Filho; com o integrante do Ministério Público Federal (MPF), procurador da República Samuel Arruda; com Felipe Morais; e com a advogada e mãe do preso, Mariza Ramos Morais.

De acordo com o ofício, "ficou claro que o réu colaborador possuía um vasto conhecimento a respeito de diversos crimes de competência da Justiça Federal, supostamente praticados por membros da facção criminosa intitulada Primeiro Comando da Capital". E, por isso, as autoridades dividiram o depoimento do piloto "em dois processos distintos de delação premiada, sendo um com o MPCE, relacionado exclusivamente aos fatos referentes ao duplo homicídio, e um segundo com a Polícia Federal, que abarcaria todos os demais fatos de conhecimento do réu".

As informações repassadas por Felipe já colaboraram com a PF na Operação Laços de Família, que investiga uma organização criminosa instalada na região da fronteira sul do Mato Grosso do Sul, que traz drogas do Paraguai e distribui pelo Brasil. Deflagrada em 2018, a Operação já apreendeu cerca de 30 toneladas de maconha, aeronaves, veículos de luxo, armas de fogo e outros bens. E também na Operação Rei do Crime, deflagrada no dia 30 de setembro deste ano para desarticular um braço financeiro do PCC, em São Paulo. Foram bloqueados R$ 730 milhões em contas bancárias, interditadas 73 empresas e presos 13 suspeitos - inclusive o ex-proprietário do helicóptero utilizado para matar 'Gegê' e 'Paca'.

Negativa

Já o MPCE voltou a garantir que não firmou acordo de colaboração premiada com Felipe Morais. Em manifestação emitida no último dia 17 de outubro, sete promotores de Justiça afirmam que as afirmações feitas pelo réu a esse respeito "são todas infundadas e sem provas, devendo de uma vez por todas serem extirpadas deste processo".

Felipe ingeriu água sanitária na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, no dia 18 de setembro deste ano, tendo que ser socorrido às pressas. O preso reivindicava que a Justiça homologasse o acordo de delação premiada com as autoridades cearenses.

A advogada Mariza Morais, que defende o piloto, sustenta o acordo. Em documento enviado à 1ª Vara da Comarca de Aquiraz, da Justiça do Ceará: "a prisão do réu serviu para forçar um acordo e obtenção de informações, trama engendrada pelo Ministério Público do CE, com o máximo de perversidade com o réu, que apenas queria responder ao processo em liberdade. O Colegiado de Aquiráz-CE teve conhecimento do acordo, pois esta patrona em posse de cópia do acordo esteve com o colegiado mostrando aos mesmos, que aguardavam a entrega oficial pelo MP".

'Gegê do Mangue' e 'Paca' foram executados a tiros em uma aldeia indígena, em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em 15 de fevereiro de 2018. Dez pessoas foram acusadas pelo crime, das quais cinco foram presas. A motivação do crime seria uma traição da dupla ao PCC.

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