"Em momento algum a delegada me chamou pra conversar", diz homem preso por engano no 27º DP

Tiago dos Santos Bezerra foi preso injustamente no lugar de Tiago dos Santos, homônimo, e sem outro sobrenome. Ele ficou quase 24 horas detido

Escrito por Cadu Freitas/Kilvia Muniz , seguranca@svm.com.br
Legenda: Tiago bezerra foi solto na tarde deste sábado (12), quase 24 horas após ser preso injustamente
Foto: Kilvia Muniz

Preso injustamente, o assistente administrativo Tiago dos Santos Bezerra, de 36 anos, disse que, enquanto estava sendo detido por um crime que não havia cometido, a delegada responsável pelo 27º DP (Henrique Jorge) não o atendeu ou averiguou seu caso antes de enviá-lo para a Delegacia de Capturas. Ele foi solto na tarde deste sábado (12), quase 24 horas após ir apresentar um Boletim de Ocorrência por furto bancário e ser confundido por um homônimo.

"Em momento algum a delegada me chamou para conversar, me ouvir. Por várias vezes, ela saiu da sala dela, me viu chorando do lado da minha esposa, desesperado, olhava para mim e nada falava", ressaltou o assistente administrativo.
 

Tiago Bezerra afirmou, durante a detenção, que nunca havia morado em Caucaia e trabalhava regularmente há mais de 8 anos em uma empresa. "Em toda a minha vida, entrei numa delegacia três vezes, inclusive na mesma delegacia pra registrar B.O. como vítima. Eu sou acusado de uma coisa que eu não fiz", disse.

O assistente administrativo ressaltou ainda que os responsáveis pela sua prisão não diziam qual era a acusação pela qual ele supostamente tinha sido condenado. "Isso jamais vai sair da minha mente. Perdi a confraternização da empresa, meus colegas por conta disso também perderam. Tô com medo de perder meu emprego por uma acusação que eu não tenho e tô com muita saudade da minha filha", disse, na saída da Delegacia de Capturas (Decap), após ser solto. 

A advogada de Tiago Bezerra, Mayara Lima, afirmou que irá entrar com uma ação indenizatória em face do Estado e fazer uma representação na Controladoria Geral de Disciplina (CGD) para apuração dos fatos.

"Espero que resolva minimamente o prejuízo psicológico que essa família teve. Poderia ter acontecido com qualquer ser humano", pontuou. 

Erros

De acordo com Lays Costa, integrante da Comissão de Estudos em Direito Penal da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará (OAB-CE), o que aconteceu não é comum, mas "é um fato tão ridículo que, ainda que aconteça por exceção, se existirem um ou dois casos semelhantes, não deveria acontecer de maneira alguma.". 

Por outro lado, ela pondera que isso ocorre normalmente por problemas no sistema de mandado de prisão, que é alimentado pelo Poder Judiciário. "Quando os dados não estão completos, (os policiais) tentam contato com a Vara para que ela consiga dizer se eles procedem. Só que se a Vara não responde, aí eles mantém a pessoa detida até comparar", explica.

Contudo, "independentemente de ter sido erro policial ou do sistema, é uma falha cometida pelo Estado, não importa, de qualquer forma, esse erro é oriundo do Estado, cabe ao Estado responder a isso", finalizou a integrante da OAB-CE.

Outro lado

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou, em nota, que determinou a imediata apuração do fato na seara administrativa disciplinar.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) esclareceu que um homem "foi detido por engano por ter o mesmo nome, assim como o mesmo nome da mãe, de um suspeito que tinha um mandado de prisão em aberto". Sem citar se abrirá procedimentos investigativos sobre os servidores da unidade, a Pasta se limitou a informar que "assim que as informações foram esclarecidas, um alvará de soltura foi expedido pela Comarca de Caucaia e o homem foi posto em liberdade".

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