Um ano da 'Chacina da Sapiranga': mãe de vítima esperava visita do filho quando soube do assassinato

Até o último dia 6 de dezembro, sete réus foram citados, mas não apresentaram defesa.

A madrugada do Natal de 2021 foi ressignificada para Maria Irismar de Holanda. A dona de casa esperava a visita do filho, John Lenon Holanda, 25, quando decidiu começar a procurá-lo na rua. Não demorou até que ela ouvisse os estampidos de tiros. A mulher já encontrou John morto, debruçado e com marcas de disparos de arma de fogo. Foram cinco homens assassinados e outros seis alvejados sobreviventes naquela noite, no episódio que ficou conhecido como 'Chacina da Sapiranga'.

Vinte e três pessoas foram denunciadas por envolvimento na matança. Ainda em janeiro deste ano, a Justiça do Ceará aceitou a acusação colocando os envolvidos na condição de réus. Desde então, a situação processual pouco mudou. Até o último dia 6 de dezembro, sete réus haviam sido citados, mas não apresentaram defesa preliminar. 

O caso integra o programa 'Tempo de Justiça'. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) alegou que o Colegiado de Juízes da 1ª Vara do Júri de Fortaleza "aguarda a manifestação de defesa dos demais para dar continuidade ao rito processual". Enquanto isso, Maria Irismar diz que entregou o caso "nas mãos de Deus".

"Ele vinha deixar um panetone pra mim, mas não apareceu. Fiquei na esquina e ouvi os papocos de bala. Corri e uma mulher me disse: balearam um bocado ali no campo, balearam o teu filho" (sic), lembra a mãe de John Lenon.

MASSACRE PLANEJADO

Naquela trágica noite, também morreram no 'Campo do Alecrim' e arredores: Ederlan Fausto, Mateus Ribeiro dos Santos e André Alexandre Rodrigues. Todos eles se reuniam para uma festa, quando foram surpreendidos por homens armados que disputavam território e já planejavam a matança.

"Ele era um menino bom, me ajudava muito. Quando me disseram que ele tava morto, saí correndo, fui até um beco e encontrei ele no chão. Sinto que Deus já vinha me preparando pra isso. Quando aconteceu, passei a mão no corpo dele e pedi ajuda a Deus" (sic)
Maria Irismar
Mãe de John Lenon

QUEM SÃO OS DENUNCIADOS:

  • João Ricardo Sousa da Silva, o 'Das Facas';

  • Raí Cesar Silva Araújo, o 'Jogador';

  • Francisco Wellington Bezerra da Silva, o 'Bombado';

  • André Soares Júnior, o 'Loirinho';

  • Eduardo José do Nascimento, o 'Carioca';

  • João Victor Aguiar de Sousa, o 'Tito';

  • Tiago Pereira Mendes, o 'Cara de Pizza';

  • Gabriel Sousa Freitas, o 'Biel';

  • Charles Dantas Oliveira ;

  • Israel Silva Ferreira;

  • Jeandson Nunes Bento dos Santos, o 'Toing';

  • Vinicius Rian Inácio da Silva, o 'VN';

  • Thiago Farias de Lima, o 'TH';

  • Alessandro Vieira da Silva, o 'Rato';

  • Mateus Acelino da Silva, o 'Malagueta;

  • Kevem Tyago Costa Pompeu, o 'Maluquinho';

  • José Ivan Alves da Silva Filho, o 'Filho';

  • Mateus Aguiar de Sousa;

  • Kaique de Sousa Domingos, o 'Neguinho';

  • Yuri Marques Bento, o 'Berre';

  • Miguel Sousa da Silva, o 'Miguelzinho';

  • Antônio Gabriel Sousa da Silva;

  • Nilson Lima Nogueira Filho

No último dia 15 de dezembro, juízes mantiveram a prisão preventiva dos acusados alegando motivos insuficientes para impor medidas cautelares diversas. A Polícia ainda identificou seis adolescentes supostamente também envolvidos na chacina.

CRIME PREMEDITADO

Para o MP, os crimes foram praticados por motivo torpe e com dinâmica que dificultou a defesa das vítimas, já que "estas foram surpreendidas por um ataque massivo com uma grande quantidade de executores fortemente armados".

Consta ainda no documento obtido pela reportagem do Diário do Nordeste que os acusados usaram meios que apresentaram perigo comum em área de recreação comunitária, em horário de grande concentração de pessoas.

A investigação aponta que Raí César e João Ricardo são lideranças do crime organizado na região e comandaram o ataque. Para o MP, a dupla está sujeita ao agravamento de penas por ter exercido comando coletivo no caso.

Um fuzil calibre 556 foi apreendido envolto em um saco de cebola, dentro de um matagal, no bairro Parque Manibura, na Capital. Denúncia anônima que dava conta de que a arma utilizada na Chacina levou a Polícia até o armamento.

A motivação da matança foi a disputa entre facções criminosas por território para o tráfico de drogas. As vítimas seriam pertencentes a uma facção de origem carioca, sendo Israel da Silva, o 'Rael', uma das principais lideranças na região. Já os suspeitos de cometerem os homicídios são de um grupo criminoso dissidente da facção carioca, que pretende tomar o domínio da região.