O motim de parte dos policiais militares do Ceará chegou ao ápice da violência. No fim da tarde de ontem, o senador licenciado e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, foi atingido por dois disparos de arma de fogo. Após tentar negociar com militares amotinados, Cid conduziu uma retroescavadeira tentando entrar em um quartel militar ocupado por homens mascarados, e foi alvejado. Os vidros do veículo estilhaçaram no momento do crime.
O protesto por parte dos servidores era filmado por testemunhas. Em um dos vídeos a que o Sistema Verdes Mares teve acesso é possível ver de onde partiram alguns disparos. Em meio aos policiais que protestavam, um homem, com capacete de motocicleta e vestindo camisa da cor preta, sacou a arma e atirou. Os projéteis que atingiram Cid Gomes são de pistola .40, arma de uso dos militares.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) informou que, minutos após o incidente, os PMs amotinados fugiram do quartel. Segundo a Pasta, o Núcleo de Homicídios da Delegacia Regional de Sobral da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) investiga o crime. O atentado, conforme a Secretaria, foi protagonizado por “homens encapuzados amotinados no 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM) em Sobral”.
Por nota, a Secretaria destacou que a Polícia Federal atua junto à Polícia Civil para elucidar o caso. “Uma equipe do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) da PF, composta por agentes, peritos e papiloscopistas, está se deslocando para o Município”, disseram na noite de ontem. A identidade dos suspeitos não foi revelada pelas autoridades.
A reportagem apurou que, ao saber do atentado contra o senador, o ministro Sérgio Moro saiu de uma cerimônia que acontecia no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Por nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública se posicionou sobre o caso, informando que analisa “as providências que podem ser tomadas” diante da situação com o senador. O Ministério ainda afirmou que “foram enviadas equipes das Polícias Federal e Rodoviária Federal para Sobral para garantir a segurança” de Cid.
Socorro
Conforme a assessoria do político, ele foi socorrido consciente. Segundo a assessoria da vítima, um projétil bateu na clavícula e saiu e o outro se alojou no pulmão esquerdo. De início, ele foi encaminhado para o Hospital do Coração de Sobral, onde a bala do pulmão foi drenada. Em seguida, o senador realizou tomografia na Santa Casa de Sobral e retornou para a Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital do Coração, onde fica em observação.
O boletim médico divulgado pelo Hospital do Coração às 19h40 informou que Cid deu entrada na unidade e, “após atendimento, segue apresentando boa evolução clínica. Seu quadro cardíaco e neurológico não apresenta alteração. Neste momento, o paciente encontra-se lúcido e respirando sem auxílio de aparelhos”.
O governador do Ceará, Camilo Santana, pronunciou-se sobre o caso, afirmando ser “inaceitável a extrema violência sofrida pelo senador Cid Gomes”. “Não mediremos esforços para restabelecer a ordem e garantir a paz da população cearense”, reforçou.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também se posicionou oficialmente acerca do atentado. Em nota pública, eles condenaram a escalada de violência ocorrida quando o senador foi atingido. O Fórum acrescentou ser “igualmente condenável que viaturas policiais circulem com agentes mascarados, aterrorizando a população e ordenando o fechamento de estabelecimentos comerciais. Por mais legítimas que sejam as demandas salariais dos profissionais de segurança pública, é inadmissível que maus policiais disseminem medo e pânico entre a população”.
Intervenção
Cid Gomes havia se deslocado para Sobral no início da tarde de ontem, na tentativa de conversar com os policiais e reverter a paralisação. Antes de embarcar, nas redes sociais, o ex-governador do Ceará disse estar “chocado ao ver cenas de quem devia dar segurança ao povo, estar promovendo a insegurança e desordem”. Segundo Cid Gomes, seu intuito era “definir coletivamente uma estratégia para dar paz à Cidade de Sobral”.
O político ainda havia recordado da paralisação protagonizada por policiais militares no Estado, ocorrida entre o fim de 2011 e início de 2012, época em que ele estava como chefe do Executivo Estadual: “Eu não consigo me conformar com isso. Uma atitude que já tive enquanto governador de apelar para as autoridades federais e esperar que as coisas se resolvessem”.
Caso repercute no meio político
Minutos depois de o episódio com o senador licenciado Cid Gomes (PDT) tomar proporções nacionais, diversas lideranças locais e nacionais se pronunciaram por meio de nota e das redes sociais. A classe política chegou a cogitar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa para tratar do assunto no Ceará.
Nas redes sociais, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), prestou solidariedade a Cid e ao governador Camilo Santana (PT) no enfrentamento a “criminosos motins” e repudiou o episódio. “Registro a minha total indignação com estes atos inaceitáveis de criminalidade que colocam a segurança de milhares de cearenses em situação de alto risco”, afirmou.
O pedetista também criticou o “uso politiqueiro” do episódio por um “pequeno grupo de milicianos oportunistas”.
Presidente do Legislativo Estadual, o deputado José Sarto (PDT) declarou, em nota, que a “tabela de reajuste apresentada (aos policiais) é fruto das reivindicações das categorias”. Sarto também prestou solidariedade ao ex-governador desejando “plena recuperação”.
Também em nota, o líder do Governo na Assembleia, o deputado Júlio César (Cidadania), afirmou que “a segurança de todos os cearenses deve estar sempre em primeiro lugar” e prestou solidariedade ao senador.
Presidente licenciado do PDT no Ceará, o deputado federal André Figueiredo condenou a ação que chamou de “atitude covarde, violenta e criminosa de alguns policiais militares, guiados pelo oportunismo eleitoral”. O senador Tasso Jereissati (PSDB), ex-aliado de Cid, prestou solidariedade ao colega. “Gostaria de expressar meu sentimento de profunda indignação e repúdio em relação ao episódio acontecido hoje em Sobral, ao mesmo tempo em que presto minha solidariedade ao senador Cid Gomes, vítima de uma violência inaceitável e criminosa”.
Colega de Parlamento de Cid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou os disparos como algo “grave”.
“Estamos atentos e preocupados com o ocorrido ao senador Cid Gomes. O que acontece em Sobral é grave. São inaceitáveis, em qualquer hipótese, atuações que empreguem o terror à população. Estamos aguardando mais informações e torcendo pela saúde de Cid”, publicou.
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que é oposição ao grupo do cearense em Brasília, criticou o uso de uma retroescavadeira no ato, mas disse que “esta situação em Sobral é inaceitável. Trata-se de um motim. Deve ser resolvida rapidamente e, se for necessário, com a intervenção do Ministério da Justiça”.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) publicou que “manifestação não é lugar de armas” e que “a Polícia tem armas exclusivamente para defender a vida”.
Já o deputado federal Domingos Neto (PSD) prestou solidariedade ao aliado. “As nossas orações estão com ele neste momento”.
O senador Major Olímpio (PSL-SP) publicou nas redes sociais que chegou a propor ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a criação de uma comissão para acompanhar a situação que envolve a segurança pública no Estado. “Conflitos com policiais, manifestações de rua, acionamento de forças federais, tudo para acabar em tragédia. Momento de negociação com calma e experiência”, disse.