O policial civil Antônio Alves Dourado, preso em flagrante por quatro homicídios, em Camocim, carrega no histórico de atuação na corporação uma lista de "problemas de relacionamento". Nesta segunda-feira (15), durante enterro de uma das vítimas, o secretário da Segurança Pública do Ceará, Samuel Elanio, e o delegado-geral da Polícia Civil do Estado, Márcio Gutiérrez, confirmaram que 'Dourado' vinha se envolvendo em discussões.
Conforme Márcio Gutiérrez, o suspeito "tinha problemas de relacionamento e já tinha sido transferido algumas vezes". Ele também já tinha "questões relacionadas ao descumprimento das determinações, o que está sendo apurado no inquérito policial", completa o delegado-geral.
Chegou à reportagem do Diário do Nordeste a informação que Antônio Alves Dourado, supostamente, dias antes da tragédia, chegou a ser dispensado pelo próprio delegado.
Sobre a suposta dispensa, o titular da SSPDS disse que: "existem informações de uma possível movimentação dele para outra locação. Para a Secretaria de Segurança Pública não tinha chegado nada ainda, tudo será apurado".
"Isso não tira o principal fator da investigação: que morreram quatro policiais. Qualquer coisa que venha por trás disso não tira a responsabilidade dele"
AMEAÇAS ANTERIORES
O delegado regional de Camocim, Adriano Vasconcelos, chegou a declarar à imprensa que andava de colete há vários dias após receber ameaças veladas do suspeito dos crimes. Segundo ele, o assassino tinha atitudes problemáticas.
As supostas ameaças do inspetor da Polícia Civil que matou quatro colegas em Camocim não foram informadas às chefias do delegado regional da área, de acordo com o secretário Samuel Elanio.
A Controladoria Geral de Disciplina do Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) também informou, por nota, que "não chegou ao conhecimento deste Órgão qualquer denúncia a respeito das informações apresentadas pelo delegado regional de Camocim (CE). No entanto, a CGD já determinou diligências para apurar os fatos narrados".
Ainda de acordo com o secretário, não havia alvo específico para a ação criminosa: "nenhum dos quatro colegas tinha problema maior com o autor do crime. Ele queria algo que chamasse a atenção. Qualquer um que estivesse naquela situação seria vítima dele".
Agora, além das famílias das vítimas, todos os policiais que atuam em Camocim recebem auxílio psicológico, conforme a SSPDS.
COMO O CRIME ACONTECEU
A Polícia Civil do Ceará refez o passo a passo de como o inspetor Antônio Alves Dourado entrou na Delegacia Regional de Camocim e matou as vítimas.
O policial suspeito de cometer os homicídios estava de folga. Mesmo assim, por volta de 4h30, Dourado foi à Delegacia onde trabalhava. Entrou pelos fundos do prédio, após estacionar uma motocicleta e pulou o muro para invadir a Unidade.
Pelo menos três das quatro vítimas estavam dormindo, após terminarem de realizar um flagrante pouco tempo antes, segundo o Relatório de Local de Crime elaborado pela Delegacia Regional de Sobral.
Dourado tinha as chaves da Delegacia Regional de Camocim.
Os escrivães Antônio José Rodrigues Miranda e Francisco dos Santos Pereira (conhecido como 'Chicão') e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira foram assassinados no dormitório da Unidade.
Os corpos de Miranda e Gabriel foram encontrados dentro de redes. Já 'Chicão' estava sentado, encostado em uma parede.
A quarta vítima tentou fugir do criminoso. O escrivão Cláudio pulou do primeiro andar, quebrou o braço, foi perseguido pelo inspetor e morto pelas costas. O autor dos disparos deixou a sua motocicleta nos fundos da delegacia e fugiu em uma viatura da Polícia Civil, em seguida.