Policial suspeito de facilitar entrada de celulares em presídio no CE chora em audiência e nega crime

O servidor público garantiu que nunca tinha sido preso, nem respondia a processo administrativo. A Polícia apreendeu um carro de luxo e R$ 45 mil em espécie que seriam do policial

O policial penal José Ramony Emanuel de Melo Costa, preso na última quinta-feira (31) por suspeita de liderar um esquema de venda de celulares em presídios no Ceará, chorou em audiência de custódia, realizada pela Justiça Estadual na sexta (1º), e negou cometer o crime e integrar uma facção criminosa.

"Eu sempre combati o crime. Eu não tenho vínculo com associação criminosa. Eu tenho fé em Deus que, quando eu sair daqui, eu vou provar e vou derrubar as pessoas que eu tava quase pegando. eu levantei mais de 10 nomes, passei para a Inteligência. Todas as informações que eu recebi eu passava para a Inteligência... de um bebedouro com celulares que entrou, de uma máquina de costura que ia entrar, eu avisei para o secretário", alegou José Ramony, emocionado.

Ao ser questionado sobre o seu histórico, o policial penal garantiu que nunca tinha sido preso, nem respondia a processo administrativo. "Eu sempre fui uma pessoa exemplar no trabalho. Eu ajudei na inauguração da Segurança Máxima, fui chefe de equipe. Sempre fui uma pessoa muito responsável, muito íntegra. Depois, eu me tornei chefe de Segurança e Disciplina. Depois, eu me tornei diretor adjunto da Segurança Máxima. Fui diretor da Itaitinga II. E hoje, estou na Coeap (Coordenadoria Especial de Administração Prisional), fazendo missões diversas", elencou o policial.

Veja trechos da audiência:

José Ramony foi detido no local de trabalho, por força de um mandado de prisão temporária, que foi convertida em prisão preventiva. O suspeito alegou que "não foi pego com nenhum ilícito" na ocasião. 

Entretanto, na sequência da investigação, a Polícia apreendeu um carro de luxo da marca BMW, 10 chips, 6 aparelhos celulares, quase R$ 45 mil em espécie, 63 munições, carregadores e fones de ouvido. "Eu tinha acabado de comprar um celular novo para mim, que eu ia trocar. Inclusive, no dia que eu fui preso, eu ia fazer o backup e a troca do aparelho. Então o meu celular de uso foi apreendido. Esse dinheiro, eu ia destinar para pagar o conserto do meu carro, que tá com vazamento de óleo", alegou Ramony. 

"Essa quantidade de celular, nenhum estava comigo. Eu não peguei esses celulares. Fizeram uma vistoria em duas unidades, pegaram esses celulares e colocaram na reportagem como se fossem meus. Eu não sou criminoso, eu não sou bandido", completou.

Sobre a vida de luxo que Ramony era suspeito de ter, com dinheiro oriundo de corrupção, o policial penal afirmou que não entende "o sensacionalismo da mídia de falar que eu tinha uma vida de luxo. Passei um ano para pagar uma passagem".

[Atualização: 07/11/2024, às 9h31] Dois dias depois da publicação da matéria, a defesa do policial penal José Ramony Emanuel de Melo Costa, representada pelo advogado Kaio Castro, afirmou que "o procedimento tramita em sigilo e ainda falta acesso à íntegra do inquérito policial. Os fatos serão esclarecidos e a sua inocência será comprovada no momento oportuno".

Investigação contra o policial penal

O policial penal José Ramony Emanuel de Melo Costa, preso nessa quinta-feira (31) sob suspeita de liderar um esquema de venda de celulares em presídios no Ceará, estaria ajudando membros do Comando Vermelho (CV) a ordenarem crimes de dentro das unidades prisionais, conforme a investigação. A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a um relatório da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) com detalhes de como funcionava o esquema.

Consta na investigação que em uma das negociações para a entrada ilegal de aparelhos em presídios, o policial recebeu R$ 35 mil em troca de três aparelhos, uma média de R$ 12 mil por cada. De acordo com o relatório, todos os internos identificados como 'compradores' de Ramony são integrantes ou simpatizantes da facção carioca CV.

Está ainda sob investigação a informação de que "os celulares introduzidos por Ramony e que tiveram como destino o interno de alcunha 'Das Cachorras' foram um meio para concretizar, ao menos, dois homicídios no exterior da Unidade Prisional, o que reforça a gravidade das condutas aqui investigadas", diz trecho do documento.

A rotina de luxo levada por Ramony e exibida nas redes sociais junto à mudança de comportamento de internos na Unidade Prisional de Pacatuba levou outros agentes a "desconfiarem do colega de farda". No último mês de outubro, um grupo de policiais penais apresentou na Delegacia de Assuntos Internos (DAI) seis aparelhos apreendidos na unidade de Pacatuba, no dia anterior.

"Vale ainda ressaltar que, após a deflagração da Operação que culminou com as apreensões acima e com a prisão de Ramony, a SAP iniciou uma ampla vistoria na UPECT, local atual de trabalho do investigado. Durante esse procedimento, foram encontrados em celas da Unidade 6 aparelhos celulares, todos danificados, 11 chips, 6 fones de ouvido e 3 bases de carregador de celular, materiais esses potencialmente introduzidos por Ramony"
Relatório da DAI

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) disse ter determinado a instauração de processo disciplinar "para devida apuração do fato na seara administrativa". 

Por nota, a Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) destaca "que apoia de forma integral e transparente o trabalho da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública. Por fim, a SAP reafirma o seu compromisso ininterrupto de combate ao crime".